Um Casal Admirável / Em Fuga

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Três filmes. Três histórias completamente diferentes. Três gêneros. Assim é a trilogia do diretor francês Lucas Belvaux, que se inicia nesta sexta feira com os dois filmes cujos títulos você lê no topo desta página.

Nessa tentativa de brincar com os gêneros, algo feito de modo muito superior por Kieslowski em sua notável Trilogia das Cores, Belvaux, ao contrário do colega, conseguiu um resultado bastante irregular. Isso porque não mantém o nível de qualidade nos filmes. Exemplo: passa de uma boa comédia para um thriller bem meia-boca (ou vice-versa, já que, segundo o próprio Belvaux, a ordem dos filmes não importa).

Um Casal Admirável funciona muito bem como uma típica comédia-romântica da terra do Asterix, que chega a lembrar, em alguns momentos, filmes de cineastas franceses consagrados como Eric Rohmer e também o primeiro da minha lista de melhores diretores da história do cinema, François Truffaut. Boa parte do humor do filme ocorre em situações de mal entendidos, confusões e suposições. Adoro isso em comédias, mais até do que piadas infames. E olha que gosto muito de piadas infames, ou seja: vale a pena conferir Um Casal Admirável e é bem capaz que este seja o único filme da trilogia realmente bom, apesar de eu ainda não ter visto Acordo Quebrado.

Já o filme Em Fuga, não é tão digno de elogios. O engraçado é que me foi dito que este era o melhor filme entre os três. Como foi o primeiro deles que eu vi, quando terminou, cheguei a pensar que essa trilogia seria uma verdadeira jornada ao inferno, pois se este era o “melhor”, tentei imaginar o quão ruins seriam os outros. Felizmente, foi só uma questão de opinião. Quem preferiu Em Fuga, deve ter adorado O Novo Mundo (cuja resenha você lê na semana que vem) e eu definitivamente não faço parte desse grupo.

A história de um carinha que foge da cadeia e é obrigado a se esconder em um depósito, na garagem de um edifício, enquanto planeja explodir lugares públicos (hum, explodir lugares públicos…) até poderia se tornar uma premissa razoável para um bom suspense. O que acontece com Em Fuga, entretanto, é que chega um momento em que o espectador, cansado de não entender o que se passa, desiste do filme. Não sei se é um filme voltado mais ao público francês e, talvez por isso, se torne meio mal explicado aos não franceses, mas o fato é que o filme começa, avança e termina e nós não ficamos sabendo direito quem é aquele fugitivo, a que grupo revolucionário ele pertenceu e tampouco quais são os seus objetivos.

Como é que pode o filme acabar e o espectador não ficar sabendo dos objetivos do protagonista? Poxa, uma das primeiras coisas que o roteirista deve encontrar antes de começar a escrever seu roteiro são os objetivos do protagonista que ele está criando. Parece até que Delvaux não deu importância a algo básico. Na tentativa de fazer um suspense, o diretor criou o clima necessário, deixou o filme com toda a pinta de um suspense e se esqueceu que um bom suspense (assim como qualquer outro gênero), antes de tudo, se faz com um bom roteiro. Isso é o que falta aqui. Vamos ver se com Acordo Quebrado ele se redime ou afunda de vez sua trilogia. Minha dica: admire o casal e fuja da fuga.

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Alfredo De la Mancha
Alfredo é um dragão nerd que sonha em mostrar para todos que dragões vermelhos também podem ser gente boa. Tentou entrar no DELFOS como colunista, mas quando tinha um de seus textos rejeitados, soltava fogo no escritório inteiro, causando grandes prejuízos. Resolveu, então, aproveitar sua aparência fofinha para se tornar o mascote oficial do site.
um-casal-admiravel-em-fugaPaís: França / Bélgica<br> Ano: 2002<br> Gênero: Comédia / Suspense<br> Duração: 97 minutos / 117 minutos<br> Roteiro: Lucas Belvaux<br> Produtor: Patrick Sobelman<br> Diretor: Lucas Belvaux<br> Distribuidor: Imovision<br>