Nas minhas primeiras horas com State of Decay 2, um grupo de sobreviventes pediu para que a minha comunidade dividisse recursos com eles. Eu estava ocupado, longe da minha base fazendo outras coisas. Pretendia atender quando voltasse. Eles não quiseram esperar. Minutos depois do primeiro contato, um colega me chama pelo rádio com uma má notícia. Os sobreviventes nos roubaram.

Minha personagem ficou realmente pê da vida. “Se vamos reconstruir a sociedade, não podemos deixar barato. Eles precisam saber que não vamos tolerar roubos”. Eu tinha a opção de deixar quieto, e meus coleguinhas queriam que eu fizesse isso. Mas eu resolvi entrar na personagem e ir lá conversar com os ladrões.

State of Decay 2, Delfos

Cheguei numa boa. “Ei, vocês pegaram nossa comida. Isso não é legal, cara”. “Você é o quê? A xerife do fim do mundo?”, o sujeito respondeu. Ao que retruquei: “Se precisar, eu serei. Devolva as coisas que você pegou, e a gente esquece que isso aconteceu”. Sem demora, o NPC joga uma bolsa no chão e fala “claro, pega aí”.

“Puxa, isso foi fácil”, pensei com meus botões. “Fácil demais”, disseram as sempre presentes vozes da minha cabeça. Peguei a sacola. Imediatamente, o ladrãozinho desgraçado tirou do bolso uma arma de fogo e, junto com seus dois amigos, me atacou. Sem querer querendo, estava numa briga até a morte.

State of Decay 2, Delfos
Nunca recuar é meu lema!

Eu estava com um companheiro da minha comunidade, e nós dois começamos a lutar pelas nossas vidas. Matamos dois sem grandes problemas. Sobrou um. Este último matou meu amigo. Eu o matei. Popou uma conquista, me recompensando por meu primeiro sobrevivente que… uhn… falhou em sobreviver.

Esta história resume bem State of Decay 2.

STATE OF DECAY 2

Aqui é tudo permanente. O jogo salva a todo momento, então nunca tem volta. Cada sobrevivente da sua comunidade é um personagem único. Não interessa quão upado ou bem equipado ele esteja. Uma emboscada pode tirá-lo do seu jogo permanentemente. Você até pode voltar até o local da morte e pegar as coisas do presunto, mas ele continua morto. Ou melhor, ele vai virar um zumbi, e tentar matar seu novo sobrevivente também.

É importante, também, gerenciar a sua comunidade. Seus recursos, encontrados explorando o mundo, são limitados, e você deve decidir no que investí-los. E o jogo é implacável como a vida real. Pouco tempo depois de formar minha base, todos meus sobreviventes estavam deprimidos. Eu estava com pouca comida, poucos medicamentos e poucas armas. Nem a criação de um jardim para gerar comida ajudou muito, pois ele quebrava literalmente todo dia (e não me pareceu possível evitar isso).

State of Decay 2, Delfos

Os personagens também podem ficar infectados, e daí aparece um timer. Ou você consegue a cura antes de dar zero, ou o sobrevivente para de sobreviver. Conseguir a cura é relativamente fácil. Aplicá-la foi meu principal problema. O tutorial ensina que você deve conversar com o infectado, e daí escolher a opção de diálogo que diz “estou com a cura aqui”. Isso já é bem chato por si só, uma vez que não é fácil encontrar o personagem que você quer na base – e olha que minha base nem era muito grande. Mas o pior é que, depois do tutorial, um aparente bug impede você de falar com infectados.

State of Decay 2, Delfos
Deveria aparecer um prompt para eu falar com a doente, mas simplesmente parou de aparecer.

Tentei trocar de personagens, sair da base e tudo mais que consegui pensar. Analisando a cura no inventário, dizia que o botão X servia para usar, mas apertá-lo não fazia nada acontecer, nem com a doente, nem com um terceiro. Finalmente, descobri uma solução. Eu deveria fazer a infectada pegar a cura, colocá-la num dos campos de bolso do inventário, e então apertar RB.

Esta história resume bem State of Decay 2. Ele já é complexo por definição, mas não tem porque a simples ação de usar um item ser tão obtusa.

EU CONTRA O ZUMBIZÃO

Enquanto explorava o mapa de carro, encontrei um zumbi consideravelmente maior do que os outros. Obviamente, resolvi atropelá-lo. Ele não caiu. Pelo contrário, o atropelamento apenas o deixou mais invocado. Agora ele começou a me perseguir com sangue nos olhos. Tentei fugir, acelerando o máximo que consegui, mas apesar do tamanho, o zumbizão parecia ser mais rápido do que meu veículo.

State of Decay 2, Delfos
O trânsito do fim do mundo não ajudou muito.

Tentei atropelá-lo de novo. E de novo. Quando achei que não fazia diferença nenhuma atropelá-lo, vi que estava errado. Havia sim uma consequência, pois meu carro passou a pegar fogo. Saí dele antes que explodisse, e não demorou para rolar um grande e glorioso cabum. Obviamente, o zumbizão passou pela explosão intacto, como um herói de filme de ação que não olha para trás enquanto tudo explode. Ele olhava para mim, e estava determinado a me matar.

A pé, e de frente para o monstrão, achei que o bastão de baseball que carregava não seria muito útil para me defender. Felizmente, eu também tinha uma arma de fogo: um revolvinho meio quebrado e propenso a enguiçar. Enchi o caboclo de tiros. Nada parecia acontecer. Seria ele à prova de balas?

