Toy Story 3

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Cá entre nós, admito que fiquei um pouco chateado quando foi anunciado que o filme da Pixar de 2010 seria Toy Story 3. Convenhamos, o primeiro é muito legal e tem uns personagens bem divertidos, mas é bem claro que o motivo do sucesso foi a novidade do filme ser em CGI.

Hoje, CGI virou carne de vaca, mas a Pixar continuou no topo graças a algumas das grandes maravilhas do cinema, como essa e essa. Aliás, é bem curioso que os dois melhores longas da Pixar sejam justamente seu último lançamento em 2D e seu primeiro em 3D.

DIA & NOITE

Como de costume, Toy Story 3 abre com um curta e, como de costume, é a coisa mais old-school possível. Sem diálogos, apenas com música sincronizada com a animação. O mais bizarro é que, embora seja um desenho clássico, na melhor tradição Disney, é uma das coisas mais inovadoras que a casa do Wall-E já fez.

O motivo disso é que aqui acompanhamos dois simpáticos personagens que vivem num mundo preto. Ou melhor, o mundo como conhecemos aparece dentro do corpo deles. E, conforme eles andam, o que muda é o que é projetado no seu corpo. Talvez não agrade tanto o público em geral como For The Birds, já que não é tão engraçado ou bonitinho, mas se você é um fã de cinema como técnica narrativa, há de pirar o cabeção tão forte quanto eu pirei. O negócio é imperdível e simplesmente único.

TOY STORY 3

E então chegamos ao prato principal. E, para não perder tempo, já comecemos com a sinopse. O menino Andy não é mais um menino. Ele está com seus 17 anos e indo para a faculdade. Por causa disso, aqueles que um dia foram seus brinquedos preferidos estão se sentindo abandonados e em breve terão que lidar com a possibilidade de serem doados para uma creche.

Como é hábito nos filmes da Pixar, Toy Story 3 abre destruindo tudo, mostrando porque eles são um dos melhores estúdios da atualidade. A “cena de ação” da abertura é divertidíssima, e a montagem que vem a seguir, mostrando Andy crescendo ao lado dos seus brinquedos não chega a ser tão tocante quanto a de Up, mas ainda assim é muito boa.

Aliás, eu não consigo imaginar a possibilidade de qualquer outro filme ter um início tão charmoso quanto a abertura de Toy Story 3. E, se isso vier a acontecer algum dia, com certeza será pelas mãos da Pixar.

Uma vez vi os criadores de South Park comentando sobre a Pixar. Eles diziam que, em todos os filmes da casa do Nemo, você sabe exatamente o que vai acontecer, mas mesmo assim, eles te levam pela história de tal forma que é impossível você não se envolver.

Outro que falou algo semelhante foi meu colega Carlos Cyrino. Ele disse aqui que, se esses caras dessem aula de narrativa, ia lotar a classe.

Eu concordo com ambos. A história de Toy Story 3 é, como todo mundo já esperava, bastante básica. Tem os momentos tristes, os divertidos, as lições de amizade e tudo mais que a gente espera de um filme infantil. Mas a forma que tudo é conduzido é simplesmente magistral. Poucos filmes nos deixam na palma da mão dos criadores, nos fazendo sentir exatamente o que eles planejaram, e Toy Story 3 é um desses. Espere só até o final, que é ao mesmo tempo extremamente feliz e extremamente triste e quero ver você conseguir passar seus sentimentos para palavras. E duvido você não chorar.

Para deixar tudo isso mais azeitado, temos justamente aquilo que todo mundo sabe que a Pixar faz bem, a parte visual. Repare como cada personagem é animado de forma diferente, se movendo exatamente como aquele brinquedo, com suas articulações limitadas (ou não) se moveria. Em determinado momento, temos um grupo de brinquedos fazendo apostas, e eles apostam com dinheirinho de banco imobiliário. É o tipo de coisa que muitos não vão perceber conscientemente, mas ajuda a vender a fantasia do filme, deixando tudo ainda mais especial.

Sim, tem vários momentos que a história fica bastante clichê. Por exemplo, próximo ao final, o vilão age de forma muito previsível para um vilão, naquela linha de ele trai sua confiança porque ele é mal e vai continuar sendo assim não importa o que aconteça. O filme teria crescido bastante se tivesse rolado algo com mais profundidade aí. Inclusive, se fosse levado de forma inteligente, o vilão poderia até se tornar um novo amigo da turma nos próximos filmes. Ainda assim, é tudo feito de forma tão caprichada e tão emocionante que não dá para não se divertir.

É tudo tão bom, tão bonitinho e tão tocante que eu simplesmente não consegui, por mais que tentasse, não presentear Toy Story 3 com o Selo Delfiano Supremo. Ele simplesmente merece. É o terceiro Selo consecutivo que a Pixar consegue e vamos torcer para esse recorde continuar aumentando, ano a ano. No final das contas, quem ganha é a gente.

CURIOSIDADE:

– Um dia antes da cabine desse filme rolar, eu estava conversando justamente sobre como é difícil se livrar de coisas que foram importantes na sua vida. No caso, estava falando exatamente dos brinquedos. E, no dia seguinte, vejo um filme cujo tema principal é esse. Coincidência, não?

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
toy-story-3País: EUA<br> Ano: 2010<br> Gênero: Aventura / Comédia / Drama<br> Roteiro: Michael Arndt e John Lasseter<br> Elenco: Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Ned Beatty, Michael Keaton e Laurie Metcalf.<br> Diretor: Lee Unkrich<br>