Spider-Man: Shattered Dimensions

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Spider Man: Shattered Dimensions foi um game do Aranha que surgiu meio que de repente e, com sua inusitada premissa, conseguiu despertar a curiosidade de muita gente, inclusive deste que vos escreve.

Vejamos, a primeira notícia do game a sair aqui no DELFOS foi esta aqui, no final de março. Agora o jogo já foi lançado e, após me entreter com ele por cerca de 10 horas, venho até você para dizer se toda aquela curiosidade e hype valeram a pena. Então chega de papo furado e vamos nessa!

QUATRO ARANHAS, UMA HISTÓRIA

Conforme você já deve estar cansado de saber, o grande diferencial do jogo é que nele você controla quatro versões diferentes do Amigão da Vizinhança. São elas:

– O Amazing Spider-Man tradicional (representando o presente);

– O Ultimate Spider-Man, que é uma versão um pouco mais jovem do Aranha em um presente alternativo. Nela, o herói utiliza a sempre legalzuda roupa-simbionte que outrora foi do Venom.

– O Spider-Man Noir, que é uma versão do Aranha em um passado alternativo que tem todo um clima de máfia e alto-contraste tipicamente Sin City.

– O Spider-Man 2099, cujo nome já deixa evidente que ele vive em uma versão altamente high tech do futuro.

Para misturar todos esses Aranhas em um jogo só, o pessoal da Beenox seguiu o caminho mais clichê e prático possível: um artefato místico. No caso, a Tábua da Ordem e do Caos. Já no vídeo de abertura, vemos o vilão cabeça-de-aquário Mysterio roubando a tal Tábua de um museu. Aí o Aranha aparece, eles brigam, a tal Tábua quebra e… bom, como uma imagem vale mais do que mil palavras, confira abaixo o vídeo de abertura que resume a treta multidimensional. Destaque para a narração sempre tremendona de ninguém menos que Stan Lee, o vovô que todo mundo gostaria de ter!

É óbvio que cada pedaço perdido da pedra foi encontrado por muitos dos antagonistas do Homem-Aranha. Abutre, Homem-Areia, Carnificina e Kraven estão entre os clássicos, enquanto Juggernaut e Deadpool são algumas das participações mais extravagantes. No geral, todos acabam esbarrando e (mais obviamente ainda) utilizando tais fragmentos em benefício próprio.

“AMAZING” GRÁFICOS

Várias vezes eu já disse em notícias de games que não sou fã de gráficos no estilo cel shaded. Para quem não sabe, tal técnica consiste em fazer computação gráfica parecer desenhada à mão.

Bom, eu não gostava até ver Spider-Man: Shattered Dimensions rodando lindamente na pintudice de um televisor Full HD. Sem exagero, o jogo é lindo! O cel shaded foi empregado da maneira mais competente possível, e ver o Homem-Aranha da dimensão Amazing em ação foi a coisa mais próxima de uma HQ em movimento que eu já vi.

Antigamente, os games que utilizavam esta técnica de renderização eram meio “grossos”, com traços inconstantes e desproporcionais que deixavam tudo com uma aparência meio suja. Mas este jogo não sofre deste mal. O traço do cel shaded é finíssimo, como se alguém tivesse arte-finalizado a pena cada frame do jogo.

Na real, cada dimensão de Spider-Man: Shattered Dimensions apresenta um estilo de arte distinto, não é tudo cel shaded. Na Amazing é onde o efeito fica mais evidente, para ficar com cara de gibi, mesmo. O universo Ultimate também tem um pouco disso, mas o efeito é bem mais discreto, com ambientes e contornos mais realistas. Nestas realidades, as cores são super vibrantes, e certamente é na Amazing onde os fãs das HQs do Aranha terão momentos de regozijo, pois o visual é, como eu já disse, uma HQ interativa.

