Achei um erro patético da distribuidora nacional lançar Guerra ao Terror por aqui direto em DVD em abril de 2009, sendo que nos EUA o filme só saiu em junho. E pior ainda: depois que o filme começou a render prêmios, mandá-lo para (alguns poucos) cinemas, depois de quase um ano nas locadoras. Evil Monkey pra vocês, Imagem Filmes.
E foi por causa dessa burrada que eu (e mais milhares de pessoas) só assistiram o filme quando já sabiam de todos os Globos de Ouro e Oscars. E isso não é bom. Faz elevar muito a expectativa e acaba decepcionando.
Felizmente, esse não chega a decepcionar.
O filme acompanha um esquadrão americano no Iraque, que tem como função achar bombas e desativá-las, usando pequenos robôs e câmeras. Mas quando apenas robôs não são suficientes, o comandante veste o traje de segurança e vai desarmar o explosivo por si mesmo, enquanto os outros dois ficam na retaguarda, de olho em qualquer pessoa ou movimentos suspeitos. Sendo que tudo e todos em volta são potencialmente suspeitos, claro.
Faltando apenas 38 dias para o fim da missão e a volta para casa, o grupo perde seu comandante, que é substituído por outro “menos cauteloso”. O nome dele é William James, um típico anti-herói que lida com seu trabalho (que, como mostra a poderosa primeira cena, é sempre arriscado) como se estivesse jogando Counter Strike. Sentiu o drama? =P
Guerra ao Terror é tenso. Continuamente tenso. Essa tensão nunca chega a um ápice absoluto, mas nunca te dá um tempo para respirar. As câmeras mudam de perspectiva o tempo todo, sempre focando na sensação de cada um dos personagens. Elas se concentram em mostrar as mãos do comandante tremendo, o suor escorrendo no rosto, as crianças correndo, o olhar dos curiosos e o nervosismo dos dois soldados que têm de desconfiar de todos eles. As cenas são dinâmicas, mas o clima é sempre pesado, mantendo o espectador constantemente apreensivo. A trilha sonora quase não existe, e o silêncio deixa uma impressão de realismo muito forte. É como se você estivesse lá, sofrendo junto com os caras.
E é isso mesmo que a diretora quis passar. Percebe-se que a intenção do filme não é julgar as questões políticas da guerra do Iraque, nem discutir o terrorismo em si (por isso o título em português não faz muito sentido). A mensagem principal do filme é que a guerra, em geral, é uma droga. Uma droga que vicia, transforma homens em máquinas de guerrear sem nenhuma identidade fora do campo de batalha. Como James, que desarma bombas sem vestir o armário da dor, perde a comunicação de propósito e insiste em continuar perto de bombas a segundos de explodir. Ele faz isso porque precisa da adrenalina, precisa do risco de morte para se sentir vivo. Não pelos Estados Unidos. Ele não é um patriota. É um viciado.
Com muita competência e sem ter de usar aquelas musiquinhas tristes de violino, Bigelow consegue nos fazer refletir sobre como a guerra é irresponsável e autodestrutiva, e o que causa aos envolvidos. Não aos países, mas a cada um dos homens que estão lá e que sofrem, mesmo sem ter nada a ver com o motivo do conflito.
Reflexões de lado, o visual do filme é bonito, as cenas bem montadas e as atuações impecáveis. Nenhuma estrela, mas alguns rostos conhecidos aparecem, como a Kate, de Lost, e o Lord Voldemort. Quem percebeu?
Enfim, The Hurt Locker não tem nada de inovador ou revolucionário, mas é de uma sensibilidade imensa, mostrando a guerra sob um olhar diferente, em nível pessoal. Sem aquele moralismo piegas que é bem comum dos filmes de guerra.
Esse detalhe deu a ele um lugar na minha lista de melhores filmes do gênero e me deu inspiração pra uma resenha decente, ainda que bem atrasada. =)
Na minha humilde opinião, Kathryn Bigelow mereceu todos os Oscars que levou. Mais do que James Cameron e seu Ah, vá! tar.