A Bússola de Ouro

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No mundo do jornalismo cinematográfico, só uma coisa é pior do que uma cabine à tarde: uma cabine à tarde que começa atrasada. Esse foi o caso de A Bússola de Ouro, marcada para as 14h30min e que só foi começar depois das 15.

Estava com as expectativas um tanto altas para este filme, tanto que esperei a cabine passar para escrever meu texto de cinco melhores de 2007 que vai sair no comecinho do ano que vem. E parece que não sou só eu, já que a Playarte inteira parecia bem esperançosa em relação a ele. Tivemos até um discurso da presidenta da empresa antes da sessão começar, sem falar em um presskit caprichado, que traz o tradicional CD de imagens em uma caixinha deveras bonitinha.

As minhas expectativas, é claro, estavam altas apenas por eu, como 90% dos nerds, ser um fã de histórias de fantasia. Contudo, admito que conhecia o livro de Philip Pullman apenas pelo nome (o legal é que eu ganhei o dito-cujo na cabine e agora terei uma oportunidade de lê-lo) e sabia pouco, para não dizer nada, da história.

Depois da sessão, sinto que ainda sei bem pouco da dita-cuja. O que sei é que estamos em um mundo paralelo ao nosso, onde as almas das pessoas assumem formas de animais e andam lado a lado com os indivíduos (o que, aliás, achei bem legal – repare que o bicho representa a personalidade do personagem). Nessa terra mágica, algumas crianças começam a sumir. Cabe à protagonista moleca salvar o dia. No caminho, ela vai conhecer um monte de gente, incluindo um urso deveras simpático e que tem a voz do Magneto.

Existem duas maneiras de se analisar esse filme: simplesmente como uma obra cinematográfica ou levando também em conta o fator diversão para um jovem cronologicamente adulto (onde me encaixo, já que só sou adulto mesmo na idade).

No primeiro aspecto, ele é excelente. É visualmente lindo, com uma trilha sonora empolgante e belíssimos efeitos especiais (inclusive o clima geral lembra bastante os dois primeiros – e melhores – Harry Potter). A Bússola de Ouro, nesse aspecto, não deixa nada a dever a obras do porte de O Senhor dos Anéis e pode realmente ser considerado uma conquista para a indústria cinematográfica. Sabe aquele filme que parece ter sido feito não apenas com uma verba bombada, mas também com carinho, mais ou menos como é possível sentir no primeiro Homem-Aranha? É por aí.

Por outro lado, o elenco de peso é assaz mal aproveitado. Craig, Daniel Craig quase não aparece e Christopher Lee dá as caras apenas por alguns segundos. Sobra para a voz de Ian McKellen e para uma versão malvada e deveras apetitosa da Nicole Kidman a missão de segurarem um elenco basicamente infantil nas costas. Não que as crianças mandem mal, mas é estranho terem investido tanto em nomes conhecidos para não o aproveitarem direito, pelo menos nessa primeira parte.

Analisando pelo fator diversão, a coisa é mais complicada. A Bússola de Ouro é uma fantasia infantil, assim como As Crônicas de Nárnia. Eu realmente consigo perceber o potencial que ele tem com os pequerruchos. Na verdade, eu percebo tanto isso que o indico para crianças com todas as forças e, inclusive, se tivesse rebentos, os levaria ao cinema para assistir. A história é bem complexa (sobretudo se comparada ao filme infantil médio com lição de amizade no final do segundo ato) e isso é positivo.

Além disso, imagino que os infantes dos anos 2000 podem desenvolver o mesmo carinho pela relação entre a moleca e seu urso que as dos anos 80, onde me incluo, tiveram pela amizade entre Atreyu e Falkor.

Ainda assim, senti falta de algo. Sei lá, alguma coisa na história de A Bússola de Ouro não me apeteceu. Não que eu não tenha gostado do filme, mas me vi, em vários momentos, bocejando e um tanto entediado. Para piorar tudo, como se trata de uma trilogia, o final vai naquela escola A Sociedade do Anel e deixa o público que não conhece a história com aquela desconfortável sensação de “nada foi resolvido”.

Estou tentando escolher bem as palavras, pois esse é um longa que tem minha simpatia e eu realmente acho que ele vai fazer miséria nos corações das nossas crianças. Contudo, ele não me tocou como deveria – e isso me deixa meio cabreiro, afinal, costumo gostar muito de filmes de criança e/ou de fantasia.

Não sei se é um problema do filme, do roteiro ou da história original, mas definitivamente essa não é daquelas obras que vou querer conferir inúmeras vezes no futuro. Ainda assim, recomendo que nerds do Brasil inteiro o assistam, de preferência com seus pequerruchos. E me ajudem a tentar perceber exatamente o que faltou aqui. Quem sabe quando a trilogia estiver completa, a obra como um todo não ganhe mais brilho? Com O Senhor dos Anéis, pelo menos, foi assim.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
a-bussola-de-ouroPaís: EUA<br> Ano: 2007<br> Gênero: Fantasia<br> Roteiro: Chris Weitz, baseado em livro de Philip Pullman<br> Produtor: Bill Carraro e Deborah Forte<br> Diretor: Chris Weitz<br> Distribuidor: Playarte<br>