Na dimensão 2099 praticamente não há cel shaded. O visual é extremamente luminoso, pendendo geralmente para tons de azul-metálico, com muito neón e painéis holográficos. Por fim, a mais distinta de todas é a estilosíssima realidade Noir, que apresenta um tom meio granulado, com preto e branco em altíssimo contraste no melhor clima Sin City.

Dá para você ter uma ideia básica dos diferentes estilos visuais que o jogo assume assistindo ao vídeo abaixo:

Bonito, né? Imagine esse visual todo no glorioso formato 1080p! É de encher os olhos! Verdade seja dita, Spider-Man: Shattered Dimensions mudou os meus conceitos sobre os gráficos cel shaded. Aliás, na nossa galeria você pode ver algumas imagens que reforçam a tremendice grafica do jogo =]

SOM & HUMOR

O som é outro aspecto em que o game dá um show. As dublagens são inspiradíssimas, e as diferentes versões do Aranha têm algumas sacadas próprias geniais. A dublagem dos vilões e demais coadjuvantes também é satisfatória, bem como o som das porradas, tiros, teias, e tudo o mais que você vai ouvir no decorrer do game.

Conforme eu já disse, outro ponto extremamente positivo é a narração do mestre Stan Lee nos vídeos que desenvolvem a narrativa. Empolgado como ele só, é impossível não entrar na onda ao ouvir o seu clássico bordão “greetings, true believers!” já na primeira cena do jogo. Ele é um excelente narrador, e mesmo que propositalmente exagerado em seus diálogos, consegue fisgar o jogador pela sua empolgação e bom humor.

Aliás, este é outro ponto que merece destaque no jogo: o humor. Os Cabeças de Teia estão divertidos como nunca, soltando comentários hilários nas situações mais inusitadas! Durante os combates normais, você vai ouvi-los dizendo coisas como “pare de bater com a sua cara na minha mão”. Em um momento específico na realidade Noir, você vai acompanhar uma conversa entre alguns capangas genéricos, e um deles vai dizer algo tipo “tá vendo? É por isso que nós somos meros capangas, porque temos esse tipo de discussão estúpida”.

Nos encontros contra os chefes a coisa fica ainda mais divertida. É o Ultimate reparando que o Electro não usa calças, é o Amazing dizendo que o Kraven formou uma boy band, e muitos outros momentos cômicos. Destaque obviamente para a fase do Deadpool, que rende diálogos e situações hilárias! A fase rola num esquema tipo reality show, e até os capangas genéricos são um sarro, pois usam camisetas com “I Love Deadpool” escrito no peito! =D

Segue uma palhinha deste último encontro tremendão:

Fala sério, o trocadilho dele com webisode foi ótimo! E sim, alguns dos vídeos durante o jogo são assim, parcialmente estáticos. Mas mesmo assim eles são bem bacanas e divertidos!

JOGABILIDADE

Se esta resenha acabasse ali no tópico acima, Spider-Man: Shattered Dimensions certamente seria agraciado com o Selo Delfiano Supremo. Mas infelizmente temos mais a tratar, e a jogabilidade – que é um dos fatores mais importantes em um jogo de videogame – deixa um bocado a desejar.

Embora os momentos de pancadaria sejam até que satisfatórios, não demora para a gente perceber que os golpes do herói, independente da dimensão, são bem genéricos e parecidos. Só muda que, ao invés de um ataque com teia, o outro Aranha vai usar um tentáculo do simbionte ou um chute mais estiloso. E o pior, você também vai perceber que a jogabilidade é “copiada” de algumas franquias de sucesso: God of War e Batman: Arkham Asylum são os mais evidentes.

Isso não é necessariamente algo ruim, visto este jogo aqui, mas estranhamente neste caso, tais mecânicas funcionam muito melhor em seus games originais. Kratos e Batman são capazes de acabar com hordas de inimigos graças a seus golpes devastadores e contra-ataques tremendões. Mas com o Aranha, mesmo que seus golpes também sejam visualmente legalzões, a efetividade deles no combate não é assim tão satisfatória.

