System of a Down em São Paulo (1/10/2011)

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Agora que o “hype” já passou, vamos falar um pouco de System of a Down.

Sim, eu podia ter escrito esta resenha antes. Mas era tanto papo sobre Rock in Rio, declarações lamentáveis de músicos brasileiros, sepultamento de bandas, atrasos e vaias que eu sabia que o primeiro show do System of a Down no Brasil passaria despercebido.

E passou mesmo. Vi poucas resenhas a respeito, poucos comentários, enfim, só vi caboclo falando do in Rio. Acredito que eu mesma não conseguiria escrever um texto sem fazer comparações com o bendito festival.

Mas como escrever uma resenha de um show que todo mundo viu passar na televisão? Sim, pois o show foi o mesmo (se não me engano, apenas uma música a mais em SP), incluindo efeitos de iluminação, brincadeiras com a platéia, caras do Serj e dancinhas do Daron. Resolvi falar então, do que fez a diferença.

COMO IR ATÉ O SHOW?

Resumo do drama: Uma semana antes do show, tínhamos uma guia até a Chácara do Jockey. Na véspera, não tínhamos mais.

Após uma viagem com direito a Glee no mudo e sanduichinho com xarope gaseificado, fomos recebidos em solo Guarulhense por um amigão, que nos deu teto, carinho, comida e passeio.

Estávamos sob o tal do teto, bolando milhões de planos de como ir e, principalmente, voltar, quando o telefone tocou e fomos abençoados pelo Vento Preto! Tínhamos não só nossa guia de volta, como ela conseguiu carona até o local do show! Obrigado, Deus Metal! Sabia que não abandonarias teus fiéis seguidores, mesmo o New Metal não sendo aprovado pelos teus seguidores ortodoxos. Sacrificarei 30 bodes a mais em minhas celebrações mensais, durante um ano, em honra a ti! (espero que o Homero me dê um desconto o.o)

Nesta história de carona, conhecemos mais duas pessoas super supimpas (porque gírias do arco da velha são do balacobaco), que além da carona nos acompanharam durante o bronzeamento natural na fila e durante o show. Aliás, recomendo às peruas de plantão. Sua pele bronzeada naturalmente em questão de algumas horas. Um luxo!

LÁ DENTRO

A Chácara do Jockey é realmente um lugar interessante. Do lado de dentro. Se bem aproveitado. O lugar é longe e quebramos a cabeça para pensar em meios de chegar lá utilizando o transporte público. Até conseguimos pensar em algumas rotas para a ida, mas a volta era terrivelmente prejudicada pela falta de linhas de metrô e ônibus no horário em que prevíamos o término do show. Entendeu agora a alegria de conseguir carona?

Mas devo dizer, a organização soube aproveitar o espaço. Não conhecia a produtora XYZ Live até então, mas tive uma ótima impressão logo de cara. Foram eles que trouxeram Red Hot Chili Peppers uma semana antes, e fizeram questão de mostrar isso a todo mundo nos telões, como uma palhinha do que eram capazes de organizar.

Os dois campos de futebol foram cercados por várias tendas e pelo palco. As tendas eram consideravelmente grandes e eram sinalizadas por placas indicando lanchonetes, caixas (para trocar dinheiro por tickets), bares, atendimento médico e ponto de venda oficial. Ao menos três de cada. O palco era enorme, e os telões tinham uma ótima definição.

A estrutura era realmente impressionante. Os banheiros químicos foram posicionados em complexos fora da pista, e muito bem sinalizados por placas altas e de fácil visualização. As placas indicando as saídas seguiam a mesma lógica.

Além das tendas, havia vários quiosques da patrocinadora cercando a plateia. A distância entre cada um foi claramente calculada para não forçar o público a andar muito e não gerar muitas filas.

Estávamos atirados no pó de uma São Paulo sem ver a chuva já há alguns dias, quando bateu a fome. Então fomos testar se o atendimento era tão bom quanto parecia. A fila no caixa andou rápido e fomos surpreendidos por um cardápio no mínimo inusitado para um show. Podíamos escolher entre hambúrguer (aquele de microondas), uma tal de carne louca (carne cozida desfiada, com molho e pimenta no pão, segundo os nativos), cachorro-quente, (e agora começa a loucura) yakisoba, temaki e… FONDUE. Sim, você leu direito. Não, eu não estava alcoolizada, sei bem o que eu li. Ainda estou tentando imaginar como se come fondue de pé em um show. Hum….

Panças devidamente cheias, fomos nos posicionar em algum lugar onde os telões fossem visíveis. Não, não tinha esperança de chegar perto do palco. Por quê? Bem, tinha cerca de umas 25 mil cabeças no local. O povo já estava muito bem compactado e, veja só, tinha uma maldita pista VIP ocupando um baita espaço na frente do palco!

EVIL MONKEY

A banda de abertura era a Macaco Bong, de Cuiabá – MT. Um power trio instrumental, que toca um rock deveras interessante. Eles mesmos se declaram inspirados pelo System Of A Down, e realmente, o som é semelhante. Não tenho como dizer que eles são parecidos com qualquer outra banda, porque só conheci as músicas apresentadas naquele dia, e também porque achei o trabalho deles muito característico. Enfim, gostei.

