Graven foi totalmente inesperado para mim. Eu via os vídeos de uso de magia e ataques constantes, e sinceramente esperava que fosse um boomer shooter. Sim, ele se dizia inspirado por Hexen, mas admito que não joguei muito este, e achei que se referia ao uso de feitiços. Para minha surpresa, Graven é muito mais aberto. É um metroidvania em FPS com gráficos retrô, e eu sinceramente nunca tinha jogado algo assim antes.

GRAVEN

Graven, 3D Realms, FPS, Metroidvania, Delfos
Como eu amo este visual!

Dito isso, minha primeira impressão foi ruim. Eu demorei um pouco para curtir os gráficos e mais ainda para começar a saborear sua proposta. Mas quando isso aconteceu, a coisa clicou forte. Especialmente pelo fator novidade. Eu pensava em outros jogos que ele me lembrava, como o próprio e sempre citado Dark Souls, mas o fato de ter gráficos e jogabilidade no estilo de um retro-shooter o torna muito especial.

Quando peguei o primeiro feitiço, e meu personagem abriu um livro, imediatamente exclamei “que legal”. Porém, até onde cheguei, os feitiços simplesmente não servem para atacar. Peguei dois, um de fogo e um de eletricidade. O primeiro queima algumas coisas muito específicas do cenário, mas não inimigos. O segundo deixa os monstros parados por alguns segundos e serve para ativar máquinas. Basicamente, os feitiços que eu encontrei são mais utilitários do que parte do arsenal.

O ARSENAL

Graven, 3D Realms, FPS, Metroidvania, Delfos

O arsenal envolve um cajado e uma espada, além de alguns tipos de atiradores mecânicos. O que mais usei funciona como uma escopeta, com alto dano a inimigos próximos. Outros servem para atacar de longe. Mas especialmente no início do jogo, eu focava em usar mais a espada. Embora não seja tão gostosa de usar, ela não precisa de munição. E este é daqueles jogos que permite carregar muito pouca munição ao mesmo tempo, o que te deixa facilmente às moscas – ou melhor, às espadas.

Neste aspecto ele lembrou um bocado o System Shock. Conforme você vai pegando armas e poções, elas vão sendo colocadas no menu de atalhos. Eu demorei muito mais do que gostaria para perceber que eu podia editar aquele menu para melhorar a ordem e o que queria carregar.

Infelizmente, o espaço é limitado e as armas ocupam vários quadrados. Equipando a espada, a “escopeta” e a “balista” eu literalmente fiquei sem espaço para colocar as poções de cura – e só dá para usar o que estiver nos atalhos. Na verdade Graven peca por não segurar sua mão nem um pouquinho.

GRAVEN NÃO SEGURA SUA MÃO

Graven, 3D Realms, FPS, Metroidvania, Delfos
Hum, vem sempre aqui, gatão?

Não há tutoriais, waypoints nem absolutamente nada que te mostre o que é possível no jogo. Só depois de umas cinco horas, por acaso interagi com um altar que aumentou minha mana. E o troço não parecia interagível, apenas um detalhe do cenário. O mesmo vale para o caminho. Sem nenhuma ajuda e um mundo cada vez mais aberto, é muito fácil se perder.

Eu passava em poucos minutos do desespero de ter muitos caminhos ao mesmo tempo para a sensação de ter visto tudo que estava aberto para mim e sem lugar para ir e progredir. Graven é o tipo de jogo que não é gostoso jogar sem guias, e não tem guias apropriados. Eu achei vários vídeos de full walkthrough, mas estes vídeos, além de durarem várias horas sem índice, são cortados (fica muito confuso!) ou envolvem o jogador procurando seus caminhos (fica muito entediante!). Não tem um jeito fácil no momento em que escrevo isso de usar a internet para “desencalhar”. E isso me desanimava toda vez que voltava para Graven.

Mas ok, sei que tem gente que gosta de se perder neste tipo de cenário, e entendo isso. Mas tem uma coisa que não entendo, e que atrapalha consideravelmente a experiência.

SAVES SEMPRE VOLTAM DO MESMO LUGAR

Graven, 3D Realms, FPS, Metroidvania, Delfos

Graven salva constantemente. Se você perdeu vida, ele salva. Se usou um consumível, ele salva. Morrer te coloca em checkpoints que são até frequentes, e não revive os inimigos. Isso é bom, porque a aparição de inimigos em lugares previamente limpados significa que há algo novo lá para ser explorado.

