The Technomancer

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Algumas horas depois de iniciar minha primeira partida com The Technomancer, um pensamento não sai da minha cabeça: “macacos me mordam, como este jogo é parecido com The Witcher!”. Claro, um The Witcher de baixo orçamento, muito menos polido e muito menos colorido, mas ainda assim, do controle às opções de diálogos, The Technomancer lembra muito o clássico recente da CD Projekt Red. Mas vamos voltar um pouco antes de desenvolver mais este ponto.

TOTAL RECALL

Estamos em Marte no futuro. O planeta é habitado por seres humanos e por mutantes, e há muita tensão entre eles. Mutantes são escravizados para fazer trabalhos manuais e obviamente há muitas facções que não concordam com isso, assim como outras que concordam.

Você tem liberdade de criar seu personagem, mas não interessa o visual que dê para ele, seu nome será Zachariah e ele será homem. Zacarias é um jovem integrante da ordem dos Technomancers. Ele acaba de concluir seus estudos e sua primeira missão no jogo é justamente uma iniciação, onde ele descobre o terrível segredo de sua ordem.

No entanto, este segredo é mostrado tão no início do jogo, antes mesmo de você saber de todas as tensões do cenário político de Marte, que carece de qualquer impacto. O peso dele, no entanto, é sentido conforme a história vai se desenvolvendo.

Após sua iniciação, você é designado a trabalhar para o exército, e estas primeiras missões vão te colocar em contato com várias das facções do jogo, deixando claro que muitas delas estão em rota de colisão. E será que você, como um soldado, está fazendo a coisa certa?

The Technomancer é um RPG e, como tal, você tomará muitas decisões ao longo de sua jornada. E também vai fazer muitos upgrades e trocar de roupinhas como se fosse um boneco da coleção da Barbie.

DOOM

Há três classes por aqui e, ao contrário da maioria dos RPGs, você poderá alternar entre elas com o toque de um botão. Temos o warrior, que usa um bastão esquema Donatello; o rogue, equipado com uma faquinha e uma arma de fogo; e finalmente o guardian, com sua maça e seu escudo, é o único capaz de defender e contra-atacar.

As classes são bem diferentes. O warrior usa seu bastão em ataques de área e que acertam várias vezes, enquanto o rogue privilegia ataques rápidos e fracos. Admito que eu quase não usei o rogue, pois consegui me virar bem alternando entre o guardian quando lutava contra humanos e o warrior contra monstros e humanos mais fortes.

O combate não é fácil, e leva um tempo para se acostumar, mas é bacana e suficientemente variado. Embora lembre bastante o Witcher, com suas esquivas e defesas, eu diria que é até mais legal do que o do Bruxeiro, graças às suas três classes distintas e alternáveis.

Ah, é claro, você é um Technomancer, e cabe aqui explicar o que diabo é isso: basicamente é um sujeito com poderes elétricos. Assim, além de porrar seus desafetos sem dó, você também pode soltar eletricidade pelos dedos como um poderoso sith ou eletrificar sua arma para danos elétricos.

Curiosamente, vários dos poderes de Technomancer, como a arma elétrica, podem ser ativados e desativados a seu bel prazer, mas ao mesmo tempo eles não têm nenhum efeito negativo. Para você ter uma ideia, eu eletrifiquei minha arma uma única vez quando comecei o jogo e mantive ela desta forma até vencer o último chefe, sem desativá-la nenhuma vez. E há outras habilidades parecidas.

O time da Spiders poderia ter sido um pouco mais criativo. Basicamente, um de seus primeiros poderes de ataque é um raiozinho, e depois de vários upgrades, você tem um raio mais potente, que fatalmente vai substituir o primeiro. E é isso, todos os outros poderes de Technomancer são passivos ou só precisam ser ativados uma vez (o que é basicamente a mesma coisa).

SPACE ODDITY

Seus quests também não são tão criativos quanto os de Witcher. Basicamente, eles exigem que você vá e volte pelo mapa, coletando coisas, falando com personagens e lutando com outros. Há alguns dungeons, que normalmente terminam em uma batalha com chefes, mas é comum o jogo te mandar de volta para os dungeons repetidas vezes depois que você os completa, muitas vezes apenas para abrir um baú que não deixou você abrir da primeira vez.

Este é o principal problema de The Technomancer: ele é muito repetitivo. Seu mapa não é um único mundo aberto grande, mas consiste de vários mapinhas separados em várias áreas.

