Vozes do Além

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Fui assistir a Vozes do Além exatamente como se deve assistir a esse tipo de filme, ou seja, sem saber absolutamente nada sobre ele. Aliás, a maior “voz do além” presente no filme é o ator Michael Keaton. De onde eles tiraram esse cara? Creio que não o via desde o suspense Morando com o Perigo, que, aliás, chegou a ser anunciado na época em um grande jornal paulistano como “Morangos com Perigo”.

Bom, no longa – e eu vou tentar não me estender muito aqui – conhecemos o casal Rivers, erroneamente composto por Michael Keaton e por Chandra West. Por que erroneamente? Por que os dois devem ter uma diferença de idade de uns 30 anos. Como já deixei claro em outras ocasiões, sou péssimo para adivinhar idade, mas Keaton aparenta estar na casa dos 50, enquanto Chandra não parece ter mais de 20 – e ainda tem um filho de uns 10 – deixando o casal com uma tremenda aparência pedófila. Bom, opiniões polêmicas à parte, Anna (a personagem de Chandra) morre logo nas primeiras cenas, deixando o papa-anjo Jonathan a ver navios. Pouco depois, Jonathan conhece Raymond (Ian McNeice), que diz ter provas de que Anna tentou se comunicar com ele. Essas provas residem em um negócio chamado Fenômeno da Voz Eletrônica, aparelho capaz de gravar vozes e imagens de pessoas falecidas. E vou parar por aqui.

A premissa é interessante, a condução da história é ótima e cenas assustadoras não faltam. Ou seja, tem tudo que um bom filme de terror precisa ter. Menos um detalhe que considero o mais importante em qualquer filme: roteiro. O roteiro de Vozes do Além tem tantos buracos que na verdade é mais real classificá-lo como um grande buraco com pedacinhos de roteiro aqui e ali.

Podemos começar pelo próprio FVE. Pelo que o filme dá a entender, é algo que realmente existe, mas como isso funciona? A princípio parece ser um equipamento especial, construído com este objetivo, mas no decorrer do filme dá a entender que se eu colocar um gravador ligado na sala da minha casa à noite e for ouvir a fita no dia seguinte, vou encontrar recados de presuntos? Ora, não acho que seja algo assim tão simples. Além disso, quando chegamos ao clímax do filme e tudo é revelado, ficamos com a impressão de que esse tudo é nada (uau, isso foi profundo), pois realmente não faz sentido nenhum. E esses são apenas alguns dos furos que me lembro no momento sem me esforçar muito. Até porque não quero me alongar e estragar o filme para o delfonauta.

O mais triste é que vivemos em tal período de seca cinematográfica que Vozes do Além ainda assim é um dos melhores filmes de terror dos últimos meses. Ou seja, se você está carente de longas assustadores e surpreendentes, este pode servir como uma espécie de masturbação enquanto esperamos por um terror satisfatório.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).