Se tem um filme que eu passei os últimos meses ansioso para ver, este é Tudo em Todo o Lugar Ao Mesmo Tempo. Poxa, olha só o gênero dele segundo o IMDB: Ação, aventura, comédia, fantasia, sci fi. Fala sério, é um caldeirão de tudo que nós, nerds, gostamos. Só falta mesmo terror para completar a poção mágica. Quer saber se eu gostei? Ora essa, então venha ler minha crítica Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo!
CRÍTICA TUDO EM TODO O LUGAR AO MESMO TEMPO
Tem uma forma bem fácil de definir Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo. Imagine comigo, caro delfonauta, como seria se Douglas Adams tivesse criado Matrix. Se você conhece as referências supracitadas, sabe exatamente o que vai encontrar aqui. Mas não prie cânico, pois vou elaborar mais.
Aqui conhecemos uma família de sino-estadunidenses que vive uma vida totalmente mundana. Eles têm uma lavanderia, e uma filha. E estão com problemas com a receita federal. Porém, essa rotina tão humana logo se tornará espetacular. No elevador da receita, o marido Waymond (Ke Huy Quan) vira pra patroa Evelyn (Michelle Yeoh) e diz que ela é especial e que todos os mundos de todos os universos estão em perigo. Está armada a confusão.
DE MATRIX…
Temos muito de Matrix. Da influência estética dos filmes orientais à temática budista, passando pelas lutas muito bem coreografadas. E, claro, a história em si – que também é uma variação da jornada do herói – é bem parecida.
É curioso que Matrix parece um filme de kung fu chinês whitewashed para as mentes sensíveis dos estadunidenses. Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo parece de fato algo vindo da China. E nem é o tradicional filme de kung fu tipo exportação que eles fazem tão bem. Embora tenha muitas lutas estilosas, a estética geral aqui tem cara de uma novela chinesa. E isso se estende aos filtros e até às atuações.
As atuações, aliás, são deliciosamente ruins. Tipo intencionalmente ruins, manja? É tudo extremamente exagerado, mas de uma forma engraçada e carismática. Lembra bastante o que vemos em novelas chinesas, mas talvez esse tipo de atuação lhe seja mais familiar pelos animês. Todos os atores parecem estar se divertindo muito e esbanjam carisma, especialmente o núcleo familiar composto pela Michelle Yeoh, Stephanie Hsu e Ke Huy Quan. E já que falamos em humor e carisma, vamos falar…
DE DOUGLAS ADAMS…
Matrix é o suprassumo do blockbuster. A típica amálgama de culturas feita por estadunidenses com muito dinheiro. Sabe o que é o oposto disso? Os livros de Douglas Adams, em especial, claro, O Guia do Mochileiro das Galáxias.
Acredito que boa parte dos meus leitores já teve contato com essa obra e convenhamos, ela é estranha. Estranha pra burro. E é justamente isso que a torna tão interessante, especial e, por que não? Até fofinha.
Todas essas características podem ser facilmente encaixadas em Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Por exemplo, de Matrix, eles pegam a ideia de poder “fazer download de poderes e habilidades das outras dimensões”. Bem naquele esquema “eu sei kung fu”, manja? Porém, para ativar o download em si, é necessário fazer alguma coisa estranha e absurda. Quanto mais absurda, mais eficiente.
Lendo isso, você, delfonauta criativo, já deve ter imaginado várias possibilidades engraçadas. E claramente a turma que fez o filme se divertiu adoidado nisso. Essa mesma piada, “faça uma coisa estranha para ganhar superpoderes” é repetida mais de uma dúzia de vezes no filme. E eu gargalhei em literalmente todas elas. Aliás, fazia muito tempo que não gargalhava tão gostoso no cinema!
CENAS DE LUTA
As cenas de luta seguem a mesma linha. São estilosas como Matrix, mas estranhas como Douglas Adams. Ocidentais como nós provavelmente vão ligá-las ao estilo de um Jackie Chan. Ou seja, é cartunesco, exagerado e engraçado. Aliás, é bem mais exagerado e absurdo do que qualquer filme do Jackie Chan.
Ele também faz um excelente uso do conceito de multiverso. Em vários momentos da história, você acompanha umas dez narrativas ao mesmo tempo (e isso não é hipérbole). Deve dar um tremendo trabalho dirigir e editar um longa como esse, com o objetivo de contar uma história que acontece em multiverso, de forma contida. Acredite, aqui esse conceito é usado de forma muito mais ambiciosa e complicada do que em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura.
Cá entre nós, minha mente sensível influenciada por Hollywood acha Matrix esteticamente muito mais bonito. Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo usa filtros dos quais não gosto e que deixam a cara da obra mais suja e feia. Dito isso, o trabalho dos diretores e roteiristas “Daniels” é realmente de se admirar. Eles tinham uma estética, um conceito e uma narrativa complicados, e conseguiram juntar tudo em um longa que alguns podem considerar difícil de acompanhar, mas que funciona muito bem como uma obra completa.
TERMINANDO A CRÍTICA TUDO EM TODO O LUGAR AO MESMO TEMPO
Aliás, se for colocar meu chapéu de crítico chato para colocar um defeito aqui seria em quanto ele se estende no final. Eu fiquei com uma sensação de O Retorno do Rei, porque Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo quer fechar dezenas de narrativas com um lacinho de presente. Assim, não interessa se um universo foi usado apenas para uma piada de uma única cena, ele vai receber seu devido final feliz.
Eu até entendo o objetivo e a intenção, mas penso que poderia gastar menos tempo nessa conclusão. Afinal, neste ponto o filme já passou do clímax, já apresentou sua mensagem, já está bonito e formoso, sem nada mais a dizer. Mas ele continua por um bom tempo ainda.
Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo é um filme tão difícil quanto seu nome. Se tem gente que não entendeu o final de Lost, com certeza vai ter gente boiando por aqui. Mas o legal é que é também tão bom quanto seu título. E acaba sendo um título perfeito para ele. Afinal, vemos literalmente Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo. O mais legal? Dá pra se divertir e gargalhar o tempo todo. Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo é literalmente o melhor filme sobre multiverso do ano. E muito provavelmente será também o mais engraçado.