Esta matéria faz parte da nossa cobertura especial de Wasteland 3. Leia também: Introdução. Parte 1: Primeiras impressões. Parte 2: Atire primeiro, pergunte depois. Parte 3: Explorar é preciso.
Eu pensei bastante antes de escrever esta matéria. Seria sensato produzir um texto inteiro, separado dos demais, apenas para falar sobre os problemas técnicos que encontrei em Wasteland 3? Não, eu disse pra mim mesmo. Não seria.
Mas aí vieram novos problemas. E depois deles, outros. E problemas antigos que continuaram se repetindo. Fui colocando tudo nas minhas anotações, em uma seção criativamente intitulada “BUGS”. Em determinado ponto, essa listinha já estava tão grande que eu não tinha como encaixá-la dentro de outro texto sem comprometer sua extensão.
Pois bem. Em nome da transparência, e para conseguir abordar esse assunto do jeito que ele merece ser abordado, decidi me despir da autocensura e dedicar um texto integralmente, sim, aos muitos e constantes problemas que encontrei no jogo.
Agarre sua pipoca, se ajeite na poltrona e aproveite o espetáculo. O show de horrores já vai começar.
TELA PRETA
Eu ainda estava no começo do jogo, circulando pela recém-adquirida base dos Rangers quando, ao sair do inventário, a tela ficou toda preta. Quer dizer, não completamente preta. Sabe o que chamam de fog of war? Aquela neblina escura que fica ao redor de áreas não visitadas, e só se dissipa quando você passa por elas?
Então: a base ficou tomada por essa nuvem preta, e eu não conseguia enxergar absolutamente nada, mesmo que meus personagens estivessem logo ali, no centro da tela. Esse foi o primeiro bug que rolou pra mim. E, honestamente, nem me importei muito com ele. Acho que ainda estava empolgado com o início do game, e por isso não dei bola.
Bastou sair para o menu, carregar o último save e tudo voltou ao normal. Mas não por muito tempo…
CARA, CADÊ MEU LOOT?
Estava eu enfrentando um grupo de Payasos em um museu de beira de estrada. Eles tinham até um veículo, tipo o Kodiak, devidamente caracterizado para a luta. Tomei um pau, mas consegui remanejar meus recursos e virei o jogo. Matei os palhaços e destruí sua Kombosa, achando que riria por último. Eu estava enganado.
Foi o jogo que zombou de mim. Não consegui coletar os espólios da batalha, que ficam separados em trouxinhas junto aos cadáveres. A opção de recolher o loot, que seria essencial para reabastecer meu estoque já zerado de munição, não aparecia de jeito nenhum. Recarreguei o save, imaginando que seria o mesmo caso da tela preta. Mas, voltando do carregamento, descobri que todo o loot havia sumido, como se eu já o tivesse recuperado. Pode isso?
Para piorar, os quicksaves se sobrepõem uns aos outros, então já não dava para voltar em outro save e repetir o confronto. Saí dessa batalha no total prejuízo: sem munição, sem grana e sem paciência. E sem saber que era só o começo.
OS INVISÍVEIS
Durante uma amistosa troca de tiros, um dos meus disparos deixou o inimigo invisível. Isso mesmo. Ao ser atingido, o sujeito desapareceu no ar. Mas sua barrinha de vida continuou ali, bem visível acima de sua cabeça invisível. O mesmo aconteceu com sua arma: ela flutuava no ar, dando tiros contra mim como se operada por um fantasma.
Haha, eu pensei. Deve ser um daqueles bugzinhos que só acontecem uma vez em nunca. Até fiz uma captura de tela para registrar o momento. O inimigo continuou invisível até que eu o matasse. Concluí a luta e toquei minha vida, ainda achando graça no ocorrido. Haha, eu pensei. Haha…
Mas isso aconteceu de novo na luta seguinte. Agora, com metade dos inimigos. Bastava acertá-los e eles se tornavam invisíveis, suas marretas e pistolas e metralhadoras transformadas em vítimas de um poltergeist eletrônico. Dessa vez, eu não achei graça.
Também não ri quando aconteceu na luta seguinte, e na próxima, e na que veio depois dessa. Desde então, Os Invisíveis aparecem (ou desaparecem) em quase toda batalha. Geralmente são uns dois ou três a cada dez inimigos, e seus poderes de invisibilidade se manifestam depois de perderem um pouco de vida.
Mas também já aconteceu, e mais de uma vez, de todos os inimigos ficarem invisíveis – em alguns casos, antes mesmo de eu atacá-los. Tudo bem que a imaginação é parte essencial de qualquer CRPG, mas ter que imaginar um corpo ao redor das armas já é um pouco demais.
Tive esse problema pela primeira vez com umas 10 horas de jogo. Antes disso, estava tudo bem – e depois nunca mais voltou ao normal. Isso me faz pensar que seja culpa de alguma atualização, lançada mais recentemente, que corrigiu umas coisas e desgraçou outras. Fico na expectativa pela próxima, que deve corrigir esse problema e trazer outros completamente novos.
