A primeira coisa que eu pensei ao rodar Superhot foi: “peraí, isso é o menu? Que coisa bizarra!”. A interface do jogo lembra DOS, algo com o qual a maior parte dos gamers de hoje sequer teve contato. E não, não me refiro a jogos de DOS, mas ao próprio DOS. E tem um monte de opções bizarras ainda, coisas como games e artes em ASCII.
Tem um motivo para ser assim. Na história do jogo, você é um hacker que tem acesso a um jogo secreto, que não demora para se mostrar mais do que um jogo. Você não deveria estar jogando, mas não consegue parar, e tudo é desenvolvido a partir daí.
SUPERHOT!
Eu já tinha ouvido falar bastante do jogo quando ele saiu para as outras plataformas, mas finalmente tive a oportunidade de experimentar por conta própria agora que ele saiu para PS4. São dois jogos separados, mas no PS4 eles podem ser comprados como um conjunto.
Trata-se do Superhot original, e da sua “continuação”, Superhot VR. Os dois, claro, seguem a mesma excelente ideia, e compartilham da sua apresentação, digamos, exótica.
A ideia em questão é que o tempo só passa quando você se move. Isso significa que você tem tempo para pensar em como escapar das balas ou em quem atirar primeiro. Desta forma, embora seja basicamente um shooter, o ato de jogá-lo o aproxima de um jogo de estratégia, onde qualquer movimento impulsivo pode levar a você a ter um doloroso pipoco implantado no crânio.
O lado ruim é que ele não segue as próprias regras. Uma forma mais justa de explicar seu funcionamento é que o tempo passa em velocidade normal quando você se move, mas quando está parado, ele passa devagarinho. Assim, não pense que tem todo o tempo do mundo para pensar em como desviar do tiro de uma escopeta, pois se bobear, vai morrer enquanto pensa, como um bom filósofo.
O legal é que, ao completar a fase, você pode assistir a tudo que fez nela sem as pausas, e se sentir um verdadeiro herói de ação.
SUPERHOT! SUPERHOT!
O audiovisual é algo que vai dividir opiniões. Algumas pessoas vão achar estiloso em sua simplicidade, enquanto outras podem achar feio e chato. A verdade é que visualmente ele lembra bastante uma versão em duas cores dos primeiros jogos a utilizarem gráficos poligonais, como Virtua Racing ou Star Fox. O som também é estranho, especialmente a voz que repete Superhot ao final de cada missão.
Outra coisa estranha é que você não tem a menor ideia de progressão. Claro, as fases vêm uma depois da outra, mas a história não deixa claro quão próximo você está de terminar o jogo. Ele simplesmente termina uma hora. E os troféus estão bugados, o que significa que para algumas pessoas – tipo eu – o troféu de terminar o jogo não destravou mesmo depois de os créditos rolarem.
SUPERHOT! SUPERHOT! SUPERHOT! VR!
O jogo em 2D é mais interessante do que propriamente bom. Ele é divertido e tem uma ideia com grande potencial, mas que não é desenvolvida com grande profundidade. Superhot VR, por outro lado, é animal. Parece que o jogo foi originalmente pensado para VR desde o início.
Eu tinha dúvidas se seria uma versão do mesmo jogo, como Dying: Reborn, ou se seria algo como uma sala de desafio. Mas não, Superhot VR é um jogo completo, com uma nova campanha, e ele funciona bem melhor em realidade virtual. Em especial, a dinâmica “o tempo só passa quando você se move” ganha novos contornos quando você realmente se move.
A gente não percebe como é raro ficarmos totalmente parados, então em VR é bem difícil que o tempo se estacione. Você acaba pensando bastante em cada movimento seu, especialmente no início de cada uma das fases, quando costuma estar desarmado e tem que olhar em volta para procurar algo para se defender.
O jogo funciona um pouco diferente também. Se na versão 2D, cada fase é um checkpoint, aqui só rola checkpoints depois de várias telas. Isso foi uma péssima ideia, e se torna o principal defeito da versão VR. É bem frustrante voltar cinco ou seis fases porque você se mexeu quando não devia.
Se isso é um inconveniente na maior parte do jogo, se torna um grandessíssimo defeito na última fase. Para você ter uma ideia, o jogo durou três horas para mim. Dessas horas, 90 minutos foi apenas no último checkpoint. Quando finalmente consegui passar, a empolgação com o jogo já tinha se tornado raiva.
VR! VR! VR!
Esta fase se torna tão difícil porque depende de coisas que os controles simplesmente não dão conta. Por exemplo, quando sua munição acaba ou você está desarmado, pode pegar objetos do cenário e arremessá-los nos inimigos.
Na tela acima, por exemplo, você começa desarmado com três sujeitos atirando na sua direção. A ideia é pegar um dos objetos pretos e arremessar num dos vermelhinhos, o que faz ele jogar a arma em sua direção e possibilita que você os bang-bangueie com carinho.
O problema é que os controles não são precisos o suficiente, e é comum seu arremesso passar alto demais ou entre os caboclos. Além disso, tem hora que o jogo coloca armas nos seus pés, mas o tracking da câmera não chega até lá, deixando claro que o jogo foi desenvolvido para VRs de computador, que são mais potentes, e não foi adaptado para o PS VR como deveria.
Uma coisa que merece ser destacada na versão VR são os troféus. Se você já jogou PS VR, sabe que as notificações de troféus não são visíveis para o jogador. Superhot VR resolve isso fazendo um post-it cair do céu com um desenho e o nome do troféu. É bem divertido, especialmente porque o post-it é automaticamente colado no hub.
SUPER – AH, JÁ SABE O RESTO, NÉ?
Se você tem todo o equipamento necessário, eu sugiro comprar o pacote com as duas versões do jogo e começar pela 2D. A VR é mais legal, mas também é mais difícil e mais complexa.
Ambos os jogos têm suas falhas e não dá para negar que poderiam ser mais bonitos, mas ainda assim mostram a importância de uma boa ideia nos games. São jogos simplesmente únicos e, especialmente em VR, vão fazer você se sentir o próprio Neo desviando de balas.