Wii U

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HÁ MUITO TEMPO
PEGO OS COGUMELOS
QUANTA DIVERSÃO

Acho que todo gamer na minha faixa etária – eu tenho 33 indo para os 34 – lembra com muitíssimo carinho da época do NES e Master System e do Super NES e Mega Drive. Eu tive um Atari 2600, mas mesmo na época não via tanta graça nos jogos que, em sua maioria, eram muito limitados e repetitivos. A minha vida gamer começou de verdade quando ganhei o Phantom System no meu aniversário de 11 anos. Um dos primeiros jogos que joguei foi, é claro, Super Mario Bros. 1. Como a primeira impressão é a que fica, no meu cérebro o que colou foi que Super Mario Bros = videogame, e desde então a Nintendo sempre representou melhor o que eu chamo de videogame. Infelizmente, muito tempo se passou e as coisas mudaram um bocado.

REALISMO DEMAIS É
BECO CINZENTO
SEM CORES POR QUÊ?

Uma coisa que me incomodou bastante na geração PS3/XBox 360 foi como o mercado dos games mudou do Japão pros EUA e Europa e, por consequência, a mentalidade de fazer jogos passou a ser outra. Mesmo o PlayStation 3, que é japonês, tem jeito de estadunidense. Deve ser porque eu não acompanho, mas a sensação que tenho é que toda semana sai um novo Call Of Duty e eu imagino que eles não sejam tããão diferentes entre si.

Na minha época favorita dos games, a esmagadora maioria dos jogos era japonesa, e é óbvio que a nacionalidade não é importante, mas o espírito da coisa é completamente diferente. Guardadas as devidas proporções, isso lembra um pouco a diferença entre cinema japonês e americano. Comparar um jogo feito pelo Shigeru Miyamoto com um feito, sei lá, pela Sony americana é tipo comparar um filme do Akira Kurosawa com um do Michael Bay. Claro que tem gente que gosta de um e de outro, mas sei lá.

Quando eu era criança, ficava pensando como os jogos seriam no futuro. Definitivamente eu não imaginava becos escuros muito detalhados cheios de lixo e gimbas de cigarro no chão com terroristas atirando do telhado. Não, eu imaginava um cenário de Super Mario Bros. 3 onde você pudesse andar para qualquer direção até os castelos no horizonte, um céu azul bonito, nuvens sorridentes e goombas fazendo caretas.

NINTENDO PREGA
ENTRETENIMENTO BOM
DISSO EU GOSTO

O Wii nunca chegou a ser exatamente um rival para essa geração, já que era consideravelmente menos poderoso e sequer era um console HD. Ainda assim, alguns dos melhores jogos dessa época, não considerando processadores e etc, eram dele. Os dois Super Mario Galaxy e Super Smash Bros. Brawl, por exemplo. Não por acaso, jogos da própria Nintendo.

Anunciado em 2011 e apresentado na E3 daquele ano, o sucessor do Wii teria o mui criativo nome de Wii U. Isso foi um tiro no pé, já que os jogadores casuais que fizeram do Wii um sucesso nem entenderam que era um console novo (problema que aconteceu no 3DS também). Os jogos rodariam em um formato de disco próprio mas com capacidade similar à do blu-ray e, a grande novidade, o controle principal dele seria uma espécie de misto entre joystick tradicional e tablet. Não muito diferente da metade inferior do DS/3DS, mas grandona e com dois analógicos e quatro botões L e R.

A expectativa para ele não foi exatamente grande, uma vez que os protótipos mostraram um console com poder de processamento mais ou menos parecido com o que tínhamos na geração atual (ou seja, o que o Wii deveria ter sido). Porém, a idéia de jogar jogos da Nintendo em HD me vendeu o dito cujo antes mesmo de ele ter sido lançado.

E lançado ele foi, em novembro de 2012. Nessa época, encontrávamos duas versões: uma com apenas 8 GB de memória interna, branco, e uma versão deluxe, preta, com 32 GB e umas firulas a mais. A diferença entre elas era de apenas US$ 50, então não dá nem para entender por que é que alguém escolheria a branca. Ambas têm capacidade de armazenamento aquém do esperado, mas têm suporte a HDs externos. Hoje em dia, a de 8 GB está descontinuada.

CONSOLE CHEGA
EU O TIRO DA CAIXA
JOGAR É O TAO

Depois dessa introdução mais ou menos grande vamos para o prato principal: eu peguei a versão preta deluxe em março de 2013, que foi quando os preços ficaram convidativos o suficiente nas importadoras. Aqui no Brasil ele só saiu oficialmente no final de 2013 e seguindo a velha norma brasileira de que tudo aqui tem que ser o mais caro do mundo.

Começando pelo unboxing: caixa bacana típica da Nintendo (ei, eu tenho até hoje a caixa do meu Super NES guardada – no Natal de 2013 ela completou 20 aniversários) recheada de coisas: o console, uma barra de sensor infravermelho igual à do Wii, o controle-tablet (que doravante será chamado pelo seu nome oficial, GamePad), um cabo HDMI, fonte, fonte do GamePad, base para carregar o GamePad, papelada e o game que veio junto, Nintendo Land. Logo mais falo um pouquinho dele.

