É provável que você, caro delfonauta, tenha visto em diversos sites especializados em games, resenhas negativas sobre Kane & Lynch: Dead Men. O jogo não está apenas afundando em notas baixas por parte dos críticos, está também absorto em uma polêmica envolvendo a demissão de um crítico do site Gamespot. É o seguinte: um carinha chamado Jeff Gerstmann, crítico e editor do site supracitado, avaliou este jogo, com uma razoável nota 6,0. Até aí tudo bem, uma nota 6,0 nem é tão ruim assim. Acontece que a editora do jogo, a EIDOS Interactive, não gostou muito da crítica e, reza a lenda, teria pressionado o Gamespot para dar um jeito na situação. Afinal de contas, a Eidos estava investindo alto na propaganda de Kane & Lynch no próprio site em questão.
A história culminou com a demissão de Jeff Gerstmann, logo após a publicação de sua resenha. Somaram um mais um, e estava armada a confusão. Vários gamers do mundo todo, na intenção de boicotar a Eidos e apoiar Jeff, começaram a lotar os posts do Gamespot com críticas negativas, dando notas 1,0 a Kane & Lynch. Não mencionei este fato para que você tome o partido dos outros e crucifique a Eidos ou seus jogos. Apenas o fiz para que você não acabe sendo influenciado por conspirações corporativistas ou coisas do gênero, e acabe falando mal do jogo antes mesmo de jogá-lo. Afinal de contas, mesmo tudo isso fazendo sentido, nada foi (e provavelmente não será) confirmado.
Não quero iniciar aqui um debate sobre ética e credibilidade profissional, já que isso precisaria de um tópico à parte (e esse texto à parte será publicado amanhã, não perca!), mas é claro que nós, como jogadores conscientes que somos, não devemos nos manter alheios a isto, já que não é a primeira vez que este tipo de história aparece na mídia especializada. Em 1990, o mesmo ocorreu; desta vez envolvendo a revista EGM estadunidense e o jogo para NES, Total Recall, baseado no filme de mesmo nome, conhecido por aqui como O Vingador do Futuro e estrelado pelo Governator Arnold Schwarzenegger. Se sentindo prejudicada pela nota mais baixa já dada a um jogo de NES, a Acclaim retirou todos os seus anúncio da publicação. A EGM ignorou o boicote, o tempo passou e tudo foi esquecido.
Dentro da minha concepção, não acho certo boicotar um jogo numa situação como esta, já que tem outras pessoas envolvidas nisto como programadores, designers, roteiristas e suas respectivas famílias, que poderiam ser prejudicadas, vítimas de uma ação inconseqüente de uma corporação capitalista sem alma (mas o que seria da indústria de games sem o capitalismo?), o que viria a ser uma grande injustiça. Aconselho você a deixar esta história de lado por enquanto, para falarmos daquilo que interessa neste momento e amanhã a gente retoma o debate focando exclusivamente neste outro aspecto.
Kane & Lynch começa com o seu personagem, Kane, um ex-mercenário, sendo levado de automóvel para a sua execução. Dentro do veículo (que parece um carro-forte) está também Lynch, um psicopata esquizofrênico com cara de sádico, acusado de matar sua esposa. Eis então que, de repente, surge um outro carro e colide com o carro forte, fazendo com que Kane caia e perca a consciência. Percebendo que Kane não estava conseguindo voltar a si, Lynch lhe injeta uma dose de adrenalina e lhe traz de volta. Kane levanta e se vê fora do carro forte. Começa então a primeira fase.
Você está no meio da rua, com o carro forte tombado ao seu lado e, à sua frente, Lynch e uns caras mascarados estão trocando tiros com a polícia. Neste ponto, a imagem é muito embaçada, para simular que Kane ainda não recobrou totalmente sua consciência. Lynch pede para que você o siga e os dois vão se embrenhando pelos becos, sendo protegidos pelos encapuzados. Aqui a imagem fica nítida e você encontra sua primeira arma: uma pistolinha ordinária. Pelo resto da fase, você fica seguindo Lynch e os encapuzados, pulando muros, trocando tiros com a polícia e se protegendo do helicóptero que não pára de atirar. Toda esta primeira fase é um tutorial, mas também é uma das seqüências mais legais que eu já vi em um jogo, bem frenética e verossímil. Você foge através de becos, ruas, galpões e toma abrigo em algumas lojas, tudo bem ambientado pelo incessante som dos tiros, das sirenes e da hélice do helicóptero que fica perseguindo. Talvez o fato de eu apenas recentemente ter chegado a esta next-gen tenha ajudado, mas confesso que fiquei impressionado.
Os gráficos e principalmente os sons são bem legais, e os cenários bem detalhados. A texturização deles não é excelente, mas como você tem coisas mais importantes para fazer, isto vai passar despercebido. Já no que diz respeito à jogabilidade, tudo poderia ser um pouco melhor. A mira é um simples pontinho branco no meio da tela, tão discreto que dá pra confundir com um tiro ou com cocô de passarinho. Acertar os inimigos também é difícil. Se você for daqueles que segura o botão de tiro e aponta pra tudo que se mexe, suas balas vão acabar e você vai ter que encarar “na mão” mesmo. Dar mais de três tiros seguidos com uma metralhadora faz a sua mira subir e acertar São Pedro, mas acredito que isto dê mais veracidade ao jogo, ou alguém pensa que atirar com uma metralhadora é fácil?
