Frontier Hunter: Erza’s Wheel of Fortune é continuação de Tower Hunter: Erza’s Trial, de 2019. Se o anterior era um roguelite, este segue um paradigma muito mais tradicional. Temos aqui um metroidvania mais clássico, ou seja, não é um soulslike. Também não é um metroid-like. Ele segue o outro lado do gênero, em especial se parece muito mesmo com Castlevania Symphony of the Night, pois traz todas as mecânicas de RPG, customização e equipamentos. Se quiser uma comparação mais moderna, é impossível não pensar no Igavania mais recente, Bloodstained.
REVIEW FRONTIER HUNTER ERZA’S WHEEL OF FORTUNE
Frontier Hunter Erza’s Wheel of Fortune é um jogo muito bonito e com músicas fantásticas. Seu visual 2.5D é simples tecnicamente, mas traz um excelente uso de cores e alta qualidade artística. Entrar em uma nova área normalmente vem acompanhado de uma exclamação, do tipo “uau, olha este cenário!”. A música demora um pouco mais para conquistar do que em um Castlevania, mas em geral as canções embalam a ação de forma bem apropriada e gostosa, quando não totalmente pegajosa.
O principal gimmick de Frontier Hunter é você ter três personagens distintos e poder alternar entre elas a qualquer momento. Cada uma das meninas pode equipar armas diferentes e tem seus próprios ataques e especiais. Felizmente, upgrades de movimentação, como pulo duplo ou nadar se aplicam a todas, o que evita que você tenha que mudar de personagem só para subir em uma plataforma. A diferença é mesmo o combate. E este é bem diferente entre elas.
PORRADINHA
A protagonista Erza é bem a heroína tradicional de um metroidvania, estilo Alucard mesmo. Ela usa armas como katanas, lanças e chicotes, cada uma com combos e especiais diferentes. Mas talvez a mais única seja Ciara. Ela chuta (sua arma são botas), mas o mais especial são suas armas de fogo. Estas podem ser metralhadoras, snipers, etc. As metralhadoras são capazes de causar stunlock na maior parte dos inimigos, inclusive chefes. Isso torna a menina vital para algumas batalhas específicas, ainda que não seja sempre a melhor opção.
A terceira, Niel, para manter sem spoilers, é um cara que se identifica como menina. Ela é num esquema rogue. Ou seja, tem dano crítico maior e é um tanto mais frágil. Pode equipar duas adagas, espada com escudo (que permite atacar e defender ao mesmo tempo) e luvas de boxe.
Além das diferenças de combate, cada uma delas tem estatísticas e upgrades de combate separados. Felizmente, todas ganham XP na mesma medida, então todas sobem de nível conforme você joga, mesmo que prefira não usar alguma delas. Cada equipamento também pode ser equipado com núcleos dos inimigos, que devem ser encaixados em slots livres para dar habilidades passivas, como regeneração de mana mais rápida e estatísticas melhores. Então a parte RPG é bastante elaborada, especialmente para quem espera uma experiência mais direta no estilo Metroid.
FRONTIER HUNTER É UM VANIA BEM TRADICIONAL
O mapa é daquele estilo tradicional, em quadradinhos que mostram as saídas de cada tela. Na verdade, tirando a troca de personagens, todo o resto do jogo é bem o que se espera de um “Igavania”. Tem um monte de chefes bacanas e impressionantes, vários tipos de inimigos e level ups constantes.
Uma coisa bacana é que o jogo tem cutscenes completas, com vozes e animação. Elas não são graficamente impressionantes – obviamente não espere nível Naughty Dog aqui – mas é bem raro termos cutscenes animadas em um jogo 2D. Ou 2.5D, que seja. Nem toda a história é contada desta forma, no entanto. Tem também cenas que são apenas faladas com imagens estáticas e outras que trazem apenas textos, sem falas.
O jogo tem duas opções de idioma falado (japonês e chinês). Normalmente nestes casos em que uma obra claramente não tem o inglês como idioma original, eu opto por legendas e textos em português. Porém, ainda enquanto navegava pelas opções, vi o nível da tradução para o nosso idioma. Traduzir dash como “corrida rápidado”? Não, obrigado. Usei legendas em inglês mesmo. Esta também tem erros de digitação/tradução, e vários momentos em que o texto fica fora da tela. Outras cenas passam mais rápido do que é possível ler. Então Frontier Hunter claramente precisa de um melhor polimento. A performance também é bem fraca, com framerate instável e longas telas de carregamento, especialmente para um jogo tão simples visualmente.
FRONTIER HUNTER E A MODA DOS JOGOS INFINITOS
O que mais atrapalhou minha diversão aqui não foi nada disso, mas a duração absurda dele. Este é o tipo de jogo que é bacana por cinco, dez horas. Mais do que isso é forçar a amizade. Frontier Hunter durou 26 horas para mim. É simplesmente tempo demais para o que ele oferece. Chega a ser desesperador você jogar por 30 minutos e ver que sua taxa de exploração do mapa aumentou apenas 1%. Às vezes nem isso. Chegou uma hora em que eu abria os troféus para tentar ter uma ideia de quanto jogo ainda tinha pela frente.
Esta tendência de qualquer jogo ser extremamente longo é algo que tem me deixado bastante cansado ultimamente. Especialmente em casos de jogos que simplesmente não tenham uma cauda tão longa. Mesmo com cenários, inimigos e gameplay variados, alguns jogos simplesmente não devem durar dúzias de horas.
SINFONIA DA NOITE
Curiosamente, este é um problema que também tenho com o clássico Symphony of the Night. Toda aquela segunda metade do jogo, com o castelo de ponta cabeça, é totalmente desnecessária e muito inferior ao que veio antes. No caso deste, as últimas fases são bem legais, mas acredito que a maior parte das pessoas vai encher o saco antes de chegar a elas. E o esgoto, que vem antes dessa parte mais legal, é possivelmente a fase mais chata que já vi num metroidvania.
Frontier Hunter Erza’s Wheel of Fortune é um jogo bacana. Ele compensa sua falta de criatividade com uma apresentação e gameplays bacanas. Porém, problemas técnicos e o fato de não saber quando acabar prejudicam a experiência como um todo. Recomendo o jogo para quem sente falta deste estilo de metroidvania antes dos soulslikes dominarem o gênero, mas só os fãs mais dedicados vão de fato se divertir, ou mesmo chegar, até o final.