The First Berzerker: Khazan é um soulslike cujas influências de Dark Souls são questionáveis. Isso porque ele é tão, mas tão, parecido com Nioh, que qualquer semelhança com Dark Souls faz com que a gente pense que elas vêm do fato de este ser cópia da cópia, e não do original. Há um lado bom nisso. Nioh é o melhor soulsborne, inclusive vencendo tudo que a From Software colocou no mundo. Mas ele não copia apenas o que é bom.
THE THIRD NIOH: KHAZAN
Muitas das cópias de Nioh são boas. Particularmente, eu amo muito o fato de as missões serem independentes. Você escolhe qual quer fazer num menu e segue em frente nela até vencer o chefe e ser transportado de volta para o hub. Isso traz de volta um grande problema de Nioh: cumprir cada missão libera duas ou três sidemissions, que não são opcionais. Claro, você pode não fazê-las, mas isso significa que vai ficar underleveled para as missões de história, cujos chefes já são difíceis paca quando você está overleveled.
Porém, The First Berzerker: Khazan ganha de Nioh na qualidade das sidemissions. Algumas de fato te colocam para explorar o mesmo cenário das missões de história, especialmente na segunda metade. Mas outras tantas, sobretudo no início, te levam para fases totalmente novas. E as que não levam ao menos alteram consideravelmente o layout principal para ficar menos repetitivo do que no jogo da Team Ninja. Como quase todo conteúdo opcional, seria melhor que não existissem, mas já que existem, elas não enchem TANTO o saco.
UM COMBATE DE STAMINAS
Uma cópia de Nioh que eu gosto é o uso da barra de stamina. Esvaziar a dos desafetos os deixa vulnerável para um big fuckin’ ataque, o que é uma mão na roda. Ter a sua esvaziada tem o mesmo efeito, então é melhor evitar. A cópia de Nioh, no entanto, vem no fato de os personagens humanos recuperarem a stamina automaticamente. Ficar sem apanhar ou atacar a recupera. Os monstros, por outro lado, têm uma stamina mais fixa, que se recupera com ataques específicos ou apenas depois de ficarem exaustos.
A maior parte do combate envolve eliminar totalmente a stamina dos oponentes. Isso é vital, especialmente nos chefes, em que ataques normais quase não fazem dano (em alguns casos, literalmente só é possível machucar os chefes quando eles estão exaustos). Então embora os combates com monstros sejam mais suaves, no sentido de que você pode recuar para pensar um pouco e analisar suas opções, Khazan incentiva fortemente que você seja agressivo e ataque ininterruptamente quando estiver lutando contra humanos.
LOOT E MAIS LOOT
Outra cópia de Nioh é o excesso de loot. Fazer qualquer coisa no jogo te dá um monte de breguetes classificados por cores, o que significa que, depois de cada missão, você vai ficar um bom tempo olhando menus para limpar o lixo. E 95% do que você recebe é lixo. Muitas vezes eu me via usando uma arma 30 níveis mais baixo do que meu personagem simplesmente porque as de nível mais alto eram mais fracas. Isso é um fenômeno que não entendo em videogames. Qual é o prazer em ficar limpando um inventário cheio de itens inúteis? Não é melhor que cada novo item seja valioso?
E falando em fenômenos que não entendo, The First Berzerker Khazan é mais um daqueles jogos sem absolutamente nenhuma funcionalidade online, mas que não tem pausa só para ser babaca. Tenho até uma história relacionada. Eu costumo jogar com uma garrafa de água do lado. Durante uma batalha com um chefe, a garrafa virou em cima do controle e mudou o canal da TV. Normalmente, eu simplesmente pausaria até voltar ao jogo, mas isso ofende a Neople. Eles preferem que, quando eu volte para o canal, veja a mensagem de “você morreu” e precise restaurar do checkpoint. Em outro momento, a pilha do meu controle acabou. Em um jogo normal, ele pausaria o jogo até eu poder trocá-las. Num jogo babaca sem pausa, você fica apanhando enquanto corre para trocar antes de morrer. Ei, pelo menos reviver aqui é imediato. Você aperta um botão na tela de morte e imediatamente reaparece na última fogueira. Sem sua XP, é claro.