Momento “pensamento delfonauta”: pasme, amigo delfonauta, mas existem Trües no chamado “New Metal” também. Eles fizeram o adorável favor de vaiar, ofender, mostrar dedos nada delicados, e pedir para a banda de abertura se retirar do Hall de formas nada simpáticas. Pergunto: adianta? A banda de abertura pode até se render e sair mais cedo do palco (o que não foi o caso), mas a banda headline não vai subir ao palco antes da hora, muito menos por motivos esdrúxulos como esse.

SYSTEM OF A DOWN

Voltando. Aproximadamente às 22h a platéia foi pega, no susto, pelo primeiro acorde de Prison Song. Eram eles, Serj Tankian, Daron Malakian, Shavo Odadjian e John Dolmayan, fazendo o chão tremer com uma roda punk (ou bate-cabeça) generalizada. Cabe uma observação aqui. Todos estavam num empurra-empurra tranquilo (bem, você entendeu), sem agressões ou falta de respeito. Até que uma mulher resolveu que seria legal sair batendo em todo mundo. Dela eu ganhei dois socos no pescoço e o Gustavo cinco marcas de unha no braço. Ainda tive que olhar para trás e a ver fazendo cara de triunfo, como se a m*rda feita fosse digna de louros. Sério, tem gente que devia ser proibida de nascer!

Passado o desconforto inicial, o show seguiu sem pausas para respirar. O povo conseguiu descansar um pouco durante Soldier Side, Lonely Day, Lost in Hollywood e na hora do discurso do Serj precedendo War?. A banda emendou uma música na outra, sem pausa pra suspense de bis. E o público cantou o tempo inteiro.

Os pontos altos do show foram, obviamente, as músicas mais conhecidas no Brasil, ou seja, as que mais tocaram nas rádios e que, por consequência atraíram vários fãs para a banda. Foram elas, Aerials e Chop Suey!. Mas o mais supimpa foi ver que o fã de SOAD não se atém ao que toca na rádio, cantando incansavelmente todas as músicas. Principalmente clássicos como Innervision, Sugar e Suite-Pee.

A banda executou tudo com maestria, sem erros. E, mesmo assim, não soava artificial, como uma tentativa de perfeição de estúdio. Aquilo era pura sinergia entre os integrantes da banda, que pareciam muito felizes com as reações do público. Nem parece que ficaram quatro anos em hiato.

O público foi presenteado com uma poeira desgraçada que subia toda vez que uma roda se abria, duas pancadas de chuva leve (só pra dar o “grude” do barro no corpo), e a sensação de que poderia morrer feliz, ali mesmo!

Uma hora e cinquenta minutos depois, o show terminou, deixando uma multidão atordoada, quase sem voz, ainda não acreditando no que acabou de ver e prestes a tomar um banho de chuva de verdade.

Este show foi perfeito. Delfiano Supremo. Mas não só pelo desempenho da banda, e pela participação do público (como costumo avaliar). Muito dessa perfeição se deve à organização e infraestrutura do evento. Vai ser difícil outro show superar este.

AGRADECIMENTOS

Já agradeci, mas devo agradecer novamente pela hospitalidade e paciência do meu grande amigo Bruno e sua família. À Natália, por ser a nossa guia oficial, e por ter nos apresentando o Fernando e o Guilherme. Aos três por terem sido ótimas companhias pré, durante e pós-show. E, claro, à minha amigona Helga e sua família pela ótima recepção (churrasco e sorvete… nhami)!

CURIOSIDADES

– Uma maldita camiseta oficial custava 80 Dilmas.
– Um maldito moleton oficial custava 200 Dilmas.
– Fiquei sem lembrancinha do show.
– Quatro dias sem voz! (iei!)
– O temaki vinha acompanhado de uma bolinha de wasabi.
– Pedi um cachorro-quente. Estava previamente montado, em uma caixinha de plástico e quentinho. Pois é, mundo estranho esse!
– Você já acordou de ressaca, sem ter posto uma gota de álcool na boca no dia anterior? Foi assim que acordamos no domingo. o.O

SETLIST

1.Prison
2.Soldier Side – Intro
3.B.Y.O.B.
4.Revenga
5.Needles
6.Deer Dance
7.Radio/Video
8.Hypnotize
9.Question!
10.Suggestions
11.Psycho
12.Chop Suey!
13.Lonely Day
14.Bounce
15.Kill Rock ‘n Roll
16.Lost in Hollywood
17.Forest
18.Science
19.Mind
20.Innervision
21.Holy Mountains
22.Aerials
23.Vicinity of Obscenity
24.Tentative
25.Cigaro
26.Suite-Pee
27.War?
28.Toxicity
29.Sugar

Galeria

 

 

 

 

 

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
system-of-a-down-em-sao-paulo-1102011Data: Primeiro de outubro de 2011<br> Local: Chácara do Jockey<br> Cidade: São Paulo<br> Credito do Artigo: contato@delfos.jor.br<br> Credito da Foto: Fernando Monteiro Oliveira<br>