Filmes de terror tupiniquins, você bem sabe, são extremamente raros. Um de viés mais mainstream, estrelado por um monte de rostos conhecidos da dramaturgia nacional, é ainda mais difícil de se encontrar. E por isso mesmo já é algo que despertaria por si só algum interesse.
É o caso de O Rastro, um longa de horror que tem em seu elenco a presença de alguns atores bem conhecidos (e globais), como Leandra Leal, Felipe Camargo, Cláudia Abreu e Jonas Bloch. Ele também tem uma ambientação bastante sinistra e bem escolhida, com grande parte se passando em um hospital dilapidado e desativado.
Infelizmente, também é só isso que ele tem a seu favor. Talvez pela falta de prática, talvez querendo pegar carona nos piores exemplares gringos, o longa se escora num monte de clichês e lugares-comuns dos mais baixos, tornando-o uma tentativa bastante infeliz de ecoar algum longa genérico estadunidense.
É uma pena, pois ele até sugere que vai fazer algo adaptado para a nossa realidade. Sente só a sinopse: João (Rafael Cardoso) é um médico responsável pela transferência de pacientes de um hospital público que está para fechar as portas, resultado das mazelas políticas e financeiras do Rio de Janeiro.
Após concluir o processo e desativar o prédio, ele descobre que faltou uma paciente, uma menina, que desapareceu na noite da transferência. Obviamente, o cara fica com o fiofó na mão, procurando pela guria doente e sumida. Enquanto tenta descobrir o que aconteceu, coisas estranhas começam a acontecer no local.
Infelizmente, ele não se escora tanto nessa premissa, preferindo partir para algo muito mais manjado e cheio de reviravoltas desnecessárias. A virada do terceiro ato é tão esdrúxula que vira quase outro filme. É incrível a indecisão da história entre abraçar de vez o elemento sobrenatural ou apresentar uma trama de conspiração. Bate cabeça entre os dois e não acerta nenhum.
O pior é que o filme simplesmente não assusta e é totalmente construído em cima de picos nos efeitos sonoros para dar sustos, mesmo que nada aconteça. Foi uma das coisas mais ridículas que vi em muito tempo quando, no começo do filme, quando o médico está conversando com uma paciente, ela pega no braço dele de forma natural e a música dá aquele “tãããã”, como se ela tivesse acabado de dizer que ele morreria em sete dias quando, na realidade, ela apenas falou alguma banalidade.
O longa está cheio desse tipo de coisa, que o deixa risível em vários momentos, mas que acaba por cansar pelo excesso, tornando-o, à medida que avança, apenas muito chato. E muito ruim. No final, já estava contando os minutos para que ele acabasse e eu pudesse fazer qualquer outra coisa mais interessante, tipo contar os pelos dos meus braços.
É uma pena, pois O Rastro tinha potencial para ser um bom longa de terror nacional. Mas sua total inabilidade em fazer sequer o mínimo com competência, acreditando que medo se cria com barulhos altos e aumento na trilha sonora, o transformou numa das coisas mais toscas do gênero. Ainda não foi dessa vez, mas que continuem tentando. Uma hora alguém acerta.