E isso é um problema, uma vez que geralmente você se verá no meio de mais de meia dúzia de inimigos de uma só vez, o que acaba gerando pancadarias onde o bom e velho button mashing domina. Se o Aranha tivesse um esquema de contra-ataque e ataques multidirecionais, como o Batman em seu primoroso game, as coisas seriam bem melhores.

A jogabilidade da dimensão Noir, então, é totalmente chupada do esquema furtivo do game do Batman: se esconda nas sombras e acabe com os vilões rápida e silenciosamente. Como em Arkham Asylum, esta é geralmente a melhor opção, visto que os inimigos estão fortemente armados e não hesitam em puxar o gatilho. Tais finalizações são em geral bem estilosas, mas depois de um tempo acabam perdendo seu charme.

Curiosamente, aliás, o Batman pode ficar pendurado de ponta cabeça em uma gárgula e dar cabo do inimigo dessa posição, e o Homem-Aranha, que imortalizou essa pose nos quadrinhos, não. Vai entender. =P

Outra coisa que imediatamente remete a Arkham Asylum é o Sentido Aranha. Sabe-se lá porque alguém achou que simplesmente detectar o perigo iminente não era o bastante, e resolveram que esta habilidade merecia um upgrade. O problema é que tal upgrade foi muito exagerado!

Com uma ajudinha da Madame Teia, agora além de te ajudar a se esquivar de ataques e projéteis, o Spider Sense serve também de visão de raio X, te mostrando o que há atrás das paredes, onde estão os inimigos, itens, passagens secretas e locais possíveis para se lançar teia. Já viu isso em algum lugar? Ah, claro, no “detective mode” do jogo do Cavaleiro das Trevas!

Bom, fora isso, há duas dimensões que apresentam alguma diferença: na 2099, o Aranha tem uma habilidade que deixa tudo em slow motion. Não é nada que a gente já não tenha visto antes no mundo dos games, mas só nesta dimensão você contará com tal artifício. Já o Aranha em versão Ultimate conta com uma espécie de berserk, onde o simbionte do uniforme sai de controle e permite a realização de ataques bem mais poderosos.

O vídeo abaixo é bem amador, eu sei, mas foi o único que eu achei que mostrava um pouco do gameplay de todas as quatro versões do herói.

Reparou como, independente da dimensão e do visual dos golpes, os combates sempre são “mais do mesmo”? De fato, assistir estas batalhas é quase mais legal do que jogá-las.

Ah, e tem também o lance de o jogo ficar em primeira pessoa em certos momentos. Esta é uma implementação bacana, e o visual é show, mas com o tempo você percebe que é sempre a mesma coisa: esmurrar a cara dos chefes e se esquivar dos seus ataques. Boas mesmo são as cutscenes em primeira pessoa. A que o Aranha pula por dentro de um helicóptero que o Juggernaut atirou nele é muito legal!

REPETIÇÃO…

Embora a jogabilidade não seja lá essas coisas, o que realmente matou parte da nota deste jogo foi o layout das fases. Cara, tanto faz a dimensão que você está, é tudo sempre a mesma coisa! E, considerando que o jogo tem mais de 12 fases, e cada uma dura cerca de 40 minutos para ser concluída, lá pela metade do jogo você já vai estar de saco cheio de tanta repetição.

Geralmente você começa a fase já de cara com o chefão. Às vezes você dá uns sopapos nele já de cara, às vezes não. Aí ele foge e você vai atrás, com alguns eventuais encontros no decorrer da fase. Depois surgem algumas hordas de capangas genéricos. Na seqüência, alguns inocentes precisam ser salvos. Geralmente, estes inocentes são cientistas, operários e/ou pessoas capacitadas a abrir uma porta, desligar um campo de força ou desabilitar algum tipo de barreira que obstruía seu caminho. Por fim, uma nova leva de capangas antes do embate final, no qual o boss sempre utiliza o fragmento da Tábua mística para ficar mais poderoso.

