Hoje em dia é moda os nerds trües falarem mal de Titanic. Eu até já tirei sarro disso no nosso videoreview de Avatar. Mas tenho uma confissão a fazer: nos idos de 1997, quando o assisti no cinema com minha então namorada, gostei bastante do filme. Assim como os protagonistas, estava vivendo meu primeiro amor, mas na época que assistimos ao filme, nosso relacionamento já estava morrendo, e isso me deixou ainda mais romântico. Depois que o namoro acabou, toda vez que ouvia a maldita My Heart Will Go On – o que acontecia várias vezes ao dia naquela época – acabava me lembrando da garota e ficando deprimido.
Depois de um tempo, a fossa passou, e Titanic bateu Star Wars como a maior bilheteria da história (ultrapassada recentemente pelo próprio Avatar, também de James Cameron). Eventualmente, o filme acabou virando um arqui-inimigo nerd, e eu comecei a querer vê-lo de novo para ver se minha opinião mudaria. Afinal, hoje eu sou bem mais exigente com cinema do que na minha adolescência, embora ainda seja um patetão romântico. O que será que eu pensaria do longa ao vê-lo de novo? Hoje eu descobri a resposta para essa pergunta. E a resposta é que eu gostei pra caramba. E olha que eu sinceramente esperava odiá-lo.
INSIRA AQUI UM INTERTÍTULO CRIATIVO
Você conhece a história. Jack (Leonardo DiCaprio) e Rose (Kate Winslet) se conhecem no navio que dá nome ao longa e vivem um tórrido caso de amor. Infelizmente, o amor tinha prazo de validade pois, como todos sabemos, o Titanic estava destinado a afundar, e matar boa parte de seus passageiros. Ficamos sabendo de tudo com riqueza de detalhes a partir da história contada pela própria Rose, já velhinha, a um bando de cientistas que estão procurando um medalhão que um dia foi dela.
Ao contrário do que se pode imaginar, analisar Titanic sob os olhos de um homem adulto, com algum conhecimento de cinema e de roteiro, não o enfraquece. Acontece o oposto, na verdade. Aqui, James Cameron mostra que não só é um diretor deveras habilidoso (o cara dirigiu O Exterminador do Futuro e True Lies, então disso a gente já sabia), mas também um excelente roteirista.
A forma como ele identifica e junta todos os elementos discrepantes que levam uma história diretamente ao coração do espectador é um show à parte. Temos aqui nostalgia, a crueldade da passagem do tempo e, claro, um amor que nunca foi realmente consumado. E não existe nada mais romântico do que um amor não consumado.
E mais, ele combina todos esses elementos sentimentais sem abrir mão das características que o deram fama como diretor. A segunda metade do filme, quando o navio está afundando, é praticamente um filme de ação cheio de efeitos especiais, exatamente como os que o consagraram. Efeitos especiais, aliás, que se sustentam melhor hoje, 15 anos depois de sua estreia cinematográfica, do que qualquer um dos três filmes do Homem-Aranha, que estrearam outro dia, por exemplo. E ele até achou um espacinho para colocar o seu nerd pride ali: repare que um dos cientistas usa a camiseta do Watchmen!
Cameron realmente é um mestre da cinematografia, e mostra isso em algumas cenas bastante especiais. Por exemplo, quando Jack está pintando o famoso quadro da Rose, a câmera foca nos olhos jovens dela, e aos poucos seu olhar vai envelhecendo. Aí o foco se afasta e vemos a Rose velhinha, nos dias atuais, contando sua história. Isso é lindo, delfonauta! É poesia com imagens!
Este não é um exemplo isolado, no entanto. A primeira vez que os dois se tocam, antes de existir qualquer envolvimento romântico entre eles, a câmera fecha nas mãos deles, e ouvimos uma melodia em violinos que desaparece logo depois. É detalhe, tão pequeno que a maioria das pessoas sequer vai perceber conscientemente, mas vai sentir. E é justamente para isso que este detalhe está lá, para te fazer sentir. Não é esse o objetivo de qualquer boa história de amor, afinal de contas?
Tudo isso acontece em momentos em que Cameron está fora da sua zona de conforto. Afinal, ele fez carreira como um diretor de filmes de ação e ficção científica. Titanic foi seu primeiro filme focado em um romance. E daí vem a segunda metade, que nos entrega o Cameron que tanto gostamos.
Quando o navio bate no iceberg, o filme dá uma esfriada por alguns minutos até o perigo realmente começar. Mas quando começa, o troço não para mais. É emocionante ver o navio virando e as diferentes reações dos passageiros quanto à morte iminente. E é curioso, mas o casal de protagonistas aparece bem menos nessa parte do que se poderia esperar. Isso porque, neste momento da história, Cameron não quer mais nos mostrar o romance, ele quer é mostrar seus excelentes efeitos especiais. O romance volta depois, na hora de colocar um ponto final na história, especialmente no belíssimo plano-sequência que fecha o filme.
INSIRA AQUI UM INTERTÍTULO EM 3D
Mas você já assistiu a este filme. Com certeza já tem uma opinião bem formada sobre ele, seja positiva ou negativa. Então clicou aqui para saber é do 3D, certo? Bom, no início do filme, nas cenas que acontecem nos dias atuais, o efeito está bem bacana. Quando voltamos ao passado e entramos no navio, no entanto, ele é inexistente pela maior parte do tempo – inclusive na parte do desastre. E é inexistente mesmo, daquele tipo “dá para assistir ao filme sem óculos”.
É curioso, mas o 3D só é realmente perceptível nas cenas do presente. Então não vá ao cinema para ver Titanic 3D. Vá se desejar ver a atual segunda maior bilheteria da história na tela grande, especialmente se não teve essa chance 15 anos atrás.
Por todos os motivos elaborados acima, vejo que Titanic envelheceu muito bem. Eu já tinha gostado dele quando era um adolescente prestes a ter o coração partido. Hoje, como um adulto que adora cinema, acabei gostando mais ainda. O filme tem consideravelmente mais de três horas e ainda assim pareceu curto. Isso, meu amigo, poucos conseguem. Acredite, eu estou tão surpreso quanto você ao presentear este longa com o Selo Delfiano Supremo, mas eu sinceramente não consegui ver motivos para negar esta honraria a ele. E, se você o assistir pronto para ser levado pela história, pelos efeitos especiais e pelos planos belíssimos de Cameron, há de concordar comigo.