The Children of Húrin

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John Ronald Reuel Tolkien é um dos autores mais cultuados do planeta. Prova disto é a enorme quantidade de obras póstumas lançadas por seus herdeiros para ganhar alguns trocados com o legado deixado pelo sujeito, e também explorar toda a mitologia e o universo por trás da genialidade criativa do velhinho simpático que fuma cachimbo na quarta capa de O Senhor dos Anéis.

The Children of Húrin (ainda inédito no Brasil) conta uma das histórias lendárias da mitologia tolkeniana, a história de Túrin, sua irmã Niënor e a morte de Glaurung, o primeiro dragão criado por Morgoth, o Senhor do Escuro original. Se você nunca ouviu falar destes personagens, meu caro delfonauta, é bom correr para uma livraria e adquirir um exemplar de O Silmarillion (outra obra póstuma de Tolkien) para conhecer mais sobre esta mitologia fantástica. A história deste livro está inclusive relatada em O Silmarillion, embora com menos detalhes. Também é a continuação dos eventos no qual o álbum Nightfall in Middle-Earth do Blind Guardian é baseado.

Húrin foi o Rei de Dor-lómin que lutou ao lado dos homens, elfos e anões contra Morgoth na Quinta Batalha. Apesar de terem lutado bravamente, eles foram derrotados pelas forças da escuridão, comandados por um antigo capitão da guarda do Rei Fingon. Preso, Húrin, O Inabalável (ou The Steadfast, nome que deve causar arrepios na espinha de fãs do Blind Guardian), se negou a revelar a localização da cidade élfica de Gondolin, uma promessa que havia feito há anos ao Rei Turgon. Transtornado, Morgoth amaldiçoou Húrin a ver através de seus olhos todo o mal que faria a seus descendentes, sentado no local mais alto da montanha de Thangorodrim, incapaz de se mexer ou mesmo morrer.

Enquanto isso, tudo ia mal em Dor-lómin. Com a derrota na Quinta Batalha, os Orcs e os homens do Leste escravizavam seus habitantes, que acabavam tornando-se thralls. Túrin tinha apenas oito anos nesta época, e foi então enviado até o reino élfico de Doriath, onde estaria seguro até a idade adulta, quando poderia combater e recuperar Dor-lómin a seu povo. Pouco depois de sua partida, nasceu Niënor.

Túrin cresceu entre os elfos e foi treinado na arte da guerra por eles, tornando-se o maior guerreiro dos homens naquele tempo. Também era muito orgulhoso, o que o levou a cometer um erro terrível que culminou com sua fuga de Doriath, poucos dias antes que sua mãe e sua irmã chegassem elas próprias ao reino. Foragido, Túrin vagou pelas terras de Beleriand, trazendo desgraça aonde quer que fosse e tentando reunir um exército para recuperar seu reino.

Cansado de brincar de esconde-esconde com os herdeiros de Húrin e os elfos, Morgoth soltou a coleira do seu dragão de estimação Glaurung, para este se divertir no parque, fazendo aquelas coisas que dragões como o Alfredo gostam de fazer: queimar florestas e devorar pessoas. Ao mesmo tempo, Túrin acaba chegando à fortaleza elfica de Nargothrond. Após descobrirem o paradeiro de Túrin, sua mãe e irmã resolvem ir para lá, mas inadvertidamente revelam a localização da fortaleza a Glaurung, que então resolve fazer um espetinho de carne élfica regado a muito Power Metal.

Daí em diante, a história se resume à caçada de Glaurung a Túrin, que acaba culminando com o plano mais estúpido, corajoso e mortal já visto, o qual não vou revelar para que você, delfonauta, ainda tenha prazer ao lê-lo. Eventualmente, Túrin reencontra sua família, mas não da forma que imaginava.

The Children of Húrin é um livro acima da média, recomendado especialmente aos fãs da mitologia Tolkieniana. Entretanto, este não é um livro de Tolkien, mas apenas baseado nas notas deixadas por ele. Diferente de O Silmarillion, O Hobbit, ou dos três livros de O Senhor dos Anéis, não existem descrições longas e enfadonhas ou músicas e poesias cantadas, o que torna sua leitura bem rápida, apesar do inglês altamente complexo do autor. Na verdade, ler Tolkien em sua língua original é ótimo, e relativamente fácil se você já tem experiência no idioma, apesar de não dispensar um bom dicionário. É provável que não entendesse nada se, ao invés de ler, tivesse de ouvir alguém narrando a história, devido à gramática nem um pouco coloquial utilizada. O livro também traz as excelentes pinturas e gravuras de Alan Lee, retratando os eventos descritos, que se estivessem em papel tamanho A3 ou A2 poderiam ser emolduradas sem qualquer arrependimento. Justamente por não ser um livro de Tolkien, apenas baseado em notas não terminadas, fica um gosto de quero mais com um final abrupto, impedindo-o de alcançar a nota máxima.

Mas se você é versado nas artes arcanas da língua britânica, recomendo o livro como uma ótima peça de literatura para colocar na estante do quarto, que não deve faltar a nenhum tolkienmaníaco. Aproveite e clique no link da Amazon alí do lado direito para ir ao site e pedir sua cópia. 😉