Finalmente, quando minha munição estava para acabar, o bichão caiu no chão. Apareceu uma frase na tela com um comando incitando-me a matar o monstro enquanto ele estava caído. Fiz isso.

State of Decay 2, Delfos
Foi um momento glorioso.

Com o zumbizão morto, o silêncio passou a reinar. Lá estava eu, praticamente sem balas. Bem longe da minha base e com meu carro quebrado. É possível consertar o carro, mas para isso era necessário um item que eu não tinha. O jeito era voltar para a base a pé, e posteriormente voltar até lá para consertar o carro e pegar o monte de itens valiosos que ele carregava no porta-malas.

Esta história resume bem State of Decay 2.

O CORAÇÃO DA PRAGA

Mas eu estava realmente longe da base, e meu carro estava carregado de mantimentos. Será que com um pouco de exploração não conseguia achar o item de reparo e consertar o dano ali mesmo?

Próximo a mim, havia uma marca vermelha no meu mapa. Era um “plague heart“. Um lugar onde os zumbis se proliferam e você tem grandes chances de ser infectado. Destruir todos os corações é um objetivo primário no jogo. Por que não aproveitar e avançar a história? Estava anoitecendo.

State of Decay 2, Delfos
Você encontra seus objetivos escalando pontos altos e olhando os arredores.

Eu sabia que, para destruir o coração, era necessário usar explosivos. Eu tinha duas minas comigo. Certamente duas minas seriam o suficiente. Afinal, cada uma delas pode matar vários zumbis em sua explosão.

Aproximei-me do meu objetivo, sendo logo envolvido pela neblina vermelha dos infectados. Os zumbis ainda não tinham me visto. Parecia uma boa ideia usar de furtividade. Matei vários totalmente incógnito. Até que…

State of Decay 2, Delfos
Um novo tipo de zumbi apareceu.

Eu nunca tinha visto um assim, mas pareceu uma boa ideia matá-lo como fiz com seus companheiros. Me aproximei e tentei agarrá-lo. Ele não foi agarrado. Ao invés disso, virou para mim, olhou nos meus olhos e explodiu, levando consigo um bom pedaço da minha barra de vida. Para piorar, todos os monstros nos arredores ouviram a explosão, e estavam correndo na minha direção.

Matei os que consegui, mas resolvi correr até o coração para tentar destruí-lo antes que a coisa ficasse ainda mais feia. Joguei uma mina. Ela explodiu. O coração parecia intacto. Joguei a outra, implorando ao deus Z Romero que este maldito coração explodisse junto. Nada. Eu ainda tinha algumas poucas balas, que sobraram da briga com o zumbizão. Usei todas elas. Adivinha só. Pois é, nada.

Não tinha outra opção, a não ser usar meu bastão de baseball prestes a se quebrar, sob os protestos da personagem, que dizia que isso não estava funcionando. Os zumbis estavam me rodeando, e eu tinha que parar com frequência para me defender. Nada do coração explodir, e cada vez mais mortos apareciam, atraídos pelo barulho das explosões e dos tiros.

State of Decay 2, Delfos
Pobre bastão. Eu esperava tanto de você.

Fui rodeado. Tentei fugir, mas meu fôlego estava baixo de tanto golpear o coração com o bastão. Usei itens que o recuperavam, mas os zumbis não davam tempo suficiente para eu consumi-los. Minha vida estava quase esgotada. Tinha curativos no inventário, mas sempre era atacado quando os usava. Isso os consumia, sem recuperar minha vida. Aconteceu o inevitável. Minha sobrevivente deixou de sobreviver. Era minha heroína mais upada e com os melhores equipamentos.

Attack on Titan
O que sobrou da minha comunidade depois de tanta morte. E todos nesta imagem estão em depressão.

Esta história resume bem State of Decay 2.

IMPLACÁVEL

Eu gosto de ganhar jogos. Provavelmente você também. State of Decay 2 não é destes jogos. Assim como a vida real, ele vai te derrubar de novo e de novo, não para que você aprenda a se levantar, mas para ver quanto você resiste até simplesmente desistir de tudo.

Sim, é possível “ganhar” State of Decay 2, mas ele é também um jogo praticamente sem fim. Você precisa manter sua comunidade viva por tempo suficiente para cumprir todos os objetivos da história. Estes objetivos são bem semelhantes ao que vemos em sidemissions em outros jogos (tipo o já citado “destrua todos os corações do mapa”), então não espere uma história desenvolvida propriamente dita. State of Decay 2 é bastante focado em suas mecânicas de sobrevivência.

State of Decay 2, Delfos
O jogo, e a vida, me dando um mata-leão.

Inclusive, ao “vencer” a história da sua comunidade, ele sugere que você crie uma nova aproveitando os mesmos sobreviventes. Se você realmente gostar dessa brincadeira de Walking Dead, pode fazer isso ad infinitum.

Para mim, State of Decay 2 acaba sendo uma daquelas ideias que é melhor no papel do que quando vira realidade. Assim como Hellblade, eu gosto muito do que ele se propõe a fazer. E, assim como Hellblade, jogá-lo é simplesmente arrastado demais para me conquistar. Com certeza este não é um jogo para todo mundo, mas me parece ser um daqueles casos que, quem gosta, vai gostar muito.

Esta coleção de histórias resume bem State of Decay 2.