OS INTANGÍVEIS
Você estava achando que só os inimigos tinham poderes? Fico infeliz em te dizer que seu esquadrão também tem habilidades especiais! No caso dos seus personagens, entretanto, o gene X se comporta de outra maneira, permitindo que eles atravessem paredes e portas fechadas. Não é demais?
Isso aconteceu comigo enquanto investigava um armazém. Ao destrancar a fechadura de um portão, ele não se abriu, como de costume. Ainda assim pude atravessá-lo “normalmente”. Fui e voltei várias vezes por ele, como se não existisse.
Isso aconteceu com todos os portões dessa área. Não liguei muito – a essa altura já estava me acostumando às bizarrices técnicas do jogo. Mas aí rolou a mesma coisa na entrada principal da minha base, horas depois. Poxa vida! Naquele armazém abandonado, tudo bem. Nunca mais voltei pra lá mesmo. Mas bem na porta do QG?
Pior que não adianta resetar o game ou carregar o save. Já faz dias que a porta da base está fechada para mim, ainda que eu consiga entrar e sair por ela sem dificuldade. Claro, é apenas uma questão estética. Mas quebra toda a imersão que o próprio jogo se esforça para construir.
O TELETRANSPORTE
Eu tinha acabado de encerrar a luta contra o Dr. Sorrisos, um dentista-torturador-comediante, e estava fazendo a limpa no cenário – um consultório-açougue com apenas uma entrada e uma saída, cercado de paredes. De repente, popa na tela o aviso de “Combat Started”, e a câmera viaja para o outro lado da área. Apenas Jeremias estava lá. O jogo o teletransportou através de pelo menos duas paredes para dentro de uma estufa.
Para ajudar, o pico estava cercado de monstros mutantes (pelo menos meia dúzia, dentro e fora da estufa), e eu tinha apenas meu sniper lá dentro, sozinho e confuso e sem pontos de ação suficientes.
Tentei mover o resto da equipe para lá, mas levaria pelo menos três turnos para que eles alcançassem Jeremias. Teriam que sair pela saída convencional, dar a volta na estrutura onde estavam e só então avançar para a estufa – aparentemente, o bug de atravessar paredes só funciona quando você não precisa dele.
A essa altura, Jeremias estaria servindo de fertilizante para as plantinhas. Decidi carregar o último save, anterior à luta, e enfrentar novamente o Dr. Sorrisos. Como você pode imaginar, foi um fardo repetir a coisa toda somente por causa de um bug. Nessas horas, eu queria desistir do jogo e trocá-lo por uma atividade realmente útil, como dormir ou pedir uma pizza.
DIFICULDADE(S)
Estou jogando na dificuldade-padrão (Wastelander) desde o início. Os combates são tensos e desafiadores, mas na medida certa. Tirando os bugs, as batalhas costumam ser justas e gratificantes. Por isso mesmo dá para imaginar o quão frustrante é repetir uma luta, vencida com suor e meticulosidade, por conta de um defeito na programação do jogo.
No caso do teletransporte e do museu de palhaços, baixei a dificuldade para o nível fácil (Rookie) ao repetir o confronto. Todo o sentimento de vitória que me ocorreu ao terminar a luta pela primeira vez foi arrancado de mim quando, irritado e impaciente, precisei repeti-la. Apenas queria terminar aquilo o mais rápido possível, e de fato consegui.
A dificuldade Rookie não exige qualquer tática ou planejamento. Basta atirar e jogar umas bombas que tudo vai dar certo. Isso é bom, pois torna o jogo acessível para qualquer um. Por outro lado, jogar assim não tem muito desafio – ainda que o verdadeiro desafio do jogo sejam os bugs, e eles ocorram independentemente da dificuldade escolhida.
TELA AZUL
Nem só de bugs e telas pretas vive o ecossistema de Wasteland 3. Aumentando a diversidade de gêneros e cores, temos também o problema da tela azul. Ela já era uma constante no jogo anterior, e volta a dar as caras por aqui, provando ser uma legítima integrante da série.
Em Wasteland 2, o jogo dava crash a cada duas horas, mais ou menos. Eu já tinha me acostumado. E até fiquei surpreso por isso não acontecer com a mesma frequência em W3. Mas ainda acontece, e mais frequentemente do que em qualquer outro game que eu tenha jogado nesta geração – com exceção de Wasteland 2, claro.
Você está lá, entretido na sua missão, e surge aquela tela azul do PS4 dizendo mais ou menos assim: “Este jogo foi mal adaptado pelos desenvolvedores, e seu console está pagando o preço. Por favor, reinicie o aplicativo na esperança de que ele funcione corretamente por algumas horas”.
CRASH, CRASH. 48 CRASH!
Eu estava quase vencendo uma das batalhas mais difíceis do jogo, contra um sujeito chamado Fishlips. Já tinha matado praticamente todos os inimigos, e os dois ou três ainda vivos (e invisíveis) estavam com um nadinha de vida. Só mais um turno, depois de 40 minutos ali, e a luta estaria ganha. Então o jogo simplesmente deu crash. Sobe a tela azul, baixa minha pressão, e sou obrigado a refazer toda a batalha.
