Wolfmother – New Crown

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Você pode nunca ter ouvido o autointitulado primeiro álbum do Wolfmother, mas eu apostaria meu braço esquerdo que já ouviu ao menos um de seus muitos singles. Joker & The Thief, White Unicorn, Vagabond e, em especial a instantaneamente reconhecível Woman, foram usadas em incontáveis filmes, séries, jogos, comerciais de TV e afins. Os caras estavam em todas, e levaram prêmios a torto e a direito.

Quatro anos depois deste multiplatinado sucesso, veio o segundo disco, o Cosmic Egg. Não chegou a ser como o primeiro, que até hoje eu ouço sem ter vontade de passar nenhuma faixa, mas ainda é ótimo, e vale só pelo primeiro single, New Moon Rising:

Estes álbuns são dois dos melhores que o chamado Stoner Rock tem a oferecer. Mas se comparados a outras bandas do gênero, como Monster Magnet, Priestess e os brasileiros do Black Drawing Chalks, eles tem um quê a mais. Aquele talento mágico de Haim, Tame Impala e outros artistas que conseguem reproduzir fielmente o estilo de bandas clássicas, fazendo parecer que vieram de várias décadas atrás, e ainda soarem modernos e recentes.

Ao ouvir Wolfmother, com seus riffs marcantes e os vocais do frontman Andrew Stockdale, não tem como não pensar em Led Zeppelin, Deep Purple e, quem sabe, até um pouco de Black Sabbath. E apesar disso, também não dá para confundí-los com ninguém, e é isso que os fez tão carismáticos. E eu comento tudo isso só para ilustrar quanta expectativa um terceiro álbum automaticamente traria se viesse. E eu disse “se”, porque ninguém sabia direito qual seria o destino da banda.

Apesar de talentosíssimo, Stockdale parece ser um tanto instável. O baixista e o guitarrista originais sairam da banda em 2008 e, desde então, muitos outros já passaram e se foram. Até que ano passado ele decidiu que colocaria o Wolfmother em hiato para lançar seu primeiro álbum solo, o Keep Moving (que por sinal, não é grande coisa).

Parecia ser o fim do Wolfmother. Mas esse hiato durou pouco. No finalzinho de março, surgiu do nada o New Crown, terceiro álbum da banda, financiado, gravado e produzido pelo próprio Stockdale, e lançado digitalmente no BandCamp.

O resultado são 11 faixas que provam que a banda ainda tem jeito. Os riffs tão característicos ainda estão lá, firmes e fortes, desde How Many Times, que abre o disco.

I Ain’t Got No e Heavy Weight provam que Andrew ainda domina também a arte dos refrões grudentos. E em outras faixas, como Feelings e She Got It, que têm super cara de Punk Rock, eles mostram que ainda têm muitas influências interessantes que podem explorar e agregar à mistura.

No entanto, você já viu pela nota que foi um álbum medíocre. Isso porque apesar de terem sido bem escritas, as músicas foram muito mal gravadas. Depois de produzidos por caras renomados como Dave Sardy e Alan Moulde, um álbum como esse, que parece não ter tido produção nenhuma, soa estranho. Algumas partes soam descoordenadas, fora de sincronia. Algumas faixas são muito repetitivas, e poderiam ter um minuto inteiro a menos sem nenhum prejuízo. Estes são detalhes que seria trabalho de um produtor corrigir, cortar ou mandar refazer. Até a qualidade do som, em si, ficou ruim. Em algumas faixas isso é tão incômodo que eu senti vontade de abaixar o volume, uma reação totalmente contrária à desejada.

Como eu ouço muito Punk e muitas bandas independentes, eu não costumo ser exigente quanto a essa parte técnica. Se este fosse o primeiro álbum de uma banda que está emergindo agora, eu o elogiaria e diria que eles têm muito futuro. Mas para uma banda que já chegou como eles chegaram, este álbum soa simplesmente malfeito, interminado. Ok, ele é a tentativa do Stockdale de trazer a banda de volta, mas sendo assim, deveria ter sido lançado como um EP ou algo do tipo. Anunciar um novo álbum de estúdio e entregá-lo assim cru, me parece uma atitude muito pretensiosa, decepcionante para quem acompanha a carreira deles.

Sendo assim, eu não culpo os muitos que estão interpretando o New Crown como um sinal claro de decadência. Mas otimista como sou, estou tentando encará-lo como o início de um novo Wolfmother que, com sorte, vai retornar aos seus padrões de qualidade nos futuros álbuns. Afinal, o talento, que é o mais importante, ainda está lá.