O nome Virginia me lembra duas coisas. A primeira é aquela piada do filme John Carter, em que o herói diz para os ETs que é de Virginia, e eles começam a chamá-lo por este nome. O segundo é a síndica do meu prédio. Um high five telepático para quem adivinhar como ela se chama. O jogo de hoje não tem nada a ver com nenhum desses dois casos, mas eu precisava começar a resenha de alguma forma.
O que temos aqui é quase um desenho animado, e inclusive é tratado por seus criadores como se fosse um filme. Trata-se basicamente de uma história que pode ser conhecida através do seu PC ou videogame preferido, com mínima interatividade.
Você joga com uma investigadora novata do FBI, mas realmente não convém falar mais do que isso em uma resenha. Especialmente porque a história é bem aberta e subjetiva. Totalmente isenta de diálogos, tudo é contado apenas através de imagens e música.
O visual é bonito, com cores saturadas e desenhos quadradões por estética, o que acaba tendo a vantagem de deixar os gráficos do jogo menos pesados, bom para aqueles com PCs menos potentes.
A música também é muito bonita, e foi gravada pela Orquestra Filarmônica de Praga. Ela é bem típica de um filme, pois nem todas as composições são belas melodias. Algumas das músicas existem apenas para servir à história, aumentando o clima que os diretores querem passar.
No aspecto jogo, Virginia é bem leve. Sua visão é em primeira pessoa, e basicamente você se movimenta até achar algo “interagível”, simbolizado pelo cursor, que muda de um pontinho para um losango. Não me parece que suas interações afetam a história. Basicamente, suas interações podem render troféus ou então avançar a história. Num mundo ideal, você leva o troféu antes de avançar a história, mas ela não parece ser afetada pelo quanto você explora.
Uma curiosidade é que Virginia tem cortes. Em um momento, você pode estar numa lanchonete, logo em seguida em um carro e depois em uma casa. Isso às vezes funciona bem, como os cortes de um filme, mas em outras é um tanto desagradável. Você está descendo escadas e de repente é teleportado para outro lugar, ou então está sentado e no segundo seguinte está de pé em outro lugar da mesma sala. Além disso, muitas vezes eu senti que o corte veio antes de eu estar satisfeito com a minha exploração.
Por sua interação mínima e foco na narrativa, penso que Virginia seria tremendão em VR. Aquele jogo do Batman, por exemplo, pode ser bem parecido com isso, pelo que jogamos até agora.
Ele não está em VR, no entanto, e sua história subjetiva e por vezes nonsense não vai agradar a todos. Eu tive uma boa experiência e gostei de ter passado por ele, mas sei de pessoas que foram muito mais marcados por Virginia do que eu, assim como sei de outras pessoas que não passaram dos primeiros minutos.
A beleza está nos olhos de quem vê, e Virginia é um excelente argumento para justificar este ditado. Se você curte jogos mais experimentais e contemplativos – e especialmente se é um fã dos filmes de David Lynch, com certeza esta será uma experiência inesquecível.
De qualquer forma, é legal para ver quão diversas são as experiências que os games possibilitam. O que temos aqui não é um walking simulator, mas também não é um jogo de ação ou um adventure. É uma experiência única, cuja melhor definição é a que dei no segundo parágrafo: uma história interativa.