Terminei o embate pela segunda vez – e olha que nem reduzi a dificuldade –, avancei um pouco mais e me deparei com um segundo confronto. Pouco antes de finalizá-lo, ocorreu outro bug. Foi tão bizarro que nem consigo explicar direito o que houve. A roda de ações e habilidades abriu sozinha e ficou rodando, rodando, sem aceitar comando nenhum, como se eu tivesse sentado em cima do controle (não, eu não sentei).
Resultado: tive que reiniciar também essa luta. Mais tempo perdido, mais desgosto acumulado. Vida que segue.
NPCs
Como eu disse no começo desta série, Wasteland 3 permite que você controle até seis personagens. Mas, além deles, existem os NPCs aliados que te acompanham. E eles são muito legais, de verdade.
Você os adiciona a sua party de diferentes maneiras. No início do jogo, por exemplo, eu recrutei um gatinho viciado em cigarros. Bastou oferecer um maço a ele e o bichano se tornou meu parceiro por tempo indeterminado – até que morra num tiroteio. Assim como os outros NPCs, ele evolui junto com os Rangers, e a essa altura já é um aliado de peso (suas garras causam mais dano que qualquer ataque físico dos meus personagens).
Em dado momento, eu tinha no meu esquadrão, além de quatro Rangers e dois companions jogáveis: um gato de chapéu; duas galinhas ciborgues; Polly, um papagaio boca-suja; um clone de Lucia Wesson; o Reitor (talvez o melhor personagem da série) e o Party Pal, um robozinho que atua como suporte de vida.
A zica é que você não pode controlar esses NPCs. Eles agem por conta própria, e agem estupidamente. Se o cenário estiver pegando fogo, eles caminharão pelo meio das chamas. Ou irão se aglomerar na única passagem existente, impedindo que você movimente seus personagens. E também vão perder muita vida com decisões burras, a ponto de você repensar se vale a pena gastar seus raros e valiosos medkits para mantê-los vivos. Afinal, eles parecem muito querer morrer.
BUG’S LIFE
Às portas do QG, em uma batalha de proporções épicas, tudo o que tinha para dar errado deu errado. Os oponentes ficaram invisíveis. A IA pifou. Minhas torretas (itens que você pode lançar, como granadas) foram consideradas inimigas pelo jogo. E o mesmo aconteceu com as iscas, hologramas que atraem para si a atenção dos rivais. Ou seja: além de não me ajudarem no combate, as torretas e iscas se tornaram o alvo prioritário dos NPCs aliados. Burros que só, eles se reuniram todos em volta dos itens de apoio que eu tinha lançado, gastando seus pontos de ação para destruí-los.
Mas não é só! No fim da luta (sim, eu briguei até o fim), um companion saiu da minha party alegando que eu havia disparado contra civis – o que não era verdade. Mais uma vez, fui obrigado a reiniciar o confronto do zero (pois o jogo não permite salvar durante a luta) e derrotar todo mundo de novo. Novamente os inimigos ficaram invisíveis e minhas torretas não funcionaram, mas pelo menos o Delegado Kwon não abandonou a equipe.
Jesus, é bug demais pra um jogo só!
QUE MAIS?
Outros problemas técnicos incluem (mas não se limitam a):
– Aliados parados, fazendo nada durante a luta (o que, pensando bem, pode ter sido de grande ajuda).
– Vida dos inimigos regenerando sozinha sem motivo aparente.
– Um personagem morto reapareceu no bar de Little Vegas, como se nada tivesse acontecido.
– Um personagem que libertei reapareceu na prisão do QG, como se nada tivesse acontecido.
– Scotchmo deslizando em vez de andar, sem animação de caminhada.
– Scotchmo não obedecia aos comandos em uma batalha.
– Scotchmo morto, mas ainda de pé, se fazendo de vivo.
Além de tudo isso, não consegui concluir a missão do Papai Noel. Tentei de tudo: várias opções de diálogo, sair da área e voltar a ela. Por fim, decidi matar o bom velhinho (explorador de elfos maldito!) para ver se encerrava a quest. Nada adiantou, e agora meu log continua indicando “converse com o Noel para concluir a missão”, mesmo ele já estando a sete palmos debaixo da neve.
ZÉ FINI
Bem, é isso. Essas foram as principais tretas que precisei encarar durante minha jogatina em Wasteland 3. Estou certo de que encontrarei outras até o fim do game. Não posso dizer que elas não afetaram minha diversão. Mas, sendo sincero, o jogo é tão bacana que até consigo relevá-las – exceto aquelas que me obrigaram a repetir um confronto ou reiniciar o aplicativo.
Sei (ou ao menos acredito) que esses bugs serão resolvidos com o passar do tempo, após muitos patches de correção. Contudo, se você acha que esse tipo de coisa vai te incomodar demais, sugiro esperar uns meses para adquirir o jogo. Ele com certeza vale o seu dinheiro – só talvez precise de mais tempo para ser digno do investimento.
Eu já estou bem perto de encerrar a campanha. No próximo e último texto, falarei sobre o mundo de Wasteland 3 e as histórias que vivi por lá. Também vou dar um veredito, considerando os prós e contras da minha experiência. Nos vemos na Parte 5!