Não sei se sou eu que ando mais romântico ou se são os filmes sobre amor que melhoraram. Talvez simplesmente estejamos vivendo em uma época menos inocente, que se reflete no cinema através da troca da abordagem boba do “felizes para sempre” por um viés mais racional, por um romance que exige esforço para dar certo. E é justamente esse tipo de história de amor que me agrada.
O que me chamou a atenção em 2 Dias em Paris foi a diretora. Mais especificamente, o fato de que a dita-cuja, doravante chamada de Julie Delpy, foi a protagonista do filme mais romântico da história segundo eu mesmo. Pois é, caro delfonauta, mais ou menos a mesma história deste aqui, cujo diretor, Ethan Hawke, foi justamente o par romântico da senhorita Delpy em Antes do Amanhecer.
Esse fato torna bastante difícil não comparar 2 Dias em Paris com Um Amor Jovem, mas essa comparação, embora inevitável, está fadada ao fracasso. Afinal de contas, o longa de Ethan Hawke é um drama mais denso. Aqui, temos um filme mais leve, tendendo à comédia, embora nada tenha a ver com o que normalmente é chamado por aí de comédia romântica.
Em 2 Dias em Paris, acompanhamos o casal formado por Julie e Adam “O Corrales vive me confundindo com o Jason Lee” Goldberg que, durante uma viagem pela Europa, decidem visitar a família da moça, em Paris. O cenário e o início do filme, aliás, lembram muito Antes do Amanhecer e sua continuação Antes do Pôr-do-Sol, e seria legal que seguisse por esse caminho, com diálogos rápidos e diversos pensamentos sobre o amor e os relacionamentos. Contudo, depois de algum tempo, a história acaba abrindo mão disso para entrar em um humor mais fácil, com joguinhos de ciúmes e coisas do tipo. Afinal, se estamos na cidade onde a moçoila cresceu, nada mais natural do que encontrar seus antigos namorados – e a boa relação que ela mantém com eles (que beira a provocação gratuita), vai incomodar o pobre mancebo que só queria passar alguns dias relaxantes no velho mundo.
Quando esses joguinhos de ciúmes entram na história, infelizmente, o filme se perde. Vai de um excelente filme de amor, candidato até mesmo a receber o Selo Delfiano Supremo, para uma comédia quase estadunidense. Veja bem, quase. Isso porque apesar do caminho fácil, ainda sobram alguns ótimos diálogos, excelentes atuações e até mesmo traços daquele humor fofinho tipicamente francês, que a maioria de nós deve ligar imediatamente às aventuras de Asterix e Obelix.
Para piorar os defeitos supracitados, o final é um tanto aberto demais, não deixando claro qual será o destino dos personagens. A sensação é de que a projeção foi cortada antes da última cena, manja?
No final das contas, a escolha acaba sendo sua. 2 Dias em Paris é um ótimo filme de amor estragado por escolher caminhos fáceis ou é um romance tradicional complementado por diálogos afiados e ótimas atuações? De qualquer forma, uma coisa é certa: ele vale o ingresso, mas podia ser bem melhor.
Curiosidade:
– A programação do DELFOS é feita semanalmente, normalmente na segunda ou terça da semana anterior. Por causa disso, a falta de organização das distribuidoras nacionais me irrita muito. Por exemplo, o delfonauta atento deve ter reparado discrepância entre as datas de estréia e as publicações de resenhas como Sicko ou A Morte de George W. Bush. Quando dá, a gente até arruma para deixar direitinho, mas algumas vezes a coisa é feita tão em cima da hora e tão porcamente que não tem muito a ser feito. No caso deste filme, ele tinha um “lançamento indefinido” e só avisaram que a estréia seria essa semana no final da tarde de terça-feira, o que bagunçou a nossa programação e fez com que tivéssemos que colocá-lo no ar às pressas. A resenha já estava pronta, é claro, mas acrescentar um textão na programação de uma semana cheia não é legal nem recomendável. É pedir muito um pouco de profissionalismo e planejamento prévio?