Este ano a franquia Star Trek completa 50 anos de existência (o primeiro episódio da série clássica foi ao ar em oito de setembro de 1966) e a data não poderia passar em branco. Tivemos o anúncio de uma nova série televisiva, Star Trek: Discovery, com previsão de estreia para o ano que vem. E claro, a estreia do terceiro longa pós reboot, Star Trek: Sem Fronteiras, tema da resenha de hoje.
O novo filme marca o primeiro desde a reinvenção a não ser capitaneado por J.J. Abrams, que foi dirigir uma outra aventura espacial, esta passada há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante. Em seu lugar, entrou Justin Lin, famoso por alguns dos filmes de Velozes e Furiosos. Já o roteiro desta vez ficou a cargo do próprio Scotty, Simon Pegg, nerd e fã de carteirinha da série, que o assina ao lado de Doug Jung.
ESPAÇO, A FRONTEIRA FINAL
A tripulação se encontra na metade de sua missão de cinco anos para explorar novos planetas e descobrir novas civilizações quando recebe um pedido de socorro e ruma para um setor não mapeado do espaço em uma operação de resgate, quando se depara com um novo e poderoso inimigo, Krall (Idris Elba), que representará um novo desafio para a turminha da Enterprise.
A troca de diretores inegavelmente sopra um novo frescor estilístico para a cinessérie. Justin Lin, além de não usar os flares tão adorados por J.J. Abrams, também opta por muitas vezes se utilizar de ângulos de câmera inusitados, principalmente nas cenas de ação, o que torna esses momentos deveras marcantes.
Também tive a impressão de que, visualmente, este filme é muito mais bonito que os dois anteriores. Bastante colorido e caprichado, os efeitos visuais estão uma beleza. Tanto o visual do planeta onde se passa grande parte da história como o da gigantesca estação espacial também bastante importante para a narrativa são de cair o queixo, e o fato da cabine ter sido realizada numa sala Imax ajudou a deixar tudo ainda mais impressionante.
Sem Fronteiras também acrescenta um tiquinho do lado mais explorador (principalmente no começo) que sempre caracterizou a marca e que havia sido deixado de lado em prol da ação desenfreada desde o reboot, algo que sempre desagradou os fãs mais puristas. Ainda é pouco e não vai fazer a alegria do pessoal mais roots, mas mostra que há espaço para crescimento deste elemento mais de exploração e diplomacia em produções futuras, com capacidade para equilíbrio com a adrenalina introduzida desde a produção de 2009.
As correrias, tiroteios, porradas e explosões continuam a dominar o grosso da narrativa, e como já disse, estão muito bem realizadas. Talvez a grande sacada do roteiro tenha sido em determinado momento dividir a tripulação em duplas não tão óbvias, o que gera um bom desenvolvimento da dinâmica entre os personagens. Por exemplo, aqui finalmente o Dr. McCoy e Spock começam a desenvolver uma relação de amizade mais profunda e próxima do que eles tinham na série original e nos filmes estrelados pela tripulação clássica.
ESTAS SÃO AS VIAGENS DA NAVE ESTELAR ENTERPRISE
Todo mundo sabe que o universo trekker sofreu duas grandes perdas recentes. A primeira, a de Leonard Nimoy, o eterno Spock original. O longa dá um desfecho para o seu Spock Prime que havia aparecido nos dois longas anteriores e ainda apresenta um momento capaz de deixar todo fã com um baita sorriso no rosto.
A segunda foi a morte do jovem Anton Yelchin em um acidente bizarro alguns meses atrás. O talentoso ator tinha apenas 27 anos e fará muita falta. No entanto, sua despedida da franquia é bem bacana, pois diferente de Além da Escuridão, aqui o empolgado Chekov tem bastante tempo de tela. Os produtores já disseram que não pretendem substituir o ator em novas produções, mas caso eles mudem de ideia e o troquem por outra pessoa ou simplesmente aposentem o personagem, a interpretação de Yelchin certamente fará falta.
Apesar de todas as coisas boas, o longa apresenta algumas coisas que não me agradaram. A primeira é que se trata de uma história totalmente independente, autocontida, que lembra muito um episódio esticado da série televisiva. Por um lado, pode ser bom para neófitos, que podem assistir apenas este filme isoladamente numa boa. Mas por outro, fica a sensação de que não só ele é mais descartável, com uma história não tão impactante, como poderia render uma trama com mais consequências, mais ligações.
Por exemplo: no longa anterior, a tripulação entra em território klingon, o que poderia ser considerado uma declaração de guerra caso fossem avistados por lá. E é óbvio que eles são interceptados pela bélica raça alienígena. Seria de se supor que as consequências desse ato poderiam render a trama do filme seguinte, mas não é isso que acontece e este fato sequer é mencionado.
Será que ele ainda será utilizado num próximo filme e realmente preferiram fazer algo mais standalone neste ou simplesmente se esqueceram completamente disso? O tempo dirá.
Outra coisa que não ficou muito boa foi o vilão. O Krall de Idris Elba é muito raso, não tem qualquer motivação, ou pelo menos uma que faça sentido. Isso me incomodou durante grande parte da projeção. Apenas no terceiro ato, demasiadamente tarde, o roteiro joga uma luz sobre quem ele é e porque está atacando todo mundo, e continua não fazendo o menor sentido.
O vilão fraco, acrescido à trama independente, ajudam a passar essa sensação de episódio de “inimigo da semana”, ao invés de uma história centrada na mitologia da série, como os dois anteriores.
Ainda assim, a qualidade geral da produção como um todo é bem alta e o fator divertimento não decai, nem mesmo com esses “poréns”. A série continua com a mesma boa pegada desde seu reboot, tornando-se uma das franquias mais competentes dos blockbusters atuais (ainda que um pouco mais do clima sci-fi puro que tanto caracterizou a marca não fizesse mal). Acompanhar as viagens da tripulação da nave estelar Enterprise continua sendo um excelente divertimento.
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