Vamos começar pelas coisas ruins, então. Sempre que alguém veio com aquele papo de ter duas notícias, uma boa e uma ruim, eu preferi ouvir a ruim primeiro.

O NEGATIVO
PARTICIPA DO TODO
NEM TUDO É FLOR

Logo de cara, para acessar algo online, tem uma atualização gigantesca para fazer. A conexão lá de casa é lenta e isso demorou um tempão. Infelizmente, isso parece ser padrão hoje em dia, já que acontece em todos os consoles.

A navegação pelos menus era desgraçadamente lenta. Uns dois updates atrás melhoraram um pouco isso, e agora dá para classificar a navegação como moderadamente lenta.

Os problemas desses dois últimos parágrafos infelizmente dão a sensação de que o console não estava realmente pronto quando saiu do forno. Eu não sei por qual motivo, mas tenho a sensação de que a Nintendo tem algum tipo de limitação imposta a ela por, sei lá, acionistas majoritários, cultura japonesa, alienígenas malvados ou coisa do tipo. Não tenho outra explicação. Tudo bem que, entre a Sony e a Microsoft, a Nintendo é a única que depende exclusivamente dos games para sobreviver, mas algumas decisões sequer são riscos, e sim adequação ao mercado atual. Baixar um mesmo jogo em mais de um console, por exemplo, coisa que a Nintendo não permite. Se você comprou Mega Man no 3DS e quiser jogá-lo no Wii U, terá que comprá-lo de novo lá. Se comprou um 2DS para deixar na sua cabeceira, mesma coisa: só comprando de novo.

Bem, quem sabe isso não mude um dia? A Nintendo anda mais saidinha do que antigamente, inclusive permitindo acessos cross plataforma. Indies têm elogiado a postura da empresa. Isso deve ser um bom indício.

A quantidade de memória interna, não importa a versão escolhida, também é ridícula. 32 GB nos dias de hoje não é nada, o que implica na obrigatoriedade de um HD externo para quem pretenda baixar mais do que, sei lá, dois jogos. Como eu pessoalmente tenho bastante azar com HDs externos (já perdi dois sem ter feito nada de mais com eles) não fico com uma sensação muito boa.

O Wii U suporta, entre outros não oficiais, balanças e etc, os seguintes controles: Wii Remotes, Wii Remotes Plus, Classic Controller, Classic Controller Pro, Wii U Pro Controller e GamePad. É um bocado de controles, muito mais do que o suficiente para confundir um leigo. O console só acompanha o GamePad, o que pode confundir ainda mais um avô comprando o console para o neto. Se fosse eu o avô, certamente tentaria comprar mais um GamePad, sendo que isso nem é possível.

Depois de tantas coisas chatas vamos para a parte boa, né? E ela existe, pode apostar.

O SOL SE ERGUE
ALEGRE É QUEM JOGA
O SUPER MARIO

Para começar a conversa, uma opinião pessoal (o DELFOS é conhecido por ser um site de jornalismo parcial, pô): atualmente parece que a discussão de jogos exclusivos só engloba Playstations e XBoxes mas, para mim, os jogos exclusivos que sempre fizeram a diferença são os da Nintendo, e adivinhe para qual console eles serão lançados?

Uma das coisas mais chatas dos consoles novos é esse negócio de atualizações. Sempre me gabei por não jogar em PCs porque não tenho paciência para lidar com nada além da sequência “colocar jogo > ligar console”. Infelizmente de uns bons anos para cá isso não vale para mais nada. Fiquei feliz por saber que o Wii U, assim como o PS3 com a PS+, tem aquela função legal de fazer o trabalho sujo das atualizações rolar quando você está dormindo. É só deixar o console em standby que ele fará isso silenciosamente e na dele.

O console em si é relativamente pequeno. Como os racks das salas já costumam ser bem cheios de trambolhos como aparelhos de blu-ray, receptores de TV a cabo, home theaters, outros consoles e etc, algo que não ocupe muito espaço é bem vindo.

Sobre a principal característica do console, que é o GamePad: ele é um controle super confortável de segurar e surpreendentemente leve. Aí o delfonauta pergunta se a tela é boa. Bem, é uma tela touch do tipo resistiva (que funciona por pressão) igual à do 3DS. Isso certamente foi uma decisão para baratear os custos, mas traz outra vantagem: é uma tela mais resistente do que as capacitivas (que exigem vidro). O GamePad também tem: dois analógicos, microfone, barra de sensor igual à do Wii, giroscópio (percebe movimentos de giro do controle), acelerômetro (sensor de movimento), caixa de som (esse até minha avó sabe o que é) e magnetômetro (detecta campos magnéticos e serve de bússola). Isso tudo acaba deixando o GamePad bastante versátil, como se pode imaginar. Além do potencial muito legal como tela-extra para gerenciamento de itens e mapas, a quantidade de recursos do GamePad abre um monte de possibilidades. O GamePad tem sua própria fonte e a bateria dele tem autonomia de cerca de três horas.