Porém, se você fecha o jogo e volta outra hora, ele sempre te coloca de volta na cidade que serve de hub e todos os inimigos reaparecem. Itens coletados, portas abertas, atalhos desvendados, são salvos. Mas sua localização não. É como se sempre que você parasse de jogar Dark Souls voltasse ao Firelink Shrine. Consegue imaginar quão limitador e pentelho seria?

GRAVEN SEM QUICK RESUME É INJOGÁVEL

Graven, 3D Realms, FPS, Metroidvania, Delfos

Você volta para a cidade em vários momentos, mas com horas separando cada visita. E estes são os únicos momentos em que você pode parar de jogar com alguma tranquilidade. Isso simplesmente não funciona para mim. A única solução que pensei foi usar o quick resume do Xbox Series X, e isso me fez perceber um grande problema: o quick resume não funciona sem internet.

Pois é, no processo de cobrir Graven, deixei o jogo gravado no quick resume e fui dormir. No dia seguinte, acordei sem internet. E daí quando fui reabrir o jogo, ele disse que precisava fechar “porque eu tinha jogado em outra máquina e ele queria sincronizar o save”. Fiz testes com outros jogos que estavam no quick resume e todos deram a mesma mensagem de erro. Foi uma combinação infeliz, de eu precisar do quick resume justamente quando ele não estava disponível para mim. Mas como o jogo pode exigir isso? E como as pessoas nas outras plataformas fazem quando precisam parar de jogar? Isso é muito mal pensado!

A GOTA D’ÁGUA

Graven, 3D Realms, FPS, Metroidvania, Delfos

Todas essas coisas me incomodaram, mas não me fizeram parar de jogar. Apesar dos pormenores, eu gostei muito de Graven. Algo, no entanto, me venceu. Depois de cerca de oito horas de jogo, eu cumpri um grande objetivo, e meu log falava para eu ir até a ponte que ficava paralela à lighthouse. Eu sei qual é a lighthouse, mas não achei a tal ponte paralela. Poderia ter buscado algum vídeo para me guiar. Mas acontece que exatamente neste ponto – e neste local do mundo, por onde tinha passado sem problemas antes, começou a aparecer uma quantidade absurda de monstros.

Tipo, com minha munição cheia eu conseguia matar, sei lá, 15 inimigos. Daí comecei a ser perseguido por dúzias e mais dúzias. Cada vez que virava uma esquina, mais 15 inimigos passavam a me seguir. Tentei lutar, minha munição acabou e parecia que tinha ainda mais inimigos do que quando comecei. Era simplesmente impossível vencer todos. Tentei passar correndo, mas a quantidade de inimigos só aumentava e eu morria em poucos segundos. Não sabia para onde ir. Encontrar o caminho certo sendo constantemente perseguido, atacado e morrendo não dá.

O FIM DA MINHA AVENTURA COM GRAVEN

Graven, 3D Realms, FPS, Metroidvania, Delfos
Nesta imagem dá para ver quatro, mas tem dezenas mais atrás de mim e do outro lado da passagem.

Fui obrigado a desistir. Sinceramente, parece que deu algo errado no meu save. Para um jogo que constantemente me colocava contra três ou quatro inimigos por vez, de repente ser confrontado por 20 ou 30 parecia errado. Especialmente quando mudei para a dificuldade mais baixa, em que ele diz que meu único desafio seriam os chefes, porque teria poucos inimigo no jogo. Some isso ao save que me volta geograficamente pro início toda vez que paro de jogar e a falta de internet que quebrou meu quick resume (e demorou mais de um dia inteiro para voltar) e Graven simplesmente se tornou não jogável.

Sabe o que é pior? Até então eu gostei muito do jogo. Amei os gráficos, a atmosfera, o design. Quando estava selecionando as imagens para este review Graven, fui tomado por uma incontrolável vontade de voltar e tentar de novo. Mas como diz o Danny Glover, sou velho demais para essa patacoada. Não dá para ficar batendo a cabeça contra todas as paredes que Graven colocou no caminho. Assim, queria muito jogar mais, mas a vida é curta demais pra lidar com tanta frustração. Por falar nisso, parece que o DLC de Elden Ring já saiu. Bora?