MELHORIAS DE QUALIDADE DE VIDA
Aliás, apesar das últimas reclamações, há melhorias de qualidade de vida consideráveis aqui. De novo, era melhor simplesmente não perder XP quando morre. Mas se é pra ser assim, Khazan faz uma coisa muito legal: quando você morre em chefes, sua XP fica te esperando do lado de fora da batalha. Assim, você pode pegar o que perdeu e ir fazer outra coisa para subir de nível, sem a punição de deixar tudo lá no limbo. Também sempre há uma fogueira imediatamente antes da sala do chefe, e depois das primeiras missões, você sempre pode invocar um NPC para te ajudar na batalha.
No começo, este NPC é praticamente inútil, morrendo com um ou dois golpes. Você precisa usar o mesmo recurso que invoca ajuda para upá-lo, aumentando sua vida, ataque e stamina. Como o mais importante num NPC que ajuda em chefes é ele tirar o agro de você, enchi meu moleque de vida antes de upar todo o resto, e ajudou bastante. Este recurso pode ser conseguido matando revenants, cópias do personagem do jogador que ficam espalhados pelo cenário e podem ser chamados para uma luta. Como usei muito os NPCs para pular os chefes, acabei encarando estas batalhas como inimigos padrão que eu encarava sempre, mas cuja batalha iniciava nos meus próprios termos. Dito isso, os chefes são muito, muito ruins.
EU ODEIO OS CHEFES DE KHAZAN

Não é segredo: eu não gosto de chefes. Mas os de The First Berzerker Khazan são consideravelmente fracos. São todos batalhas de resistência, longas demais. Mais longas até do que difíceis propriamente ditas. Um combo completo com meus ataques mais fortes costumava tirar um tracinho da vida dos miseráveis. Assim, a maioria deles eu até vencia de primeira, mas nunca era divertido. Nunca aconteceu de uma batalha terminar e eu pensar “isso foi legal”. A sensação era sempre de alívio, indo do “finalmente acabou” até “nunca mais quero fazer isso na vida”.
Em alguns casos, o chefe ressuscita depois da primeira barra de vida para uma segunda fase mais poderosa. O último chefe não tem duas fases, mas TRÊS! Nunca na minha vida, a música continuar e a barra do chefe encher de novo foi uma boa surpresa, mas os jogos continuam fazendo isso. Ele até repete aquele momento marcante do Sekiro, em que você corta a cabeça de um chefe, aparece Shinobi Execution e daí o chefe ressuscita, sabe? Aqui o chefe entra num caixão, o que me fez pensar que ele iria sair de novo. Daí aparece Mission Completed e logo em seguida o chefe sai do caixão para brigar de novo. É só mais um exemplo de como Khazan é criativamente falido.
HORA DE DESISTIR

Teve uma hora que por muito pouco, Khazan não me fez desistir. Isso foi, claro, em um chefe, perto do final da campanha. Um tal de Hismar, um dragão que é citado com frequência na história. Este chefe é uma coletânea de decisões terríveis. Você pode mirar apenas na cabeça, mas como ele é enorme, seus ataques não a atingem a maior parte do tempo, mesmo que você use a lança, a arma mais longa. Dá para atacar a perna, mas daí como você não está mirando no monstro, fica difícil de ver seus ataques e evitá-los. Quando a sua stamina é esvaziada, ele cai e normalmente te prende em algum lugar, te deixando impotente para se posicionar num local extremamente específico da sua cabeça para conseguir fazer o grande ataque.