Usando o botão direito do mouse você aproxima a imagem e torna a mira mais visível. Essa é a única maneira realmente eficaz de acertar alguém. O problema é que entre os seus alvos estão vários policiais linha dura que insistem em não morrer, mesmo quando acertados na cabeça. Mas nem todos os inimigos do jogo são assim; alguns morrem bem fácil, e outros não caem nem quando alvejados no peito à curta distância. Fácil mesmo neste jogo é morrer. Tomar apenas uma meia dúzia de tiros é o suficiente pra mandar Kane para o “beleléu”. Quando você morre pela primeira vez em uma missão, um dos seus comparsas lhe revive com uma injeção de adrenalina. Mas isto só acontece uma vez, se morrer de novo “não tem boi”, dá uma overdose e você já era.
Passada a primeira fase, a história continua. Resgatados em uma van e levados para um shopping abandonado, você descobre que os encapuzados eram mercenários contratados pelos The Seven, um grupo para o qual Kane trabalhou e que, aparentemente, acabou traindo. Os Seven resgataram Kane com o único propósito de reaverem o dinheiro que ele supostamente havia roubado. O papel de Lynch nesta história é o de ficar de olho em Kane e entrar em contato duas vezes ao dia com os Seven. Caso ele não faça isso, eles matarão a família de Kane. Esta missão ainda é basicamente um tutorial, onde você aprende a trocar itens e dar ordens para a sua equipe.
As ordens são bem básicas, como “Fique aqui”, “Ataque” ou “Siga-me”. Acontece que às vezes a ordem “Fique aqui” não funciona direito, a sua equipe é muito teimosa e insiste em seguir você. Outras vezes, essa mesma função dá a seguinte ordem, “Cubram o perímetro”. Como pode o mesmo botão dar duas ordens diferentes? Não entendi o critério que faz Kane dar uma ordem ou outra. Existe também um sistema de compartilhamento de itens, que é uma excelente idéia. Assim como em Resident Evil: Outbreak, este sistema permite que você dê ou receba itens de seus companheiros. Diferentemente do jogo da zumbizada, aqui o sistema não é nem um pouco prático; tudo é feito de maneira não intuitiva e lenta. Tentar dar uma arma para alguém do seu grupo demora tempo suficiente para você ser morto.
Não que Kane & Lynch seja um jogo revolucionário, mas é notável que houve uma grande preocupação por parte dos desenvolvedores em dar profundidade à trama, com uma história bem sacada e personagens complexos, que estão muito longe de serem clichês. Infelizmente, a mesma atenção que foi dada à história faltou no resto, levando a jogabilidade a ser vítima de erros primários, cometidos pela pressa de lançar o título antes do Natal de 2007. É verdadeiramente uma pena, pois se tivesse tido a atenção que realmente merece por parte da desenvolvedora, ele seria digno de cinco Alfredos.
O jogo segue revelando a história dos protagonistas através das missões subseqüentes, que acontecem em cenários bem variados, e quase todos focados na ação. Se você gosta de jogos deste tipo e não se deixa levar pela opinião alheia, aconselho que você o experimente. É claro que ele tem seus defeitos, mas nenhum deles é terrível o suficiente para tirar o brilho de Kane & Lynch que, aliás, já teve sua continuação confirmada. Espero que o próximo não peque no óbvio como este, pois esta franquia tem tudo para entrar no mainstream dos jogos de ação. Seria uma injustiça você se privar de jogar um título só porque alguns críticos “especializados” preferem acentuar os defeitos de um jogo a exaltar suas qualidades. Experimente os tiroteios, se sinta envolvido pela trama, e ria um pouco dos seus mercenários estúpidos. Tenho certeza que você não irá se arrepender.
Kane & Lynch: Dead Men é um jogo, mas poderia muito bem ser um filme. Enquanto jogava a primeira fase eu pensava com os meus botões: “Poxa, isto daria um filme bem legal”. Como minhas divagações raramente param no começo, comecei a pensar em quais atores poderiam estrelar a película. Cheguei aos nomes de Bruce Willis para o papel de Kane e Hugo “Sr. Elrond Smith” Weaving para o de Lynch. E não é que, para a minha surpresa, fiquei sabendo que a produtora Lionsgate, está mesmo pensando em fazer este filme? E os atores cotados para viver o assassino e o psicótico seriam respectivamente, Bruce Willis (A-há!) e Billy Bob Thorton (ainda prefiro o Agente Smith).
Enquanto você se pergunta sobre conspirações videogamísticas, ou como a Angelina Jolie podia dormir com aquele “galã” do Billy Bob, ou se a Eidos me corrompeu e me pagou para fazer uma resenha positiva deste título que todos falam mal, eu vou continuar jogando. No futuro, eu espero pela estréia de um filme com o nome de: Kane & Lynch – Os Fugitivos, ou pior Kane & Lynch – Monstro. Ou, quem sabe Kane & Lynch – Os Vingadores (mas não era Tango & Cash – Os Vingadores? Hum… jogo do Tango & Cash… será que um dia vão fazer?).