Levante a mão quem já tomou uns drinques além da conta e acordou no dia seguinte com amnésia etílica, sem qualquer memória das besteiras que aprontou na noite anterior. Você não está vendo, delfonauta, mas lhe asseguro, eu levantei a minha.
Pois a sisuda juíza Ariane também tomou uns gorós a mais na festa de ano novo da firma e saiu pisando torto. Seis meses depois, se dá conta que está grávida e, após rápida investigação, descobre a pior parte. O pai da criança é um notório ladrão profissional prestes a ser julgado por um crime hediondo envolvendo os olhos de um velhinho.
Esta é a sinopse de Uma Juíza Sem Juízo (ah, esses infames títulos nacionais…) comédia francesa que ganhou dois prêmios César (o Oscar francês), o de melhor atriz para Sandrine Kiberlain e o de roteiro original para Albert Dupontel, que também dirige a película e interpreta o ladrão pai da criança, Bob Nolan.
Mas eu já caí nessa história de comédias premiadas com o César antes e quebrei a cara. Por isso, a assisti este com os dois pés atrás. O resultado foi melhor, mas nem tanto. O principal problema dessa película é a irregularidade de seu humor, que ora pende para bobagens típicas de um Zorra Total (caso, por exemplo, do advogado gago), ora toma caminhos muito mais interessantes e inesperados, como a sequência cômica e hilariamente gore onde Bob formula teorias para o que teria acontecido na realidade ao tal velho.
Essa dicotomia entre o estilo de humor mais boboca e a comédia mais de humor negro e verborrágica prejudica muito o andamento do filme, que tecnicamente é impecável, especialmente a direção. O longa já abre com um bacana plano-sequência e ainda tem muitas outras cenas bem arquitetadas.
Então vejamos: uma história até bacana, mas prejudicada por dois estilos diferentes de humor que não casam bem e bons aspectos técnicos, sobretudo a direção, numa produção agraciada com dois Alfredos e meio (o que, aliás, seria uma série de TV bem melhor do que Two and a Half Men). Você sabe aonde eu quero chegar: temos aqui mais um bravo representante da nobre categoria dos filmes nada.
Tem lá seus momentos engraçados, outros mais vergonhosos, é inofensivo e toma apenas uma hora e vinte do seu tempo. Para quem gosta de comédias francesas ou se interessou pela sinopse, arrisque por sua conta e risco. Mas que tem coisa bem melhor em cartaz, isso tem.
CURIOSIDADE:
– O Monty Python Terry Gilliam faz um cameo neste filme no melhor estilo “piscou, perdeu”. Então, se for assistir, olho vivo!