O The Cross é uma banda que já tem nome nas estradas do Doom/Death Metal nordestino. A banda, criada em Salvador, foi formada em 1993 e se manteve ativa até 1998, quando paralisou suas atividades. “Mas, Luiz, se eles pararam em 1998, por que você estaria resenhando um disco deles?”, pergunta o delfonauta apressado do fundão. Ora, meu amigo, porque Flame ThroughPriests é o EP de 2015 que marca o retorno da banda – e, por sinal, que retorno!
SIGN OF THE CROSS
Uma coisa que me agradou deveras é a forma como o The Cross não depende de riffs marcantes ou de velocidade para imprimir a aura soturna de suas músicas. Aliás, diria que a força das músicas está justamente na imersão causada pelas excelentes melodias que compõem o disco, que poderiam muito bem ser trilha sonora de um filme de terror dos bons. As músicas que você vai encontrar aqui não irão grudar na sua mente, mas com certeza garantirão uma experiência bem distinta.
As faixas CursedPriest e SweetTragedy têm uma duração particularmente longa, mas não sem justificativa. Compostas de diversos momentos distintos interligados entre si, ouvi-las me fez passear por uma pletora de sensações em uma única “viagem”, o que demonstra como o objetivo do The Cross é ser impactante, e não criar músicas grudentas.
Mas é óbvio que alguns elementos me incomodaram um pouco. Um deles foi a crueza da gravação, que, apesar de deixar o som mais orgânico, não é do tipo que me agrada. Outro detalhe foi notar que os solos de guitarra são nitidamente improvisados, e não escritos, o que contrasta bastante com o resto da música. Uma vez que ela toda foi milimetricamente montada para transmitir uma experiência, não me parece adequado fazer um solo improvisado, o que produz o risco de diminuir a aura até então construída ao invés de aumentá-la. Não nego que seja possível que esses detalhes agradem a outros, mas, para mim, acabaram sendo bolas fora.
LOOKING DOWN THE CROSS
Mas o delfonauta chato do fundão, incomodado com o meu primeiro parágrafo, deve estar se perguntando “mas como você sabe que esse novo EP é um retorno bom?”. De uma forma simples, meu caro: as últimas três músicas do EP são exatamente as gravações antigas do The Cross! E a evolução proporcionada pelos anos é nítida.
O primeiro detalhe é que, obviamente, a gravação melhorou MUITO. As bonustracks do fim do EP têm aquele som rústico característico de bandas em início de carreira que todo mundo conhece, então carregam uma grande nostalgia consigo. Eu curto bastante ouvir essas gravações antigas, pois acabam por contar a história da banda, o que é sempre divertido.
O segundo detalhe é ver como as composições antigas da banda não traziam o mesmo brilho das recentes, no sentido de que eram bastante repetitivas. É curioso notar como as faixas de 2015 possuem muito mais nuances e camadas, criando a experiência de uma forma muito mais sólida do que as antigas, que eram bem cruas. Assim, eu diria que o grande valor dessas gravações é realmente histórico, sem agregar tanto musicalmente.
HEADLESS CROSS
Ainda que com grandes qualidades, o fato é que o grande problema de Flame ThroughPriests é ele ser muito curto. Com apenas duas músicas novas, acaba sendo muito pouco para uma banda que aparenta ter tanto a mostrar. No entanto, não posso negar que me animei com o que ouvi, e que imagino o quanto um show da banda deve ser intenso. Assim sendo, delfonauta chato que me importunou com perguntas, se souber de algum show deles em breve, me avise!