Por exemplo, a maioria das missões acontece em Ophir, cidade dividida em três mapas: underworks, exchange e slums. Toda vez que você se teleporta para ela, você aparece em underworks, mas todos os objetivos estão nos outros dois. Isso significa que você sempre tem que atravessar todo o mapa de underworks, e lutar contra todos os inimigos outra vez toda vez que chegar. E para piorar, você também só pode sair de Ophir pelo mesmo lugar que entrou, o que significa que vai precisar vencer os mesmos inimigos quando estiver fazendo o mesmo caminho de volta. Isso realmente enche o saco, considerando quantas vezes você precisa entrar e sair de Ophir.

Isso faz com que você vá para os outros cenários, acumule a maior quantidade de missões, faça absolutamente tudo que tem que fazer fora de Ophir e daí vá para Ophir fazer tudo de uma vez. Mas fatalmente, depois que você conclui essas missões, você tem que voltar para a cidade onde seu personagem estiver morando para falar com alguém, que vai te passar novas missões, novamente em Ophir.

Para ficar ainda mais ofensivo, muitas missões exigem que você espere uma determinada quantidade de tempo passar, mas ao contrário de Witcher, não dá para simplesmente meditar e avançar o relógio. Você precisa ir até uma cama, mas depois do primeiro capítulo, não há camas em Ophir, o que exige que você faça todo o caminho para sair dali e depois todo o caminho de volta para poder avançar.

Sabe, eu realmente não faço questão de um mundo aberto quase infinito como o de The Witcher 3, mas considerando a fórmula usada por aqui, o mapa de The Technomancer podia ser maior sim. Em The Witcher, provavelmente tem muitos lugares legais no mapa que eu nem vi, enquanto aqui eu sinto que vi tudo múltiplas vezes, não aguentava mais ver de novo, e ainda não estava nem na metade da história. Assim mesmo com o combate legal e a ambientação interessante, fica difícil se manter jogando até o fim.

A principal inspiração é claro que foi o jogo do Geraldão, mas dá para perceber influência de Mad Max (tanto filme quanto jogo) na ambientação e de Dead Rising em algumas poucas missões com limite de tempo.

PERDIDO EM MARTE

Esta repetição, sobretudo do cenário de Ophir, foi o principal problema de The Technomancer, mas há vários outros inconvenientes que permearam minha campanha. O principal deles é o movimento, que simplesmente não é bom. Às vezes, por exemplo, tem um baú do lado do outro. Você abre um e simplesmente virar na direção do outro é bem mais difícil do que deveria ser, pois um reles toque na alavanca faz o Zacarias dar uma pequena corridinha. Isso atrapalha em diversos momentos, como quando você precisa conversar com personagens que estão próximos ou pegar itens nos presuntos que deixa pelo caminho.

Outro problema que me incomodou muito é que algumas missões não me deixavam cumpri-las. Em uma delas eu precisava extorquir um vendedor e eu ia até o local, mas o jogo simplesmente não me deixava conversar com ele ou atacá-lo. Achei que tinha que fazer outra coisa, mas procurei um vídeo da missão em questão e o cara simplesmente se aproximou do vendedor e começou a conversa, como você faz com tantos personagens ao longo do jogo.

Além disso, vários ícones de missões já cumpridas simplesmente ficavam no mapa, tanto no mapa mundi que mostra onde você tem missões não cumpridas, quanto no mapa local, fazendo que eu com frequência colocasse o cursor nos mesmos ícones apenas para ver que era uma missão que eu tinha concluído 20 horas atrás – ou então uma que o jogo não me deixa concluir.

Estes foram os principais problemas técnicos, mas há vários detalhes que mostram o baixo orçamento de The Technomancer. Os cenários, por exemplo, são bonitos, mas os personagens são bem feios, sem falar que a voz do protagonista lembra muito a do Adam Sandler, o que não é uma boa opção se você quer contar uma ficção científica séria.

O final, por exemplo, é simplesmente uma sequência de imagens estáticas com uma narração por cima. Nada de ver as consequências de suas escolhas em cutscenes polidas e animadas.

FLIGHT TO MARS

Apesar de ter alguns problemas graves, The Technomancer não é um jogo ruim. Ele poderia ser excelente caso fosse menos ambicioso. Fosse mais curto, e vendido como um RPG apenas digital, tipo um Deathspank, poderia manter a adrenalina alta durante toda sua duração.

No entanto, ele é lançado com preço cheio, de cerca de 230 reais nos consoles, e não dá para negar que há outros lançamentos mais dignos de todos esses Temers. The Technomancer é um jogo longo, que durou entre 20 e 30 horas para mim, mas acredito que 70% desse tempo foi passando pelos mesmos cenários e combates.

Eu até recomendo este jogo, mas para pessoas que são muito fãs de RPGs ou para aqueles que o encontrarem em uma promoção bacanuda.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
the-technomancerAno: 28 de junho de 2016<br> Gênero: RPG<br> Plataforma: PS4, Xbox One e PC<br> Fabricante: Spiders<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: Focus Home Interactive<br>