O console vem com cabo HDMI. Aliás, é o primeiro console que comprei que vem com um cabo HDMI. Como eles são praticamente obrigatórios para um console HD, nada mais justo.

Uma das críticas mais pesadas (e realistas) sobre o Wii U é que o hardware é “datado” e tecnologicamente equivalente à geração antiga. Sei lá, essa idéia tem seu apelo também – o desenvolvimento é menos custoso e permite uma certa margem de erro que os jogos AAA, caríssimos, não têm. Por isso vemos tantos jogos em portáteis. A Nintendo lança jogos excelentes sem parar pro 3DS. Para os jogos que eu gostaria de ver (vide primeiros parágrafos) não sei se faria tanta diferença um hardware melhor do que já é. Super Mario 3D World não parece ser melhorável. Talvez com a resolução mais alta, mas isso aí nem os PS4 da vida têm.

A Nintendo lançou, juntamente com o Wii U, uma rede social chamada MiiVerse. O delfonauta certamente me desculpará por não falar muito sobre ela, já que a minha paciência é extremamente limitada para esse tipo de coisa, mas, pelo pouco que vi, parece legalzinha. Ah, sim, já há um tempinho ela também está disponível no 3DS.

MUITOS RECURSOS
EXIGEM MUITO TEXTO
TOME TÓPICOS

Voltando um pouquinho no tempo: o delfonauta lembra o quão criticado foi o Wii por não ter suporte a conexões digitais (leia-se HDMI)? Pois é, o Wii U roda os jogos de Wii via HDMI. Antes de comprar procurei em vários lugares e nunca encontrei essa informação, então aqui vai, exclusivamente para os delfonautas: sim, os jogos ficam melhores. Não tem upscaling ou coisa assim, mas, como é uma entrada digital, não tem a interferência chata dos cabos de vídeo composto/componente. As cores ficam mais bonitas. Ah, e recentemente implementaram suporte a jogos de Wii pelo GamePad. Usa-se ele como uma TV que já tem a barra infravermelha integrada, mas já é algo.

A ferramenta para migrar os dados, incluídos aí os saves dos jogos de discos, e jogos baixados do Wii para o Wii U é bem intuitiva, mas requer uma boa conexão. Depois disso é só entrar no ícone do Wii e agir como se estava acostumado. Isso quer dizer que, para acessar os jogos do Virtual Console, você tem que entrar na emulação da emulação. Tipo A Origem!

E o Virtual Console do Wii U? Então, agora dá para jogar no GamePad. Isso é o mais perto que a Nintendo já fez de um Super NES portátil. Graças a ele já joguei muito F-Zero e Super Metroid deitado na minha cama. Funciona na TV também e, assim como o Wii, via entrada digital. Nunca os pixels do Super NES ficaram tão bonitos.

NINTENDO CRIA
JOGOS BONS E MUITO BONS
EU JOGO OU NÃO

Jogos pack-in não são mais a regra como eram antigamente, infelizmente. Historicamente a Nintendo sempre colocou jogos excelentes nos seus consoles (Super Mario Bros., Super Mario World e Super Mario 64, entre outros), além de tentar mostrar o potencial do console com um alto grau de sucesso. Isso é muito divertido porque você tem algo para jogar imediatamente, sem precisar comprar mais nada.

No lançamento, o Wii U vinha com Nintendo Land, uma espécie de coletânea de mini-games. À primeira vista, não parece tão legal, mas alguns dos mini-games nem mesmo deveriam ser considerados como tal. O de Metroid e Zelda são verdadeiros jogos completos, embora curtos, e podem ser jogados como single ou multiplayer. Alguns, como o de Super Mario e Animal Crossing, renderam muita risada com minha namorada e meus amigos. Achei um pack-in mais divertido do que Wii Sports, que perdeu o apelo bem rápido. Atualmente, é possível encontrar o console com New Super Mario Bros. + Super Luigi Bros. e com The Legend Of Zelda: Wind Waker.

Alguns dos jogos da primeira geração eram versões de jogos que já haviam saído para outros consoles, como Batman Arkham City com novos recursos (gerenciar itens via GamePad ou controlar os batarangues). Os visuais são bem parecidos. De exclusivo, fora dos da Nintendo, o mais falado foi o ZombiU, que é um survival horror bem no estilo dos Resident Evils da vida e que usa de forma bem divertida o GamePad, inclusive no multiplayer.

A CACHOEIRA
DEIXA CAIR SUA ÁGUA
EU JOGAREI SIM

Aquele menino que ficou encantado com Super Mario Bros. 3 aos dez anos cresceu e, já há 16 anos, trabalha e tem menos tempo para jogar, mas ainda sorri como uma criança quando vê um jogo novo da Nintendo.

Não me interessa tanto uma quantidade absurda de jogos. Prefiro jogar bastante os poucos que tenho e que esses poucos sejam bem legais. Para mim, a Nintendo é a campeã nisso e, por isso, acho que mesmo que o Wii U tenha menos suporte do que a dupla PS4/XBox1, será o console mais jogado por mim pelos próximos anos.