Não sei o motivo, mas toda vez que eu lia o nome American Sniper em algum lugar, imediatamente me lembrava do clássico podreira American Ninja – O Guerreiro Americano e me punha a imaginar quem ganharia uma luta entre os dois. A resposta é mais que óbvia: ninjas sempre ganham! Porém, independente do resultado deste confronto hipotético, esta é uma resenha de Sniper Americano, então convém voltar ao tema principal.
Nova produção dirigida por Clint Eastwood, é baseada na história real de Chris Kyle (Bradley Cooper), um dos mais letais e precisos snipers das forças armadas dos EUA. O sujeito tem em seu currículo mais de 150 mortes confirmadas e, dentre outras façanhas, acertou um tiro de 1920 metros. Isso mesmo, o cara matou alguém a praticamente dois quilômetros de distância! Depois dessa, não me surpreenderia nem um pouco se me dissessem que ele, a exemplo dos assassinos de O Procurado, também era capaz de curvar balas. Mas isso provavelmente deve ser informação confidencial…
Com um personagem desses, o que poderia render um divertido filme de ação, acaba usado para fazer mais um longa do gênero “God bless America“, enaltecendo o patriotismo exacerbado, e insuportável, característico dos estadunidenses e tornando a produção bem menos atraente para quem não nasceu na terra do tio Sam.
Muito disso é culpa justamente do protagonista, um simplório capaz de dizer patacoadas do tipo “este é o melhor país do mundo” (referindo-se aos EUA), “há o mal aqui” (sobre o Iraque) e com aquele senso de dever para com seus companheiros tão exagerado que só falta tocar o hino nacional deles quando ele fala a respeito de suas motivações para continuar voltando ao serviço muito depois que sua obrigação já se encerrou.
Por esse personagem obstinado, e pelo fato de que, a exemplo do Wolverine, ele ser o melhor no que ele faz, o filme lembra muito Guerra ao Terror, tendo a mesma estrutura. Mas ao menos naquela produção o personagem do Jeremy Renner é menos irritante e mais bem resolvido ao ser muito mais honesto em sua motivação: ele é bom em desarmar bombas, é viciado na adrenalina e acha a vida civil um porre.
Aqui, há também a mesma desconexão com o mundo real e a família, mas tudo é justificado pela vontade de voltar lá para salvar quantos soldados aliados ele conseguir. Tudo bem, se é só isso, então basta uma cena, não precisa esticar o filme com muitos outros desnecessários e chatos momentos de sua vida pessoal que nada acrescentam e só contribuem para frear o andamento da narrativa.
Se a temática geral e a personalidade e motivações do protagonista não ajudam, ao menos as cenas de tiroteios e dele “snipeando” geral são bem orquestradas e movimentadas o suficiente para levantar a qualidade da película para aqueles que não vieram dos US of A, tornando-o um filme de guerra razoável, embora novamente derivativo.
Afinal, não só lembra muito Guerra ao Terror como, ao dar a Chris Kyle um nêmesis na figura de um sniper inimigo, fica muito parecido com Círculo de Fogo. Óbvio que não estou falando do longa de robôs e monstros gigantes do Guillermo Del Toro, mas de um filme de 2001, cujo título original é Enemy at the Gates.
Nele, Jude Law é um sniper soviético na Segunda Guerra Mundial e trava um longo duelo com um atirador de elite alemão interpretado pelo Ed Harris. Vale a pena ver este filme, ele é bem legal. E Sniper Americano bebe bastante dele na batalha entre os atiradores rivais e na forma como as cenas de ação são orquestradas.
Assim, o longa não é nada simpático tematicamente e nem um pouco original, visto que bebe bastante de duas produções diferentes. Mas as sequências de ação, mesmo não sendo o foco principal do longa, são boas o suficiente para elevá-lo a um status de filme nada. Apreciadores da filmografia de Clint Eastwood e fãs de filmes de guerra talvez sejam os únicos a quem talvez possa interessar pegar uma sessão disso aqui, mas vá já sabendo que está longe de ser algo bom. A todos os outros, melhor ficar longe desse festival de patriotadas equivocadas.