Equipe de Motorrad fala sobre a influência dos quadrinhos e cinema de gênero no Brasil

E como foi se aventurar nessa seara.

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Delfos, Motorrad

A essa altura você já deve ter lido a resenha delfiana de Motorrad, correto? Caso ainda não tenha feito, corre lá, eu espero. Pronto? Pois bem, após a sessão para a imprensa do filme, foi realizada uma breve coletiva com a presença de alguns membros da equipe do longa-metragem.

Estavam presentes o diretor Vicente Amorim, o quadrinista Danilo Beyruth, que criou os personagens, o roteirista L.G. Bayão, o produtor L.G. Tubaldini Jr. e a atriz Carla Salle, que interpreta a misteriosa motoqueira que se junta ao grupo de incautos praticantes de motocross que passam a ser perseguidos pelos motoqueiros de preto.

Como se trata de uma mistura de thriller com slasher, algo incomum para o cinema nacional, além de contar com o envolvimento de um quadrinista na criação dos personagens, muitas das perguntas giraram justamente no tema de se fazer um filme diferente da maioria da produção nacional, com tintas mais pop.

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O diretor Vicente Amorim em ação na locação do filme.

O próprio produtor L.G. Tubaldini Jr., carinhosamente chamado pelos colegas de equipe de “Tuba”, abriu os trabalhos falando que Motorrad é uma aventura diferente e confirmando que o cinema brasileiro explora pouco este gênero, embora já o tenha feito mais no passado, citando os filmes de Zé do Caixão como exemplo.

UM TRABALHO SENSORIAL

Perguntado sobre o uso do silêncio, uma constante no filme, o diretor Vicente Amorim respondeu: “desde o conceito queríamos que o filme fosse muito mais sensorial, que trabalhasse com a construção do medo. Ensaiamos muito, a gente trabalhou com muito cuidado para isso.”

Carla Salle deu seu ponto de vista como atriz: “essa linguagem sensorial é internacional. Isso dá ao espectador a oportunidade de se inserir na história. Para nós, atores, é muito interessante o uso do silêncio”.

A respeito de como foi trazer um material tão diferente para as telas brasileiras, o diretor declarou: “é um filme feito para ser apreciado no cinema, ele foi conceituado assim. Sua escala só passa completamente no cinema”.

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O produtor complementou: “uma coisa legal é que países que têm cinema nacional forte (citando a Coreia do Sul como exemplo) não têm mais só comédia como gênero de sucesso. É preciso arriscar mais gêneros e, para isso, fazer um thriller/slasher/terror é muito importante.”

Ao que Vicente concluiu: “um país que tem a maior comic-con do mundo (provavelmente ele estava se referindo à Comic Con Experience) tem que ter esse tipo de filme no cinema”.

CINEMA E QUADRINHOS

Perguntado sobre o mistério da história e o significado de alguns elementos, como a marca na mão do protagonista, Amorim confirmou que há, sim, significado. E o roteirista L.G. Bayão desenvolveu: “a gente brincou sobre até quando deveríamos abrir a cortina. O mistério e a marca estão muito ligados ao Hugo (o protagonista). Foi opção nossa não entrar tanto na vida dos personagens”. A seguir ele revelou que o nome da personagem de Carla Salle é Paula e que sua missão no filme é apresentar Hugo a ele mesmo.

Questionado sobre o futuro das adaptações de HQs brasileiras para o cinema, o quadrinista Danilo Beyruth se mostrou otimista. “Você não vai mais ao cinema sem ver adaptações de quadrinhos. Sou fã do cinema dos anos 1970, onde o produtor dava mais liberdade para o diretor enlouquecer, e as HQs são um pouco assim, a liberdade é enorme e o cinema tem captado isso. Os quadrinhos são uma plataforma para testar ideias e o cinema entendeu isso e começou a pegar (para si).”

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Já a respeito de como foi a construção dos personagens, o quadrinista declarou: “o filme surgiu como ideia do Tuba (que pratica motocross na Serra da Canastra/MG, onde o longa foi rodado), eu norteei e quis botar um (elemento) sobrenatural, um John Carpenter na mistura. Ele (o filme) mexe um pouco com o medo moderno no trânsito (sobre os motoqueiros com os rostos escondidos pelo capacete e o fato de você nunca saber o que eles vão fazer), um perigo sem face.

Quanto à preparação para o papel, Carla contou que não andava de moto e teve, junto do restante do elenco, quatro semanas de preparação no Rio de Janeiro e mais três semanas já na locação. “Foi difícil e instigante, mas amo aprender coisas novas”, concluiu.

Ainda sobre a escolha dos atores, Vicente disse que “precisávamos de quem quisesse se entregar a uma experiência muito intensa”.

“FALTA A CORAGEM DE FAZER”

E a respeito da linguagem do filme, o diretor deu também sua opinião: “é uma linguagem que deriva da linguagem de quadrinhos. Escolhi uma linguagem que somasse à sensação de aridez e solidão. Tentamos fazer um contraponto aos clichês dos filmes do gênero. Para isso trabalhamos muito, fizemos desenhos conceituais de tudo, algo raro no Brasil”.

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A última pergunta foi a respeito dos efeitos especiais do longa. “A gente tem toda condição de fazer qualquer tipo de efeito e qualquer tipo de filme. Falta a coragem de fazer”.

Com essa declaração, a coletiva foi encerrada. Embora eu tenha achado que o filme apresenta até mais defeitos que qualidades, é inegável que a equipe transmitiu na coletiva a vontade e a empolgação genuínas por fazer um filme de gênero, misturando suspense, terror, a pegada slasher e uma linguagem de quadrinhos. Quem se interessou por ver todos estes elementos numa produção tupiniquim, vale lembrar que Motorrad já está em cartaz. Vai lá assistir e depois nos conte o que achou!