O Estúdio Ghibli é um criador de animês muito querido entre os delfonautas. Finalmente, chegou a hora de apresentarmos a nossa primeira resenha para um trabalho deles, o novo filme dirigido por Hayao Miyazaki, do clássico de 2001 A Viagem de Chihiro.
Em Vidas ao Vento, Miyazaki sai um pouco da fantasia habitual em seus trabalhos para apresentar uma cinebiografia em desenho animado de Jiro Horikoshi, um designer de aviões japonês da época da segunda guerra mundial. Os únicos aspectos mais fantasiosos aparecem nos sonhos de Jiro, mas mesmo assim são bem leves e estão bem distantes do tradicional na obra do diretor.
Cuma? Cinebiografia? Pois é, delfonauta. Você deve saber que no Japão, ao contrário do ocidente, desenhos não são necessariamente focados nas crianças, e Vidas ao Vento é o melhor exemplo disso. Sua temática e sua história são típicas de oscarizáveis e poderia ser filmado em live-action naturalmente. Claro, se fosse o caso, ele perderia boa parte do seu charme. Isso porque temos aqui um dos filmes visualmente mais bonitos já feitos.
Pelo pôster, ele já me parecia lindo, mas nada poderia me preparar para o espetáculo visual a que eu seria submetido, especialmente graças a uma mistura de técnicas que foi muito bem realizada.
Explico: os personagens são tradicionais de animês, quase sem texturas e com cores chapadas. Já os cenários são pincelados, lembrando uma pintura em aquarela. Este contraste, dos bonequinhos extremamente definidos com os fundos, na falta de uma palavra melhor, “borrados”, dá uma cara toda especial ao longa, diferenciando-o positivamente até mesmo das coisas mais bonitas da Pixar ou da Disney.
Some a isso uma trilha sonora belíssima composta por Joe Hisaishi e temos um filme tocante, com altíssima carga emocional e uma festa para os sentidos. Sei que 2014 ainda está no começo, mas eu apostaria que em experiência audiovisual, nenhum outro filme vai chegar perto deste por um bom tempo.
Este aspecto é tão forte que consegue transformar uma história sem grandes apelos em algo realmente especial. Para você ter uma ideia, a história em si não me empolgou em nenhum momento, mas ao mesmo tempo eu estava muito longe de ficar entediado, já que o filme me recompensava com uma cena linda depois da outra.
Além da estética em si ser muito bonita, a animação e os planos também demonstram muito carinho e capricho, tornando-o uma experiência audiovisual completa. Digo mais, Miyazaki merecia ter sido indicado ao Oscar de diretor por este trabalho, não apenas para o de animação. O fato de isso não ter acontecido serve de argumento para quando eu tiver que explicar para as pessoas porque não me importo com o Oscar.
O filme consegue todos estes predicados mesmo sendo uma animação séria e focada em adultos, o que não é comum vermos nos cinemas brasileiros. Com certeza vai ter muito pai desinformado que vai levar o pimpolho e vai sair com lágrimas nos olhos, enquanto o moleque sai bocejando. O único personagem que se rende a traços mais cartunescos é o diminuto e sempre irritado chefe de Jiro, também responsável pelos pouquíssimos momentos de humor do longa.
Vidas ao Vento é um daqueles filmes especiais, que crescem com o tempo. Muito disso se deve ao seu final, de uma sutileza poética simplesmente linda. Para você ter uma ideia, durante a projeção, resolvi presenteá-lo com três Alfredos e meio. Quando comecei a redação desta resenha, a nota aumentou para quatro. Agora você já deve ter percebido que está nos 4,5. Então é melhor eu encerrar o texto por aqui, ou vou acabar presentando-o com o Selo Selfiano Supremo. Assista!