O que esperar de um filme do Clint Eastwood? Oscarizáveis clichezentos? Filmes de Guerra exaltando o American Way of Life e a frase God Bless America? Bem… sim. Não é à toa que o cara faz dois filmes por ano e os dois entram sempre na temporada reservada aos oscarizáveis.
Gran Torino, no entanto, parece ser o início da traição do movimento pelo Clintão Madeira do Leste. Isso porque durante grande parte da sua duração, o que temos aqui é uma comédia leve, divertida, e até bonitinha. Obviamente, conhecendo a obra do cara, sabemos que no final alguma coisa vai acontecer para justificar a estréia em janeiro/fevereiro/março. E esse é o principal motivo pelo qual você não vê cinco Alfredos aí do lado. Afinal de contas, ao tentar ir contra o esperado, o filme acaba seguindo o caminho mais clichê possível. Ok, até faz sentido e o filme amarra as pontas de uma forma bem meiga e emocionante, mas ainda assim, se tivesse se mantido na comédia, seria uma obra bem mais agradável.
Saca a sinopse: Clint Eastwood é Walt Kowalski (o sobrenome que o Cyrino queria ter), mas poderia estar creditado como himself. Afinal, como em todos seus outros filmes, ele é um veterano de guerra macho pra caramba, extremamente patriota e, consequentemente, xenófobo e racista.
Por ironia do destino, ele é o último branco anglo-saxão protestante do seu bairro, que está sendo tomado por Hwongs, um povo da Ásia. E isso tira ele do sério. Afinal, o que diabos esses japas estão fazendo na terra da liberdade e lar dos valentes? Pois logo ele vai se envolver com seus vizinhos, fazer amizades e, diante das diferenças culturais, acabará percebendo que tem muito mais a ver com eles do que com sua própria família.
Não é bonitinho? E é bem por aí a toada dos primeiros 3/4 do filme. Quando comecei a dar as primeiras risadas, fiquei extremamente surpreso. Não sei o que me surpreendeu mais: eu estar assistindo a uma comédia do Clint Eastwood ou estar gostando de um filme do Clint Eastwood.
Seja qual for a resposta, o fato é que eu gostei – e bastante. O Kowalski é um daqueles caras extremamente machões (olha a foto aí do lado. Se tivesse menos roupa e mais óleo, não poderia ser uma capa do Manowar?) e mais bravo do que um certo presidente quando algum jornalista comenta sua possível dependência alcoólica. Daí saem ótimas piadas. O cara é tão racista e inventa tantos apelidos diferentes para se referir aos asiáticos ou aos negros que não dá para não dar risada. A voz do cara é igualzinha à do Snake e ele usa mais a palavra “mariquinha” do que o Evil Rainbow of Steel. Dá para não gostar de um cara tão absurdamente desagradável?
Isso fica ainda mais divertido quando ele começa a andar com Thao, o vizinho, que é extremamente mariquinha. A cena em que ele ensina o moleque a conversar que nem macho é a melhor do filme.
Apesar de o negócio esfriar no final, na busca vazia de umas indicações ao Oscar, Gran Torino vale o ingresso. É divertido, engraçado e o final é bonito, embora um tanto óbvio. E o Evil Rainbow precisa de umas aulas de macheza com nosso amigo Kowalski. Talvez se ele fizesse isso, iam parar de chamá-lo de Lady Evil.