A Pequena Sereia e O Patinho Feio já são velhos conhecidos, mas ultimamente outro conto do dinamarquês Hans Christian Andersen foi resgatado e anda aparecendo com frequência: A Rainha da Neve. Na história, a pequena Gerda tem de fazer uma longa viagem cheia de obstáculos para salvar Kai, seu irmão de criação, que foi enfeitiçado por um espelho maligno criado por um troll e está servindo à malvada Rainha da Neve.
O Reino Gelado foi baseado neste conto, mas toma várias liberdades. Aqui Gerda, e Kai são irmãos legítimos, filhos de Mestre Vegart, um mago que criou um espelho capaz de refletir a alma das pessoas. A Rainha da Neve, por sua vez, é uma tirana que resolveu abolir todos os tipos de arte e pretende assolar o mundo com um inverno permanente. Para isso, ela terá de se livrar do herdeiro de Vegart, e é aí que entra o troll: aqui ele é Orm, o atrapalhado servo da Rainha, mandado para procurar o tal herdeiro e ser o alívio cômico do filme. Ele consegue capturar Kai, mas Gerda fica livre e não hesita em partir numa jornada para resgatar seu irmão.
O filme é o primeiro grande projeto do estúdio russo Wizart Animation, e considerando o orçamento modesto que teve, a animação está muito bem feita. A caracterização dos personagens ainda tem aquela cara de desenho para crianças bem pequenas: o Orm, por exemplo, é a coisinha mais estranha que eu já vi, e não se parece em nada com os trolls que a gente conhece. Ele tem até o poder de mudar de forma, coisa que eu nunca vi um troll fazer. Mas os cenários, as paisagens e os pequenos detalhes de textura compensam. O 3D, apesar de facilmente dispensável, também tem seus momentos.
O Reino Gelado com certeza vai ser uma boa oportunidade de apresentar a produtora ao mundo, e isso vai ajudá-los a desenvolver o potencial que eles parecem ter – e que gente como Timur Bekmambetov já percebeu e está apostando. Como animadores eles estão no caminho certo para conseguir seu lugar ao sol entre as grandes, mas como contadores de história, ainda têm muito a aprender.
O grande problema é que a narrativa simplesmente não convence. Não porque não é fiel à história original, mas porque é conduzida muito apressadamente e sem nenhuma profundidade. Tudo é entregue absolutamente mastigadinho e então segue adiante, e não dá tempo de você se envolver de verdade.
O filme atira para todos os lados. Tenta capturar a fantasia de um conto de fadas, tenta ir para o lado do humor mais bobinho, tenta dar um tom aventuresco e destemido à viagem da Gerda, tenta criar um drama na relação entre os irmãos, joga duas ou três lições de amizade… Mas no fim não é bem sucedido em nada disso, justamente porque não passa tempo suficiente desenvolvendo nada em particular. A trama vai avançando nessa indecisão e você fica aguardando aquele momento que vai te cativar, e como ele não chega, fica chato.
Os diálogos são óbvios e bobinhos demais até para um filme infantil, e a dublagem com cara de amadora também não ajuda em nada a simpatizar com os personagens, e aí fica difícil recomendar. Nem a presença de um furão branco cuti-cuti consegue aliviar isso, o que é um péssimo sinal.
É mais recomendável esperar por Frozen, a versão da Disney para a história, que estreia no final deste ano. Também será uma adaptação bastante liberal, mas vindo deles, até os mais fraquinhos ainda são legais, tanto para os pequenos, quanto para os pais, e é claro, para quem empacou eternamente nos oito anos e dez meses.
Se você tiver pimpolhos querendo ir ao cinema, tente convencê-los a esperar ao menos até julho, quando chegam Meu Malvado Favorito 2 e Universidade dos Monstros, que serão divertidos para você também. Se não conseguir persuadi-los, prepare-se para um possível cochilo no cinema.