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Antes de mais nada, em nome da boa e velha honestidade com o público, devo dizer que não sou um trekker. Aliás, pior que isso, devo admitir a extrema vergonha de meu currículo nerd: eu nunca assisti a um Star Trek antes. Claro, sei algumas coisas da franquia, afinal, referências a ela estão presentes em quase tudo na cultura pop. Eu sei da “vida longa e próspera”, do destino cruel de qualquer um que vista uma camisa vermelha e algumas outras coisas, porém, apesar disso, a resenha abaixo é a opinião de um novato.
APERTA O RESET AÍ. OU NÃO!
Esta resetada na franquia é, ao mesmo tempo, uma preqüência e um recomeço. O delfonauta dedicado já sabe que Leonard Nimoy aparece no papel de um Spock mais velho, vindo do futuro. Assim, em determinado momento, é explicado que a história foi mudada e que tudo que aconteceu antes pode não mais acontecer. Porém, também existem dicas de que nada mudou e que tudo prosseguirá normalmente. Nesse caso, seria apenas uma prequência, não um reboot.
Seja como for, aqui acompanhamos a origem de todos aqueles personagens tão importantes para a cultura pop como um todo. Uhura, Spock, Sulu e, claro, o Kirk estão todos lá, em versão mais jovem e, acredito eu, mais bem-humoradas.
HUMOR
O humor é uma arma utilizada frequentemente por aqui, não apenas pela presença do comediante Simon Pegg, mas pelo climão geral da história, que é deveras divertido. Não chega a ter a macheza necessária para ser classificado como um Testosterona Total, mas todas as outras características estão lá, até mesmo o cafagonista Kirk, que não deixa de xavecar as moçoilas nem quando está tão doente que mal consegue ficar de pé.
Lembra do Episódio I de Star Wars, naquele momento “Obi-wan Kenobi, meet Anakin Skywalker”? Ele é forte porque você sabe a importância que a relação entre esses dois personagens terá para o universo. Pois este novo Star Trek é repleto de momentos assim. Kirk e Uhura, Kirk e Spock e tantos outros primeiros encontros sem dúvida tornar-se-ão memoráveis na nossa fantasiosa mente nerd. Admito que uma lágrima saiu dos meus olhos quando o Spock velho encontrou o Kirk e, quando este perguntou quem era o outro, o vulcano respondeu “eu fui e sempre serei seu amigo”. São momentos assim que constroem uma boa história!
STAR WARS X STAR TREK
Quando assisti àquele preview do filme, disse que o climão mais despretensioso me lembrou Star Wars, porém assistindo ao filme inteiro, mudei de ideia. Sim, o filme é um divertidíssimo entretenimento, mas é bem diferente de Star Wars pelo simples fato de que, ao contrário do que todos pregam, a franquia de George Lucas não é ficção científica, mas uma fantasia, cheia de seres mágicos, misticismo e, principalmente, tudo acontecendo em um mundo que não é o nosso.
Star Trek não é uma fantasia. Aqui sim, é tudo científico, não existem poderes, apenas máquinas, e os humanos vieram da Terra mesmo e não de lugares fantásticos como Coruscant. E isso o diferencia completamente de Star Wars, mesmo ambos estando agora no mesmo patamar de cinema como diversão pura e simples (pode ser ignorância minha, mas na minha cabeça, Star Trek era muito mais sério e sisudo do que está nesse reboot).
PARTE TÉCNICA
Essa diferença fantasia X ciência também se faz presente na excelente trilha sonora, composta por Michael Giacchino (e eu achava esse cara super limitado por causa da repetitiva e sem graça trilha de Lost), que consegue, de alguma forma, transmitir o deslumbramento pela ciência sem cair no jeitão mágico imortalizado por John Williams (que deixa com clima mágico até mesmo trilhas como a de O Terminal). O uso de alguns Rocks e músicas terrenas também ajudam no estabelecimento de que “esse é nosso mundo no futuro”, não um lugar mágico de outra dimensão.
Ainda sobre a música, Star Trek não se destaca apenas na composição, mas no excelente uso da trilha e, especialmente, na ausência dela. Tem alguns momentos de silêncio absoluto que são simplesmente geniais.
PONTOS NEGATIVOS
O uso de som foi só um dos aspectos em que o diretor J.J. Abrams mandou bem. O cara me surpreendeu com uma direção precisa e estilosa, além de excelentes efeitos especiais sem nunca esquecer que os atores são mais importantes (lição que o tio Lucas deveria aprender). Porém, Jotaponto Jotaponto Abraões peca em um aspecto vital: a forma escolhida para filmar a ação, com uma tremedeira tão absurda que faz com que algumas cenas se resumam a borrões se movendo na tela. Big mistake, senhor Jotaponto!
Outra característica de longa data na franquia (conforme me explicou o Fry, do Futurama) é aquele esquema de um caboclo explicar algo cientificamente e, logo em seguida, um outro sacripanta complementar a explicação de forma facilmente compreendida por leigos. Ok, uma ou duas vezes pode até ser engraçado, mas o troço é meio exagerado por aqui. Tem uma cena em que eles chegam a usar esse artifício umas três vezes. Isso é uma ofensa à inteligência do espectador. Afinal de contas, não é como se eles estivessem falando de conhecimentos avançados de física quântica. São, se tanto, conhecimentos básicos de física quântica. =P
NO FINAL DAS CONTAS…
Star Trek – O Treco das Estrelas é maior legal. Trata-se de um filme deveras tremendão e potencialmente o mais divertido do ano. Não acho que possa me considerar um Trekker depois de ter assistido apenas a este, mas ele indubitavelmente despertou um sentimento de curiosidade em relação ao passado da franquia. E tenho certeza que estarei contando os dias para o próximo quando a inevitável sequência for anunciada. Que este reinício divertidão tenha uma vida longa e próspera!
CURIOSIDADES:
– Dá uma olhada na ficha técnica aí do lado. Não é estranho ver tanta gente de Lost reunido em um outro projeto?
– Todo mundo lembra do William Shatner como o eterno Capitão Kirk, mas para mim ele é o eterno Big Giant Head. E se você não sabe quem é Big Giant Head, eu não quero mais ser seu amigo. =P
– Por falar no Cafa Kirk, ele chega a pegar uma ruiva neste filme. Só que é uma ruiva de pele verde. Hum… ruivas de pele verde com sorvete de menta…