U.D.O.

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O vocalista Udo Dirkschneider é um cara estranho. Sua aparência não denuncia o fato de que ele foi o vocalista do Accept, uma das bandas mais importantes da história do Heavy Metal. Afinal, ele é pequeno. Ele é redondo. Ele é loiro. Ele parece uma bolinha de queijo. Mas como canta essa bolinha de queijo! E olha que o som da casa estava ruim, com o instrumental alto demais e o vocal, mais baixo do que esperaríamos em um show de um vocalista.

Introduções à parte, vamos ao show propriamente dito. E a introdução do show foi feita pela banda Hellish War. Ao chegarmos no Palace, ops, no Directv, pouco antes das 10 horas (horário marcado no ingresso) eles já estavam tocando. Mais uma prova do desrespeito dos organizadores com as bandas de abertura que, muitas vezes, pagam para estar lá.

Com um repertório baseado em músicas próprias e uma cover (a fantástica Stars, do projeto Hear N’ Aid, capitaneado por Ronnie James Dio), a banda fez um show irregular, alternando músicas muito legais com outras nem tanto.

Mas era para ver o U. D. O. (pela primeira vez no Brasil) que o pessoal estava lá e, depois de um intervalo que pareceu durar uma eternidade, as luzes se apagam. E de repente, sem introdução, sem apresentação, sem absolutamente nenhum tipo de enrolação, a banda já entra detonando Thunderball, faixa do disco homônimo, que será lançado apenas no dia 29 de março. Começar o show com uma faixa desconhecida não foi uma decisão acertada, pois o início de um concerto de Metal costuma ser a parte mais empolgante e o U. D. O. conseguiu derrubar essa teoria.

Mas, independente da abertura, foi na terceira música que o lugar veio abaixo, quando uma melodia familiar saiu da guitarra de Stefan Kauffman (curiosamente o antigo baterista do Accept) e o público começou a vibrar com empolgação digna de shows do Iron Maiden. Era a maravilhosa Metal Heart e, nossa, como ela funciona bem ao vivo! É simplesmente impossível não cantar seu empolgante refrão a plenos pulmões. Mas a melhor parte da música foi mesmo o solo, que traz uma citação a Für Elise, de Beethoven. O que já seria normalmente empolgante, com o público cantando a melodia, como sempre acontece em shows de Metal, aqui foi fenomenal. O público cantou a melodia tão alto que Stefan simplesmente parou de tocar seu solo para ouvir o público. Foi lindo! Lembrou-me até aquela ocasião no Rock In Rio, quando Rob Halford não precisou cantar o clássico Breaking The Law, já que o público assumiu por ele. Ouvir Metal Heart ao vivo, realmente é uma experiência inesquecível. Algo que recomendo que todos os Headbangers vivenciem ao menos uma vez durante sua vida.

Com o público completamente em êxtase, depois de presenciar uma das melhores músicas possíveis para se ouvir ao vivo, Udo anuncia mais um clássico do Accept, a comercial Midnight Mover que passou meio despercebida, graças ao estado de graça no qual o público se encontrava.

Mais algumas músicas foram tocadas até chegar na ótima Living For Tonight que veio emendada ao balde de água fria onipresente em shows de Metal: o solo de bateria. E, por melhor que o baterista seja, o solo é sempre igual. Pode reparar: ele sempre é composto de, pelo menos, três partes. A primeira é a parte técnica, quando o batera mostra para o público o quanto ele é bom (alguém falou massagem no ego aí?), depois vem a parte em que a platéia participa, naquele esquema “eu-toco-um-pouquinho-vocês-dão-um-grito-e-aí-a-gente-repete-até-encher”. Por último, vem a parte da velocidade, onde o instrumentista mostra o quanto ele é rápido (será que eu ouvi massagem no ego de novo?). Eles devem aprender isso em alguma “Escola do Rock” por aí.

Enfim, depois do banho de água fria, era preciso um tremendo clássico para animar a platéia novamente. Infelizmente, não foi o que aconteceu e, apesar da presença de ótimas músicas, como Man And Machine, o resto do show foi meio morno.

Claro que a banda não ia deixar ficar assim e foi só a introdução do clássico Balls To The Wall ser tocada que o público foi à loucura novamente. Pulando, cantando e agitando junto com os músicos. Essa música deve estar entre as mais famosas músicas de Heavy Metal e posso dizer que ela faz jus à fama que adquiriu, pois ao vivo fica muito divertida. É realmente muito legal cantar aquela parte do coral que fala “God bless ya!” e, logo em seguida, a parte que fala “Hey!”. Balls To The Wall e Metal Heart foram, sem dúvida, os grandes momentos do show.

Depois de Balls To The Wall, vem outra do Accept, Hard Attack, também muito bem recebida e a banda deixa o palco para voltar, momentos depois com Princess Of The Dawn. Daí em diante, foram só clássicos. A Hard Rock I’m A Rebel vem em seguida e sua melodia cativante e o refrão fácil de decorar fazem a festa do público presente. A banda sai do palco novamente.

A essa altura, o público já estava pedindo insistentemente pela ótima, Restless And Wild e foram atendidos. Para minha surpresa, essa, que é minha música preferida, não funciona tão bem ao vivo quanto eu esperava. Ainda assim, é uma ótima música e eu estava curtindo vê-la sendo tocada quando, sem nenhuma explicação, a banda pára de tocá-la. Assim, do nada, bem no meio da música. Pensei comigo mesmo: “Droga, eles vão fazer um medley!”. Sim, eu odeio medleys e, por algum motivo, as bandas têm a inexplicável capacidade de sempre fazê-los com minhas músicas preferidas, como foi o caso aqui. Restless And Wild foi emendada com a também ótima Son Of A Bitch, que funcionou bem melhor ao vivo e foi executada na íntegra. Mas um gostinho de quero mais ficou, graças ao fim prematuro da Restless.

Para terminar o show, Udo diz: “Vamos tocar uma música que começa assim” e canta aquela introdução Polka de Fast As A Shark. Segundos depois, a casa inteira estava cantando aquela melodia que abre a música e que mais parece uma brincadeira do Accept para abrir o disco. Foi realmente muito engraçado e uma ótima idéia começar a música dessa forma, fazendo o show terminar com muito bom humor. Após a execução de Fast As A Shark, a banda se despede e sai do palco, definitivamente.

No geral, U. D. O. foi um show marcado por altos e baixos (alguém lembrou do solo de bateria?). Mas os altos foram tão altos, que realmente valeram o preço do ingresso. Quem foi, deve concordar comigo e, quem não foi… Bem, recomendo que vá da próxima vez que a banda vier ao Brasil. E espero que não demore.

Para terminar, uma bronca: saiu no Guia da Folha do dia do show que o preço do ingresso era R$ 30,00 (R$ 15,00 para estudantes). A questão é: eu e muitas outras pessoas que eu conheço, pagaram o dobro disso. Não sei se foi a Folha que errou, ou se o preço do ingresso abaixou de uma hora para outra mas, se esta segunda opção for a verdadeira, é uma tremenda falta de respeito com aqueles que, como eu, garantiram seu lugar no show comprando o ingresso antecipado. Bronca dada, preciso ir. Fiquei com vontade de comer bolinha de queijo.

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