Meu notório ódio por musicais não é algo recente. Na realidade, começou bem cedo, lá pelos meus sete ou oito anos, quando assisti a Mary Poppins e, durante todo o tempo, desejei que aquela maldita babá voadora e cantante fosse abatida dos céus por um tiro de bazuca! Eu era uma criança estranha… E não vou nem falar dos os meus sentimentos sobre A Noviça Rebelde, para não assustar os delfianos mais sensíveis.
Mas enfim, voltando ao ponto: por causa da minha ojeriza à Mary Poppins, é seguro dizer que eu não estava nem um pouco a fim de assistir a este Walt nos Bastidores de Mary Poppins. Este filme conta justamente como Walt Disney conseguiu convencer a escritora australiana P.L. Travers, autora dos livros estrelados pela babá que desafia as leis da gravidade, a ceder os direitos para a adaptação cinematográfica de sua obra mais conhecida.
Por incrível que pareça, até que essa história de bastidores é bem decente. E ainda tem o bônus de que, quando as pessoas cantam aqui, é porque elas estão no processo de composição das canções do filme e não por conta de um fenômeno inexplicável e que todos parecem achar perfeitamente natural.
É interessante a interação entre Disney e Travers por eles terem personalidades completamente opostas. Travers (Emma Thompson) é uma tremenda mala sem alça, cheia de frescuras e objeções. Já Disney (Tom Hanks) é aberto, amigável e animado, disposto a fazer de tudo (até bajular descaradamente) para conseguir os direitos do filme, e assim cumprir uma promessa feita 20 anos atrás às suas filhas.
Enquanto a instável relação entre os dois vai se desenrolando, junto com a criação do roteiro e das canções do longa-metragem, flashbacks da infância da escritora e sua relação com seu pai (Colin Farrell) vão revelando aos poucos de onde veio a inspiração para a personagem e, sobretudo, o que levou Travers a ficar tão antipática depois de adulta.
Contudo, estranhamente o filme omitiu o que todos sabem que aconteceu a Disney depois que ele morreu. Que ele foi congelado criogenicamente e seu corpo está escondido embaixo da Disneylândia só esperando para que ele seja reanimado e possa retornar ao nosso mundo como um supervilão. O longa, sem dúvida, ganharia alguns Alfredos a mais se tratasse também dessa interessante questão. Mas não se pode ter tudo num filme só…
Voltando ao ponto, a mistura de drama e comédia funciona bem, todos os atores fazem um bom trabalho, e a caracterização de época é muito boa. Repare, por exemplo, nos produtos Disney mostrados, como os bichos de pelúcia, muito mais toscos que as versões mais modernas. Esses pequenos detalhes dão uma graça a mais ao trabalho.
Se você gosta de Mary Poppins, então é bem capaz que vá se divertir com este filme também. Se você partilha da minha aversão ao longa, aí o negócio já vira uma aposta mais incerta. Neste caso, veja por sua conta e risco.