Na resenha de Desventuras em Série, eu disse que está cada vez mais difícil sair um filme que não seja baseado em livros, gibis e games ou que não sejam nem remakes e continuações. Se você discorda dessa afirmação, dê uma olhada nas estréias dessa semana. Das três resenhas de cinema que publicaremos (Desventuras em Série, Elektra e essa que você está lendo), absolutamente todas elas se encaixam nessa categoria, sendo dois deles baseados em livros e um baseado em quadrinhos.
Na mesmo texto, também disse que isso costuma gerar bons frutos quando o material é bem aproveitado. Até citei dois de meus filmes preferidos como exemplos, Homem-Aranha e Senhor dos Anéis. Pois um novo exemplo merece ser acrescentado a essa lista, este espetacular Volta ao Mundo em 80 Dias que, de ruim, só tem o subtítulo “Uma Aposta Muito Louca”. Aliás, que mania essas distribuidoras nacionais (ou quem quer que traduza os nomes dos filmes) têm de colocar “Muito louco”, “Da pesada” e outros adjetivos do gênero nas traduções de nomes de filmes de comédia. Isso, sem dúvida vai afastar boa parte dos fãs do material original, o classiquíssimo livro de Jules Verne. Felizmente, o que o subtítulo tem de ruim, o filme tem de fenomenal. Não vou ficar me estendendo em comparações com o livro que serviu de fonte, pois acredito que grande parte do público que está lendo esta resenha não o leu e está mais interessado no filme mesmo.
Já nos primeiros segundos, vemos que vem coisa boa, com uma trilha sonora fantástica embalando os créditos iniciais enquanto o público passeia pelas nuvens da Inglaterra. Pouco depois, somos apresentados a um simpático ladrão interpretado pelo sempre divertido Jackie Chan, que está, é claro, fugindo da polícia. Pouco depois, ele conhece o inventor trapalhão Phileas Fogg (Steve Coogan, também ótimo no papel) e se torna seu criado. E então, finalmente é feita a tal “Aposta muito louca” do subtítulo e nossa história principal começa quando os heróis embarcam na sua perigosa e divertida missão: dar a Volta ao Mundo em 80 Dias.
O elenco conta com várias pontas de uma galerinha bem conhecida do público. Entre eles, o Exterminador do Futuro que voltou no tempo para se tornar governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger e o divertido John Cleese, do fantástico Monty Python e até mesmo o comediante Rob Schneider em uma divertida aparição como um mendigo. Também temos os irmãos Owen e Luke Wilson interpretando os irmãos Wright, grandes rivais de Santos Dumont na invenção do avião. Aliás, alguém aí que saiba mais de história do que eu pode me explicar como é possível que não saibamos quem inventou o avião? Não existe nenhum registro formal disso, com datas que eliminem essa dúvida de uma vez por todas?
Eu realmente tenho apenas elogios para o filme. Tudo nele é bom. A trilha sonora é ótima e os efeitos especiais idem, principalmente quando a turma passa de um país para outro e vemos os mapinhas de transição. O figurino e a direção de arte também são nota 10, tendo uma “inspiração temporal” bem semelhante a outro longa fenomenal, Capitão Sky e o Mundo de Amanhã.
A comédia e a ação também são da melhor qualidade, marca dos filmes de Jackie Chan que, como sempre, apesar de toda a ação do filme, as brigas são essencialmente bem humoradas e sem nenhum pingo de sangue ou violência, completamente adequado para um divertido programa “pais e filhos”.
Um personagem que sem dúvida vai chamar a atenção da garotada e qualquer pessoa que goste de desenhos animados é o malvado inspetor Fix (interpretado por Ewen Bremmer, de Trainspotting), que tenta a todo custo perturbar a viagem dos protagonistas. Acontece que, além de ser extremamente desengonçado, ele só se dá mal. E nas situações mais engraçadas e inusitadas. O inspetor Fix é um verdadeiro tributo (que eu não sei se é intencional) a um dos vilões mais carismáticos dos desenhos animados: é claro que estou falando do Coiote, do Papa-léguas. Na verdade, esse é justamente um dos poucos defeitos do filme, já que um personagem tão engraçado e carismático deveria ter sido melhor aproveitado, pois Fix aparece muito pouco no filme, embora roube a cena sempre que aparece.
Volta ao Mundo em 80 Dias merece o selo de recomendação do DELFOS (que ainda nem existe, para falar a verdade). Creio que desde que o DELFOS começou, os únicos filmes que mereceriam esse selo são Homem-Aranha 2 e Capitão Sky, colocando Volta ao Mundo em 80 Dias em uma seleta lista de filmes pipoca detonantes, ao lado de clássicos como De Volta Para o Futuro e Uma Cilada para Roger Rabbit. Ok, talvez esteja exagerando pois só o assisti uma vez, mas ele realmente superou muito minhas expectativas. Se você procura diversão em um filme, não perca de forma alguma. É, sem dúvida, a melhor estréia da semana e vai, muito provavelmente, estar na minha lista de melhores do ano. A Volta ao Mundo em 80 Dias começa amanhã. E não espere 80 dias para assistí-lo. 😉