Para terminar, não é um chefe especialmente difícil ou desafiador. Ele só tem uma vida enorme. Os ataques do herói quase não fazem a barra de vida dele esvaziar e o super ataque é difícil de fazer funcionar: isso quando você consegue esvaziar sua stamina. É uma batalha tão absurdamente longa que não é nem que você não consegue se curar e ficar vivo. O problema é que ela dura tanto que você vai usar todos seus itens de cura e acabar morrendo simplesmente porque não tem mais poções de vida. Este é um dos chefes mais mal planejados que vejo em um game desde aquele chefe do DLC de Doom Eternal, e é incrível que ele seja assim mesmo no fácil. Curiosamente, se você passar do Hismar, vai ser premiado com as duas últimas fases, que são de longe as melhores do jogo. Por falar nisso…
OPÇÕES DE DIFICULDADE
E sim, vale dizer que The First Berzerker Khazan tem opções de dificuldade. Isso é ótimo. E eu me vi obrigado a mudar para o fácil logo no primeiro chefe. Porém, ao contrário do que esperava, eu não obliterei o chefe com facilidade no supostamente modo fácil. Até fiquei um tanto ofendido com o fato de que a dificuldade padrão é descrita como “para quem gosta de jogos de ação” e a fácil como “para quem não está acostumado a jogos de ação”. O mais correto seria chamar o fácil de “soulslike”, pois a dificuldade é meio que no mesmo nível. Quem não está acostumado a jogos de ação não vai ter a menor possibilidade de vencer sequer o primeiro chefe. Aliás, me surpreenderia se a pessoa conseguisse chegar ao chefe.
Eu não senti necessidade de subir a dificuldade depois de descer (na verdade queria descer mais), mas o jogo não permitir isso é pura miopia. Por que caboclo não pode diminuir a dificuldade de um chefe e depois voltar ao normal? Aliás, eu passei de quase todas as fases no fácil com pouquíssima dificuldade, mas sofri pra caramba em boa parte dos chefes, o que mostra que há um desequilíbrio aí.
KHAZAN É UM BOM NIOH-LIKE
Apesar das minhas críticas, eu gostei de Khazan. Pelo menos das fases. Elas são um tanto mais lineares do que o padrão no gênero, mas são muito boas. E contra inimigos normais, o combate é muito bom e agradável. Eu não ficar desesperadamente procurando por atalhos e fogueiras também ajudou muito a curtir o jogo, que em seus melhores momentos me lembra como eu sentia falta de uma experiência assim (embora ainda prefira que seja mais fácil).
O visual dos personagens, estilo animê, é muito legal também, mas destoa das fases em si. Os personagens são coloridos, mas o cenário é quase completamente cinza. O jogo é tão cinza que até uma fase que era verde virou cinza, consegue imaginar isso? Os gráficos são legais, bem detalhados. Há muita coisa para você olhar e admirar enquanto explora as fases, mas simplesmente falta cores. As duas últimas fases são as mais coloridas, e portanto as mais interessantes. O fato de Khazan ser praticamente monocromático faz com que detalhes bacanas do cenário passem batidos. Este é definitivamente um jogo que precisava usar cores com menos parcimônia e criatividade.
495103

O que é 495103? Pois é, eu também queria saber. Você pode ver este número pequeno no canto inferior esquerdo de todas as imagens desta matéria. Este número fica lá o tempo todo, como uma marca d’água. Seu hud some. Até os inimigos somem quando você se afasta deles (literalmente, draw distance e tal), mas este número está sempre ali, seguro em sua missão malvada de causar burn-in na sua TV. O mais frustrante é que o jogo não dá nenhuma explicação para isso. Seria a versão que você está jogando? E se for, por que a Neople julgou importante mostrá-la o tempo todo, quando informações muito mais importantes, como o nível do personagem, só podem ser encontrados dentro de menus. Ninguém sabe.
Talvez 495103 seja a quantidade de cópias que a Neople pretende vender. Talvez seja a quantidade de vezes que eles esperam que você jogue a campanha. Seja como for, embora eu tenha gostado do jogo, ele é exaustivamente longo. Eu já estava muito pronto para que ele terminasse, fui ver a lista de missões e literalmente não tinha chegado ainda à metade. Vale a pena jogar The First Berzerker Khazan? Vale sim. Mas prepare-se para uma campanha longa, dificuldade desregulada e chefes muito ruins. Se conseguir lidar com isso, o resto do jogo é bacana e empolgante. Mas mais importante ainda: 495103!