Palavras não conseguiam descrever minha decepção quando, depois de meses juntando dinheiro, consegui colocar minhas mãos na quarta aventura de Guybrush Threepwood, chamada aqui no Brasil de Fuga da Ilha dos Macacos. Até hoje não entendi porque pegaram um jogo perfeito, um verdadeiro desenho animado interativo (o terceiro jogo) e, ao invés de melhorá-lo, o pioraram tanto. Deve ser aquela maldita mania de usar apenas gráficos poligonais (será que os programadores esqueceram como fazer gráficos bitmap?). E, para piorar, ainda mudaram a interface, outrora perfeita, para comandos similares aos dos jogos de ação, usando o teclado. Santa heresia!
Tudo isso para dizer que a Pendulo Studios não cometeu em seu Runaway – A Road Adventure o mesmo erro que a Lucasarts em sua Ilha dos Macacos. Runaway traz de volta a interface tradicional dos adventures, que usa apenas o mouse. Além disso, embora os gráficos não sejam desenhos animados, como o Monkey Island 3 (graças à já citada mania de usar só gráficos poligonais) ainda são muito bonitos e caprichados, graças à tecnologia cel-shaded. Na verdade, é possível perceber as falhas dos gráficos poligonais apenas nas expressões dos personagens, que são completamente inexistentes. De resto, a parte gráfica é muito legal, principalmente os movimentos dos personagens.
A estória é clichezão: você é Brian Basco, um nerd que atropela uma bela guria fugitiva. Ela conta que o pai dela acabou de ser morto e que os assassinos estão atrás dela. Como todo bom nerd faria, Brian enxuga a baba e ajuda a garota. E quem diria, agora os assassinos estão atrás dele também. Cabe a você, e ao seu cérebro, guiar Brian através da aventura em que se meteu. No caminho, Brian vai conhecendo pessoas estranhas e vai ficando cada vez menos nerd, mudando completamente sua aparência. A grande sacada da estória é uma surpresa imensa que acontece próximo ao fim do jogo, mas você vai ter que jogar para descobrir qual é.
A dublagem é um ponto negativo. Enquanto as vozes dos personagens principais são boas a maior parte do tempo, as vozes dos coadjuvantes são péssimas. A discrepância entre as vozes é tão grande que nem parece o mesmo jogo. Outros problemas também estão presentes, como a imensa dificuldade para se encontrar itens no cenário. Acredite se quiser, mas às vezes, nem passando o mouse pela tela inteira você encontra o que precisa.
Merece destaque uma opção de instalação que instala apenas a fase que você está jogando no HD, substituindo-a conforme você avança no jogo e economizando um tremendo espaço do disco rígido. O único revés é ter que esperar uns cinco minutos entre cada fase. Mas não se preocupe, as fases são bem longas e essas pausas não chegam nem a encher o saco, já que são bem espaçadas. Como hoje a maior parte dos jogos ocupa de 2 a 3 GB no HD, essa foi uma ótima sacada da Pendulo que deve (ou deveria) ser seguida pelas outras fabricantes.
Outra boa sacada está na trilha sonora. A música tema do jogo comparece em várias versões, de acordo com a situação pela qual você está passando. Tem a versão original, que é rock, uma versão balada e até mesmo uma eletrônica, todas muito bem encaixadas no contexto.
O jogo não é muito longo (eu terminei em quatro dias) e é ótimo para quem, como eu, sente falta dos fantásticos adventures dos anos 90, tão em falta hoje em dia. Seus ótimos gráficos e sua interface point-and-click garantem a diversão. Runaway é, enfim, um adventure à moda antiga, ideal para quem quer relembrar a época que os jogos tinham gráficos bons (e redondinhos).
Runaway – A Road Adventure é triplo, está disponível apenas para PCs e ocupa, no mínimo 600 MB de espaço no HD.