Seth MacFarlane parece ter gostado tanto da experiência de dirigir Ted, seu primeiro longa-metragem, que, não contente em comandar um novo filme, agora tirando sarro dos faroestes, decidiu não mais apenas emprestar sua voz e sim passar de vez também para a frente das câmeras.
Pois é ele o protagonista de Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola, mais um exemplar da longa série de comédias que ganham títulos infames em terras brasilis. Ele é o criador de ovelhas Albert, sujeito pacato e amarelão, que por conta disso perde a namorada, mas acaba fazendo amizade com a Charlize Theron, que irá lhe ensinar a ser mais macho. E antes do filme terminar, ele ainda terá de enfrentar um cruel pistoleiro interpretado pelo Liam Neeson.
Este filme demorou tanto pra chegar por aqui que até cheguei a pensar que a distribuidora talvez tivesse desistido de lançá-lo. Afinal, ele não repetiu o sucesso de Ted nas bilheterias estadunidenses e, ao assisti-lo, dá para entender exatamente o motivo disso.
O grande problema desta película é que, assim como acontece com tantas outras, o que ela tem de melhor está no trailer. E só. Não se pode negar a competência do pessoal do marketing, afinal, tal peça promocional realmente faz parecer que se trata de uma comédia promissora.
Mas aí você assiste ao negócio e vê de cara o truque. E isso é bastante decepcionante. O filme em si é bem morno durante toda sua duração e nunca chega a engrenar. Embora tenha sim algumas piadas boas e outras razoáveis, e em particular duas participações especiais bem bacanas, a maioria delas parece simplesmente requentada dos desenhos do MacFarlane.
Seja Family Guy, American Dad ou The Cleveland Show, tem muita coisa que passa a sensação de já ter sido usada em algum episódio dessas séries. E há também aquele típico problema das piadas escatológicas, que a trinca de roteiristas sempre gostou de usar, é verdade. Mas aqui eles exageram. Eu consigo até imaginar uma reunião de roteiro do trio:
— Essa cena está ok, mas o final está fraco, precisamos terminá-la com alguma piada.
— Já sei, vamos botar uma piada de peido.
— Perfeito!
Seth MacFarlane, Alec Sulkin e Wellesley Wild passam então a trocar high fives e tapinhas nas costas.
Sério, eles passam dos limites. E quando você acha que já deu, eles conseguem ir além. O melhor exemplo é uma cena envolvendo o Neil Patrick Harris e um chapéu. Precisava mesmo daquela última tomada? Sério que eles realmente acreditam que isso acrescenta mais comédia ao longa? E por falar no ator, é uma pisada de bola você ter o sujeito que faz o excelente Barney Stinson de How I Met Your Mother no seu filme e deixá-lo tão subutilizado.
Por outro lado, a personagem da Charlize Theron é a melhor coisa dessa história. Simpática e carismática, as interações dela com o Albert, onde ela é praticamente um “brother” do cara, são bem divertidas. Ainda assim, é muito pouco para levantar a bola desse negócio.
Lembro que disse na resenha de Ted que o filme havia dado um novo sopro de vida ao humor de Seth MacFarlane e sua equipe de roteiristas, sopro esse o qual Family Guy já havia perdido há algum tempo. Pois após assistir a Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola, fica a sensação de que esse sopro durou bem pouco. Parece que está na hora desse pessoal parar, reavaliar suas ideias a respeito de humor, e sair da zona de conforto antes de tentar algum projeto novo.
Quanto a este filme, é bem difícil de recomendar para alguém. Talvez apenas para os fãs do humor do Seth MacFarlane, mas mesmo assim é preciso ir sabendo que você verá no máximo um filme nada com apenas um punhado de piadas razoáveis. Se você não se contenta só com isso, então é melhor procurar alguma outra comédia.