Quem diria? As traduções do barulho chegaram até nos oscarizáveis. E em um indicado a melhor filme, ainda por cima. Convenhamos, Um Sonho Possível deve ser o título mais feio, brega e inapropriado para um filme desde A Mente que Mente. E o fato de que esse estreou ainda outro dia apenas nos mostra quão boas são as pessoas responsáveis por criar os títulos nacionais nas distribuidoras brasileiras.
Pois em Um Sonho Possível conhecemos a família de Sandra Bullock (loira, mas ainda com gogó). Milionários, eles decidem adotar um moleque pobre (Quinton Aaron) que estuda na mesma escola de seus filhos. Como sempre acontece nesses casos, o que começa como caridade acaba beneficiando também a família que estava fazendo a boa ação. É um típico filminho feelgood e fofoió. Tão fofoió, inclusive, que eu vou até fazer uma pausa pra soltar um óun com olhinhos piscando.
Rá! Te Enganei! 😛
No começo, o tal moleque pobre é calado, emo e sem o menor carisma, mas logo ele começa a se soltar e a coisa melhora. Aliás, o forte desse filme são mesmo os personagens. O moleque pobre conquista pela sua inocência, a mãe tem uma personalidade forte e divertida e a esperteza do filho menor dela faz com que eu tenha pensado que quero um filho como ele. Os demais personagens (o pai e a filha), são bem menos importantes, mas também são divertidos e carismáticos nas cenas em que aparecem.
Até aqui, estava tudo com a maior cara de filme brasileiro. Mais especificamente, este filme brasileiro. Que, aliás, é praticamente a mesma coisa.
Porém, um sonho possível muda bastante no momento que o futebol americano entra na jogada (jogo de palavras é muito coisa de publicitário). Cá entre nós, eu sou um brasileiro com sérias dificuldades para entender o fascínio por futebol de verdade, aquele que a gente joga por aqui. Não entra na minha cabeça porque alguém sairia na porrada por causa de um jogo do qual nenhum dos que estão brigando participou. Aliás, eu acho tão estranho o país parar para assistir a um jogo de futebol quanto acharia se todo mundo saísse mais cedo do trabalho para ver uma partida de Street Fighter ou de War, ou de xadrez que seja. Afinal, por definição, jogos são apenas uma diversão – e, como tal, divertem apenas aqueles que estão jogando. Quem está assistindo normalmente está só esperando sua vez.
Mas divago (e tenho certeza que 61,6% dos comentários feitos nesse texto serão sobre o parágrafo anterior). Falei isso para tentar explicar que, se o futebol bretão já não faz sentido para mim, muito menos um jogo que chama “bola-pé” e é jogado com as mãos, cujas regras parecem mais com as brincadeiras dos bichos de Onde Vivem os Monstros (embora deva ser muito mais divertido dormir em montinho do que quebrar ossos em montinhos com alto apelo homoerótico). Entendo ainda menos a fascinação dos estadunidenses pelas faculdades em que estudaram ou pelo fato de que essas mesmas faculdades se interessam por atletas mesmo que eles não tenham boas notas. Na minha cabeça provavelmente deturpada, faculdade é um lugar de conhecimento e pesquisa, não de jogos e recreação. Uma universidade deveria dar bolsas de estudo para um sujeito com potencial para ganhar um Nobel, não para vencer o campeonato. Mas até aí, futebol não é apenas um jogo para a maioria dos brasileiros e bola-pé também não deve ser para os estadunidenses.
Justamente por causa dessa minha falta de capacidade, interesse ou boa vontade para com esse tipo de coisa, o filme me perdeu completamente quando esse papo todo de bolsa de estudos e de futebol entra na jogada. Estava muito bom, embora nem um pouco original, e se tornou maçante. E acredito que seja assim para qualquer brasileiro, mesmo para os que gostam de futebol. Afinal, alguém aqui sequer entende as regras do futebol americano?
Além disso, o filme começa com uma narração da Sandrão falando que o tal moleque pobre, já adulto, acertou um outro caboclo de forma tão violenta que ele nunca mais voltaria a jogar. Durante toda a projeção, o espectador fica esperando o retorno desse tema, que parece ser o motivo do filme existir. Mas ele nunca volta. Então por que diabos falar sobre isso logo na introdução?
Gosta de filminhos fofos? E de histórias de moleques pobres que venceram na vida? De futebol americano também? Então esse longa é para você. Se responder não para qualquer uma dessas perguntas, talvez valha mais a pena esperar e assistir na TV.