Ultravioleta

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Uma das minhas grandes dúvidas a respeito dos filmes ruins é a seguinte: será que diretor, equipe e elenco têm consciência de que estão fazendo uma porcaria, só se dão conta com a obra pronta ou nem percebem a péssima qualidade da película?

Bom, enquanto essa minha dúvida persiste, arrisco dizer que todos os envolvidos na produção de Ultravioleta com certeza deviam achar que estavam fazendo um filmaço, o que não é o caso nem de longe. O Corrales estava bem a fim de ver esse filme, mas a tarefa acabou na minha mão por eu morar mais perto do local da cabine, definido pelo chefe como “fim do mundo”. De toda forma, numa conversa outro dia, ele me disse que Ultravioleta parecia ter o estilão de uma HQ.

Acertou na mosca. Não é uma adaptação de quadrinhos, mas parece muito, já que é clara a intenção do filme de querer ser uma HQ cinematográfica. A própria seqüência dos créditos iniciais mostra os personagens do filme estampados em capas de gibis fictícios, mas isso Kevin Smith já tinha feito no início do tremendão Barrados no Shopping.

Se essa abertura parecia um presságio de que vinha coisa boa por aí, quando o filme propriamente dito começa, as esperanças descem pelo esgoto. Mas antes, um pouco da história para você entender do que estou falando: num futuro distante surge uma nova doença que transforma os infectados em hemófagos (vampiros). A doença se espalha rápido e, para contê-la, a solução encontrada pelos humanos normais é exterminar os hemófagos. Depois das chamadas Guerras do Sangue, os dentuços foram quase dizimados. Os poucos que restaram estão organizados em um grupo de resistência.

O filme começa com uma agente desse grupo, Violet (Milla Jovovich, de Resident Evil 2: Apocalipse) roubando uma valise que contém a arma suprema dos humanos contra os hemófagos. Mesmo com ordens para não olhar o conteúdo da maleta, ela dá uma de Pandora, abre a dita cuja e aí… bem, digamos que fora a revelação do que tem dentro da valise ser totalmente ridícula, este fato irá levar a uma série de reviravoltas toscas que não convém contar aqui.

Bem, vamos ao que interessa. O principal problema da produção é que os tais hemófagos nunca são mostrados bebendo (ou tendo de beber) sangue e caminham por aí numa boa durante o dia. Então por que essa doença é tão terrível a ponto dos humanos não infectados quererem acabar com todos eles? A única diferença entre eles e os humanos são os caninos mais longos e só. Se eles fossem substituídos por tuberculosos, não alteraria chongas na trama! É só um pretexto para justificar a existência de dois grupos rivais.

Fora essa forçada de barra do roteiro, que ainda contêm alguns dos piores diálogos dos últimos tempos, o filme é apenas uma seqüência de ação atrás da outra. Isso seria até bom, já que o fiapo de história não presta. Mas os efeitos em CGI destas seqüências são medonhos. São tão mal feitos que podem ser facilmente superados por muitos jogos dos videogames desta geração mais recente. Aliás, videogame é justamente o que vem na cabeça durante tais seqüências. São cenas do tipo “saltar de moto do topo de um prédio e passar por dentro de um helicóptero” e “detonar 300 capangas sozinha, apenas com uma espada”. Os games ganham disparado porque neles quem controla a ação somos nós, enquanto aqui temos que agüentar essas chupações de Matrix sem a mesma qualidade técnica e abusando nos absurdos.

E tem mais, todos os atores são desconhecidos e péssimos. Só a Milla Jovovich é conhecida, mas também está horrorosa, tanto na atuação quanto na aparência. E que negócio é esse das roupas e do cabelo dela ficarem mudando de cor do nada? Pra que? Não tem a menor utilidade na história.

Ah, antes que eu me esqueça, a trilha sonora também é deveras irritante. Pronto, acho que terminei minhas reclamações em cima dessa porcaria. Mas o que realmente me surpreendeu foi o fato deste filme ter sido escrito e dirigido pelo mesmo cara que também escreveu e dirigiu a pequena pérola Equilibrium, de 2002, com Christian Bale (o Batman) no elenco. Esta obra passou batida nos cinemas tanto daqui quanto dos EUA, mas pode ser facilmente encontrada em qualquer locadora.

É impressionante como o diretor Kurt Wimmer errou a mão. Ficou a impressão de que ele quis pegar os conceitos de Equilibrium e dar um upgrade acrescentando HQs, games, Matrix e o que mais aparecesse pela frente e se perdeu feio pelo caminho. O resultado – Ultravioleta – é lastimável, mas fica a dica: ao invés de gastar dinheiro no ingresso dessa bomba, corra atrás de Equilibrium. Sai mais barato e é diversão garantida.

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