Song of the Deep

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Existe um grupo de gamers pra lá de estranho, que costuma seguir as empresas que mais gosta, sempre dando um jeito de jogar os lançamentos dela. Eu sou uma dessas pessoas. E não duvido nada, que você, meu estimado leitor, também seja.

Se é o caso, você com certeza conhece a Insomniac, um estúdio que fazia exclusivos para Playstation, mas mais recentemente criaram o exclusivo de Xbox One Sunset Overdrive. Dentre os exclusivos da Sony, se encontram duas séries bem legais: Resistance e Ratchet & Clank. Na real, segundo a Wikipédia, o único jogo de console feito por eles que não é exclusivo é Fuse, de 2013.

Agora, mais um se junta a esta lista, mas é um joguinho bem menor, mais emocional e mais simples do que os que a gente espera dessa galera. Trata-se, claro, de Song of the Deep, um simpático Metroidvania onde você controla uma garota que vaga pelos oceanos em busca do pai desaparecido em um submarino que ela mesma construiu.

SEU NOME É PERCIVAL?

Justamente o fato de Song of the Deep se passar inteiramente a 20 mil léguas submarinas é o que dá a ele sua característica mais única. Tradicionalmente, Metroidvanias são jogos em 2D (embora haja alguns representantes do gênero em 3D, como Darksiders e Rise of the Tomb Raider), mas uma característica comum à imensa maioria deles é que são jogos de plataforma, que envolvem muitos pulos.

Aqui não há pulo. Óbvio, afinal, você é um submarino, e o gênio humano ainda não foi capaz de conceber um submarino que pule. Eu sei, porque se isso existisse eu teria um. Controlar o submarino, aliás, é bem semelhante ao controle de jogos 2D em suas eternas fases de água. Pense nas fases molhadas de Rayman Legends, e terá uma excelente ideia de como é o feel deste. Melhor ainda, se você for um gamer old-school, talvez o jogo mais parecido com Song of the Deep seja o clássico de Mega Drive Ecco the Dolphin.

Exploração e combate costumam ser os dois grandes pilares de um Metroidvania. Se clássicos recentes do gênero, como Strider e Guacamelee (ou mesmo o próprio Darksiders), se destacam por focarem bastante na ação, o prato principal de Song of the Deep é a exploração.

Ela é tipicamente Metroidvania. Você passa por várias regiões do extenso mapa e encontra várias passagens fechadas. Fatalmente, você passará por lá de novo após adquirir novas habilidades, e pode usá-las para avançar a história ou fazer uma pausa e explorar para buscar novos itens e upgrades. Inclusive, há alguns upgrades para o Submarino que são totalmente opcionais e facilmente perdíveis, então temos aqui um jogo que realmente incentiva a curiosidade.

EU SEI PARA QUE SERVEM BARRIS VERMELHOS

Song of the Deep não tem muito combate na maior parte do tempo e, quando tem, não é muito bom. Basicamente, você aperta quadrado para estender um gancho, que pode ser usado para carregar coisas, abrir portas, puxar alavancas ou, é claro, machucar inimigos. Não há combos ou golpes especiais complicados. Há alguns tipos diferentes de mísseis mas, embora eles possam ser usados no ataque, são muito mais úteis na exploração.

O pouco combate não me incomodou. Na verdade eu até gostei. Passear pelo mundo de Song of the Deep é uma experiência agradável e relaxante, o que é corroborado por sua belíssima trilha sonora que exacerba o jeitão meditativo do jogo.

Infelizmente, eu suas últimas horas ele dá uma guinada e começa a exagerar no combate, que não se torna complicado, e nem mesmo difícil, apenas longo. Nas últimas regiões, você é comumente fechado em salas e as portas só se abrem depois que matar todos os inimigos. Você mata um e outros aparecem. Repita até o jogo dizer chega. É um tremendo passo atrás em relação às primeiras horas mais contemplativas e focadas em puzzles e exploração. Como o combate se resume a mirar e apertar quadrado, acaba sendo entediante. Lembrou-me um bocado de Prince of Persia: The Sands of Time, que tem extensos e tediosos combates mesmo este claramente não sendo o ponto forte nem o foco do jogo. Seja como for, você dificilmente vai morrer nos inimigos. A maioria das suas mortes será mesmo nas armadilhas espalhadas pelo caminho.

O curioso é que, graças a Resistance, Ratchet & Clank e Sunset Overdrive, a Insomniac ficou famosa por dar ao jogador armas criativas e absurdas, além de chefes enormes e empolgantes. Em busca de novos ares, aqui ela abre mão disso para fazer seu jogo mais diferente e tranquilo. Há alguns poucos chefes, mas são todos bem simples, e basicamente se resumem a sobreviver aos inimigos normais até o chefe dar uma abertura para o ataque.

O combate é bem fácil, mas não pense que os puzzles também são tranquilos. Uma área em especial, chamada de Deep Light, tem quebra-cabeças bem complexos que envolvem o redirecionamento de luzes coloridas, e sem dúvida vai fazer seu cérebro soltar fumacinhas.

Uma coisa que vale a pena destacar é a quase total ausência de loads. Há um load considerável quando você abre o jogo (coisa de alguns minutos), mas depois disso, o jogo rola inteiro sem pausas, mesmo quando você morre ou se teleporta, o que é bem legal.

CANTANDO NO FUNDÃO

Song of the Deep é um jogo contemplativo. Mostra um lado mais artístico da Insomniac que ainda não conhecíamos, e seu tom de fábula à Peixe Grande é bem bonitinho e contribui bastante para quão gostoso é jogá-lo.

No entanto, ele se torna deveras repetitivo e um tanto entediante em suas últimas horas, quando resolve aumentar o combate até o 11. Ele também tem quedas de framerate frequentes e bastante perceptíveis, que chegam a atrapalhar o gameplay.

Assim, admito que embora tenha gostado dele, Song of the Deep não chegou a me empolgar, ou a me prender a ponto de eu não querer parar de jogar. Se você gosta da ideia de um Metroidvania mais calmo, ele traz aqui umas boas 10 horas de diversão, mas se você procura apenas por um bom Metroidvania, há opções melhores por aí.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
song-of-the-deepAno: 12 de julho de 2016 (19 de julho em versão física no Brasil)<br> Gênero: Metroidvania submarino<br> Plataforma: PS4, Xbox One e PC<br> Fabricante: Insomniac<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: Gamespot<br>