E é sempre isso. O que varia são apenas as situações. De vez em quando os inocentes estão em um prédio em chamas, noutras estão presos sob a vigília dos capangas, ou ilhados em uma plataforma longínqua. Ou o encontro com o chefe rola de alguma maneira diferenciada, dependendo de seus poderes.

Por exemplo, a fase em que você encontra o Homem-Areia é divertida por ser um pouquinho diferente. Nela, você encara um enorme tornado de areia, e deve ficar saltando pelas coisas que estão sendo sugadas para se manter vivo. Porém, mais adiante a repetição volta, e você precisa destruir caixas de água para transformar o vilão em lama. A mesma tática é usada para os capangas genéricos, que desta vez são monstrinhos de areia.

Outro que propicia alguma variação é Miguel O’Hara, o Aranha 2099. Em algumas de suas fases rolam alguns momentos “queda livre”, onde o herói se joga (ou é jogado) em uma queda vertiginosa, se valendo das membranas-asas de seu estiloso uniforme para desacelerar a queda ou desviar de obstáculos. É divertido e dá uma quebrada na mesmice.

Fora isso, o esquema de fases descrito ali em cima se repete em 90% do jogo. O que é uma pena, visto que o grande diferencial deste game é apresentar diferentes versões do Cabeça de Teia. Embora tenhamos quatro Aranhas diferentes, a jogabilidade e o layout das fases de todos eles é praticamente o mesmo, com um ou outro sopro de criatividade esparso.

VEREDICTO ARACNÍDEO

E é isso, caro delfonauta. Spider-Man: Shattered Dimensions é um jogo lindo, com quatro versões pra lá de sagazes do Amigão da Vizinhança, mas que perde seu brilho (e sua nota) por apresentar uma mecânica de jogo extremamente repetitiva. Faz tempo que o Aranha não recebe um game digno de sua tremendice, e este infelizmente não é exceção. Diverte sim, mas só por algum tempo.

O que pode interessar aos fãs é a possibilidade de destravar uniformes alternativos, conforme você progride na Web of Destiny (que nada mais é do que um sistema de conquistas in game). Cada dimensão possui três uniformes destraváveis. Entre versões clássicas que não poderiam ficar de fora, como o Aranha Escarlate, temos algumas bem inusitadas, tais como o uniforme da legalzuda minissérie assinada por Neil Gaiman, 1602, ou o esquisito modelito do Aranha da minissérie Guerra Civil.

O final é bacaninha e, caso o game tenha uma seqüência, seria bacana se a produtora Beenox aprendesse com seus erros e ousasse mais, com mais criatividade na elaboração dos estágios. Se o Bruce Wayne conseguiu emplacar um jogo tremendão e original, o Peter Parker e suas variantes também merecem!

CURIOSIDADES:

– Cada versão do Homem-Aranha é dublada por um ator que já deu voz ao personagem em alguma de suas séries animadas. O Amazing é dublado por Neil Patrick Harris, que já emprestou sua voz ao herói na animação Spider-Man: The New Animated Series, de 2003. Na versão Noir, a voz é de Christopher Daniel Barnes, que já dublou o Aranha na bem sucedida Spider-Man: The Animated Series original, de 1994.

Na dimensão 2099, o intérprete é Dan Gilvezan, que já foi o Aranha em Spider-Man and His Amazing Friends, animação do início da década de 80. Por fim, no universo Ultimate, a voz do herói pertence a Josh Keaton, que dublou o Aranha na divertida série The Spectacular Spider-Man, de 2008.

– Esta é a primeira vez que o mestre Stan Lee narra um jogo do Aranha desde Spider-Man 2: Enter Electro, que foi lançado em 2001 para o já falecido Playstation 1. Puxa, não?

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