O RoboCop original, de 1987, me marcou. Só que ele não me marcou por ser um filme maior legal ou algo do tipo. Não, o que o tornou inesquecível na minha vida foi a sua violência.
Quando ele passou nos nossos cinemas, eu tinha reles sete aninhos, e me lembro que a censura dele era 14 anos. Nunca vou esquecer da emoção quando o vendedor do ingresso perguntou ao meu pai a minha idade e meu progenitor, na maior cara de pau, falou que eu tinha 14. Infelizmente, acabei entrando, e fiquei algumas semanas sem dormir.
Logo no início, naquela cena em que o ED-209 metralha um sujeito, eu já fiquei traumatizado, mas depois ainda teve a impressionante “morte” do Alex Murphy e aquele sujeito derretido perto do final. Pela nossa senhora de aquerupita, o que diabos meu pai estava pensando ao me levar para este filme?
ROBOCOP DE ELITE
Esta versão 2014, no entanto, é bem mais leve. O próprio atentado ao Alex Murphy é apenas uma explosão, sem aqueles traços de sadismo e violência explicita do filme de Paul Verhoeven. Tem uma outra cena que é um tanto impressionante, quando Alex vê o que sobrou do seu corpo, mas é bem pouco comparado ao original.
A trama também é bastante diferente da que conhecemos. Em um futuro não muito distante, os EUA utilizam robôs em suas “atividades externas”. O problema é que o público não aceita que a justiça interna seja feita por máquinas que não sentem compaixão, para desespero da empresa Omnicorp, chefiada por Raymond Sellars (Michael Keaton), responsável por criar os robôs.
Raymond incumbe um de seus cientistas, que trabalha com reabilitação física (Gary Oldman, irreconhecível), de criar um robô que seja, pelo menos em parte, humano. O atentado à vida do policial Alex Murphy (Joel Kinnaman) vem em boa hora, pois agora temos um candidato ideal.
A história em si não tem grandes novidades, as cenas seguem como se escrever roteiro fosse uma fórmula matemática. Mas o filme é divertido, as cenas de ação são boas e a escolha da engraçada Hocus Pocus da banda Focus para uma delas foi surpreendentemente feliz.
Em comparação com o original, este RoboCop é mais humano. No primeiro, a recuperação de sua humanidade perdida era o principal ponto do seu arco dramático, culminando na marcante cena final. Aqui, a coisa é menos dramática, o herói mantém sua humanidade durante quase todo o filme. O foco é simplesmente outro.
Assim, acaba sendo um longa bem diferente do que o inspirou. Poderia nem ser RoboCop, mas ser Jiban (se você lembra, diga “banana com caramelo” nos comentários!) ou qualquer outro policial robotizado.
TROPA DE ROBOCOP
Um aspecto que achei maior legal é a aparição de uma armadura bastante semelhante à do RoboCop clássica. E, cá entre nós, com os updates dados, ela ficou muito mais legal do que a armadura preta que ilustra o pôster. Clássicos são atemporais, e de fato não era necessário mudar a cara do policial do futuro.
Outro destaque, e o único personagem humorístico do filme, é o personagem de Samuel L. Jackson, que é praticamente uma reprise do apresentador de TV de Tropa de Elite 2 que, como você sabe, também foi dirigido por José Padilha. É uma pena que, ao contrário dos Tropas de Elite, RoboCop seja tímido em suas tentativas de humor. O filme em geral é bem sério, e um pouco mais de fanfarronice cairia muito bem.
Assim, este remake de RoboCop não é nenhuma obra prima, mas também não é uma vergonha como outros remakes de filmes de ação originalmente dirigidos por Paul Verhoeven.
Vale o ingresso para quem estiver a fim de umas explosões e de um pouco de ficção científica, mas sua qualidade está bem longe dos trabalhos anteriores do diretor. É a principal prova de porque todo mundo que trabalha com cinema quer ir para Hollywood. Seu trabalho vai inevitavelmente ficar mais pasteurizado, mas pelo menos os cheques serão mais gordos.
CURIOSIDADE:
– A chamada de capa “Parte homem. Parte Máquina. Totalmente policial” é a mesma chamada presente no pôster do filme original.