Este é um ano de muitos regozijos. Fãs dos jogos de plataforma, o gênero mais clássico dos games, não param de ser brindados com bons lançamentos. E Pankapu é um dos melhores deles.
E admito que me surpreendi com sua profundidade. Ele é um joguinho do tipo come-quieto. Parece que vai ser um plataforma razoável e bem simples, mas vai aos poucos ficando mais complexo e apresentando novas mecânicas que o tornam bem mais complexo do que se espera.
A história também não é nada surpreendente. Pankapu é o nome do nosso protagonista, um protetor dos sonhos. Acontece que as criaturas dos pesadelos invadiram a terra dos sonhos e agora cabe ao nosso herói mandá-las de volta. Assim como as mecânicas, a simplicidade da temática engana à primeira vista. Temos aqui um jogo com uma enciclopédia falando o nome e a história de todos os personagens e inimigos, bem como muitos momentos de diálogos e de desenvolvimento de personagens.
PARECE UMA COISA, MAS É MELHOR
Isso é exatamente o que pensei durante toda a minha jogatina. No começo, você anda, ataca, pula. Coisa básica do gênero. Não tem a velocidade de um Sonic, mas parece ser daqueles plataformas mais sossegados, tipo um Super Mario.
Não demora, no entanto, para você receber uma pá de upgrades e ter mais habilidades do que é capaz de usar. No final do jogo você terá três “perfis” com habilidades e ataques totalmente diferentes, e dentro de cada um deles, quatro runas que modificam o que cada perfil pode fazer.
Explico melhor. O Pankapu padrão carrega uma espada. Na runa padrão, apertar o triângulo joga a espada para frente como se ela fosse o escudo do Capitão América. Troque a runa, no entanto, e o herói vai soltar um poderoso raio laser ideal para destruir uma fileira de inimigos.
Este perfil padrão (que pode ser alterado com quatro runas) mais para frente vai ter a possibilidade de usar superfícies magnetizadas, o que o permite andar pelo teto ou fazer wall jumps.
Mas não acaba aí. Há também o perfil do arqueiro, que é mais frágil, ataca à distância e tem pulo duplo. E o arqueiro também tem quatro runas que modificam suas habilidades. Por fim, há o mago, que ataca com magia, recarrega a barra de mana sozinho e é capaz de planar. Ah, e não esqueça das quatro runas.
Em outras palavras, você vai controlar ao mesmo tempo três personagens totalmente diferentes, e às vezes vai ter que alternar entre eles no mesmo pulo. Por exemplo, você pode precisar dar um pulo duplo com o arqueiro, em seguida mudar para o mago e planar e por fim alternar para o espadachim para cair no teto. Destreza nos dedos, meu amigo!
QUASE UM METROIDVANIA
Além disso, há uma grande influência de Metroidvanias por aqui. Embora o jogo seja dividido em fases, elas têm caminhos que você não vai conseguir seguir até adquirir novas habilidades. Ou seja, pode voltar a elas depois para pegar saborosos upgrades.
E mesmo que o caminho não esteja fechado, pode ser necessário passar duas ou mais vezes pela mesma fase para pegar tudo, pois há mais de um caminho, com itens e upgrades nos dois, e é impossível pegar tudo numa só jogada.
Este tipo de coisa já não me agrada muito, mas o lado positivo é que o jogo tem um audiovisual e um level design tão caprichados que torna jogar suas fases, mesmo pela segunda ou terceira vez, um prazer.
O visual é colorido e brilhante, e tem a maior cara de 32-bit. Se você me dissesse que Pankapu foi originalmente lançado para Sega Saturn e desenvolvido pela Treasure, eu provavelmente acreditaria. A música é especialmente bonita, quase inteira composta por belíssimos solos de piano, que deixam o jogo bem zen e agradável, mesmo em seus desafios mais difíceis.
MAS…
Tem alguns problemas, no entanto. O primeiro deles é a falta de variedade de inimigos. Até tem vários tipos diferentes, mas quase todos são variações de uma geleia preta. Podia ter mais inspiração aí.
Apesar de o jogo ser lindo quase o tempo todo, ele também acaba cedendo a uma tática de gamedesign mais velha do que a maioria de nós: limitar a visão, fazendo com que apenas o espaço imediatamente em volta do herói seja visível. E você sabe, não é para usar só um pedacinho da tela que a gente compra nossas TVs enormes.
Com seus três perfis, ele também acaba ficando um tanto complexo demais. Seria bom se pudéssemos usar wall jump, pulo duplo e planar sem ter que apertar o L/R para alternar entre eles, como tantos jogos do gênero oferecem. Isso torna tudo um tanto mais complicado do que precisava ser, e tem um chefe que exige a troca constante dos três perfis que vai te deixar com raiva.
O mais grave de tudo, no entanto, é que aquela que parece ser a última fase está, neste momento, quebrada no PS4. Trata-se de uma fase bem linear, durante a qual vai aparecendo os rostos e nomes dos desenvolvedores. Nesta fase, você precisa pegar três itens, mas depois de pegar o segundo, o jogo te coloca de volta em uma parte que tem três portas fechadas.
Para a direita, seu sidekick diz que você precisa dos três itens para passar. Para a esquerda, há apenas um caminho que acaba levando de volta para o mesmo lugar. Explorei esta fase de tal modo que cheguei a sair da área da missão e morrer sozinho por encarar no vazio nos olhos, sem brincadeira. E o caminho é bem linear, o que não me deixa concluir outra coisa de que a fase está neste momento quebrada. É uma pena.
PANKAPU
Apesar disso, até você chegar nessa fase, o jogo tem cerca de dez horas de duração e um level design variado e criativo, Pankapu é daqueles raros jogos que entrega muito mais do que promete ou do que você espera. O negócio é tão caprichado e bonito que é difícil acreditar que ele foi feito por um estúdio indie. Pelo menos até você travar por um erro de programação ou algo do tipo. Se não fosse o fato de ele ser interminável, Pankapu é simplesmente bom o suficiente para ficar lado a lado com os clássicos do passado da Sega e da Nintendo, mas tive que diminuir a nota para representar o fato de ele estar, neste momento, quebrado.