Black Paradox é um jogo de navinha 2D que lembra muito o clássico R-Type. Ele tem duas diferenças. A primeira é que sua navinha é um Delorean. Não é que ela parece um Delorean. Ela é literalmente uma recriação do carro voador do filme De Volta Para o Futuro.
A segunda característica é que Black Paradox é um roguelike. E este é exatamente seu principal problema.
BLACK PARADOX
A primeira impressão de Black Paradox não poderia ser melhor. Você sabe que eu não sou exatamente um grande fã de jogos modernos pixelados e com chiptunes, mas este consegue usar estas duas técnicas de forma tão eficiente que parece um dos mais belos fliperamas lançados nos anos 80. Saca só.
As músicas completam o visual. Temos aqui as melhores chiptunes de 2019, e digo isso com segurança mesmo estando ainda no primeiro semestre. Elas têm uma pegada rock que me lembrou, veja só, Rock’n’Roll Racing, só que aqui são rocks em chiptunes compostas especialmente para o jogo. Elas têm uma pegada alegre e pegajosa que, complementadas pelos gráficos charmosos e seus bons efeitos sonoros, tornam o gameplay delicioso.
MAS DAÍ VEM O FATOR ROGUELIKE
A campanha de Black Paradox, que pode ser jogada solo ou em coop local, tem sete fases. Cenários, músicas e posicionamento dos inimigos são aleatórios. Os chefes não. Estes vêm em uma ordem pré-estabelecida.
O objetivo é vencer os sete chefes, mas você tem apenas uma vida. Morreu, tem que matar todos de novo.
As fases são curtas, cerca de dois minutos cada uma, o que significa que uma partida vitoriosa do começo ao fim levaria cerca de 30 minutos. Porém, ao invés de eu passar 30 minutos empolgantes com ele, o que o colocaria pau a pau com meus arcades preferidos, passei algumas horas de frustração. Eu literalmente não aguentava mais lutar contra o primeiro chefe depois de algumas dúzias de tentativas. E em algumas horas de jogo, eu consegui chegar apenas à terceira fase.
Se os chefes tivessem ordens aleatórias ajudaria nesta frustração, pois eu teria visto mais da obra. Jogos antigos do gênero, como o próprio R-Type, eram difíceis, mas sempre tinham um número plural de vidas e de continues. Black Paradox é bem mais fácil do que R-Type, mas como um movimento errado pode te custar a partida e exigir um reinício total, ele se torna bem mais frustrante.
UPGRADES PERMANENTES
Roguelikes costumam ter sistemas de upgrades permanentes. Mas este é um aspecto no qual Black Paradox falha bastante. Em uma partida, você dificilmente ganha mais de mil créditos, e o upgrade mais barato custa exatamente este valor, com alguns passando dos 15 mil.
Suas ajudas também são basicamente simbólicas. Coisas como recuperar 2% da sua vida por minuto. Ora, como uma partida costuma durar menos de cinco minutos, dá para perceber que isso não faz muita diferença. Se pelo menos tudo que você comprasse fosse equipado permanentemente, você podia acumular vários destes pequenos upgrades para que eles se tornassem úteis. Mas não, a princípio você pode escolher apenas dois por vez. O máximo de slots é quatro, mas liberar o terceiro custa 10 mil – e lembre-se, cada partida rende entre 500 e mil créditos.
Os roguelikes que estão na moda hoje, como Dead Cells, costumam dar novos upgrades a cada tentativa, possibilitando que cada nova jogada fique mais fácil do que a anterior. Com seus upgrades caríssimos e limitados, Black Paradox está bem mais próximo de um R-Type do que de um roguelike tradicional, no sentido de que a dificuldade é mais ou menos estática. Isso se R-Type tivesse apenas uma vida, claro.
RESPEITE MEU TEMPO
É aquele caso que eu sempre falo do respeito ao tempo do jogador. Black Paradox tem um gameplay aprazível o suficiente para ter uma excelente campanha de 30 minutos. E boa parte dos meus jogos preferidos, como os arcades das Tartarugas Ninja e Sunset Riders duram mais ou menos isso. Ao tentar transformar uma experiência saborosa de 30 minutos em algo que dura horas, Black Paradox deixa de ser um jogo legal para ser simplesmente frustrante.
Por causa de seu funcionamento, e suas partidas rápidas, este é um jogo que eu recomendo especialmente para quem puder jogá-lo no Switch. Quer jogar alguma coisa no banheiro? Poucos jogos são mais recomendados do que um cujas partidas duram poucos minutos.
Black Paradox é melhor aproveitado caso você o jogue uma ou duas vezes por dia e passe para outra coisa. Mas espero que você goste muito do primeiro chefe, pois vai lutar contra ele dúzias de vezes.