Antes de começar a ler, um aviso: esta matéria contém spoilers dos quadrinhos, que em vários aspectos (mas não todos), se assemelham à história do filme Capitão América 2: O Soldado Invernal. Caso você prefira não arriscar, pode voltar aqui depois de assistir ao filme. A gente espera. =)
Na próxima quinta-feira estreará o próximo filme da Marvel Studios, batizado de Capitão América 2: O Soldado Invernal.
Mas quem diabos é o tal do Soldado Invernal, tão importante para merecer dividir o título com o bandeiroso? Se você já se perguntou isso e está morrendo de curiosidade para saber sobre a trajetória deste personagem nas HQs, então leia esta matéria super-especial, contando a biografia deste misterioso e pintudo personagem.
Mas para conhecer sua origem, precisamos embarcar na máquina do tempo do tio Alfredo e viajar para muitos, muitos anos atrás, nos tenebrosos dias de 1943.
ROBIN PATRIOTA
Que o Capitão América foi um herói da Segunda Guerra Mundial você já sabe. Mas você sabia que, durante seus dias de glória, o Capitão era auxiliado por um assistente mirim?
O nome deste rapaz é James Buchanan Barnes, mais conhecido como Bucky. Criado pelos mesmos criadores do Capitão, Joe Simon e o lendário Jack Kirby, Bucky fez sua estreia junto com o bandeiroso, na revista Captain America Comics #1, lançada em março de 1943. A ideia original por trás do personagem era que ele fosse uma espécie de ponte entre o Capitão América e as crianças, assim o herói poderia explicar aos leitores as coisas que estavam acontecendo na época de forma mais natural.
A história de Bucky é um pouco triste. Sua mãe faleceu quando ele ainda era muito jovem e seu pai, um soldado estadunidense, morreu alguns anos mais tarde, vítima de um acidente durante um exercício de combate. Sem ninguém para criá-lo, o jovem órfão foi “adotado” pelo batalhão do pai. Acho que o Conselho Tutelar era bem mais brando nos anos 40. Foi na base deste batalhão que Bucky conheceu um tal de Steve Rogers, um atrapalhado soldado que logo se tornou um de seus amigos mais próximos. Quando os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra, Bucky foi com seus irmãos de farda para a Inglaterra.
Nessa época, Bucky tinha 15 anos e não participava dos conflitos, mas ajudava no acampamento. Seu passatempo favorito era ouvir sobre os grandes feitos de seu herói, o Capitão América. Um belo dia, o garoto entrou na tenda de Rogers e o viu tirando a máscara de Capitão América, descobrindo assim a identidade do seu ídolo. O bandeiroso pediu a seu jovem amigo para que não contasse seu segredo a ninguém e Bucky disse que aceitaria isso apenas se pudesse virar o parceiro de Steve na luta contra os nazistas. Sacana, né?
Assim, Bucky se tornou… Bucky, o parceiro mirim sem muita criatividade para codinomes. Durante os anos que se seguiram, ele lutou contra os nazistas ao lado do Capitão América e como membro dos Invasores, um grupo de super-heróis formado pela dupla bandeirosa, o príncipe Namor, os irmãos britânicos Union Jack e Spitfire, o androide Tocha Humana (que não tem relação alguma com o do Quarteto) e seu filho adotivo Centelha, um garoto flamejante da idade de Bucky que logo se tornou seu melhor amigo. Sim, delfonauta, os maiores e mais poderosos combatentes de nazistas da história da Marvel colocavam dois garotos de 15 anos para enfrentarem supervilões nazistas. Belos heróis.
Infelizmente, Bucky não pôde ver os resultados de sua luta, pois ele morreu ao tentar desarmar uma bomba lançada pelo primeiro Barão Zemo. Foi este mesmo incidente que também colocou o Capitão América no gelo.
Apesar de ter morrido na guerra, Bucky foi um elemento-chave por muito tempo nas histórias do Capitão. É que Steve se culpava pelo que havia acontecido ao seu jovem amigo, e era constantemente atormentado pelos fantasmas do passado. A coisa era tão brava que o herói quase chegou à beira de um colapso.
WINTER HAS COME
Durante os anos que se seguiram, muito autores tentaram criar um novo Bucky para auxiliar o Capitão. Os dois mais memoráveis foram Rick Jones (foi ao tentar salvar este moleque de uma explosão de bomba gama que Bruce Banner virou o Hulk) e Rikki Barnes, que era a parceira do Capitão durante a saga Heróis Renascem, que se passava numa terra alternativa. Porém, estes substitutos não duraram muito tempo.
Foi só no ano de 2004 que o roteirista Ed Brubaker, que havia acabado de sair de uma excelente fase em Gotham City Contra o Crime, conseguiu finalmente trazer Bucky de volta aos quadrinhos, no que se tornaria uma das mais aclamadas fases do Capitão América de todos os tempos. Só que não exatamente da maneira como todos imaginavam.
Aqui, descobrimos que Bucky também sobreviveu ao incidente com a bomba, mas ao invés de ficar vagando por anos no Atlântico em um bloco de gelo, ele havia sido salvo por um general soviético. Os russos conseguiram reanimar o jovem soldado e até projetaram um braço esquerdo biônico para ele, para substituir o que ele havia perdido no incidente, mas não conseguiram recuperar sua fragmentada memória.
A partir de então, Bucky comeu o pão que Mefisto amassou na mão dos soviéticos. Eles o submeteram a uma série de lavagens cerebrais para apagar o pouco de personalidade que lhe restava e treinaram-no para se tornar o Soldado Invernal, o melhor assassino do mundo.
O cara era tão pintudo que nenhuma das testemunhas de seus crimes conseguiram vê-lo, o que fez com que muitos pensassem que ele não passava de uma lenda. Por ser um operativo extremamente sigiloso, o Soldado passava anos em animação suspensa (o que conservava sua juventude), sendo despertado apenas para matar inimigos-chave da União Soviética. Mesmo com a lavagem cerebral, às vezes o cara conseguia se rebelar contra suas ordens. Foi em um destes raros momentos de quase lucidez que o cara teve um breve relacionamento amoroso com a Viúva Negra.
Porém, se tem uma coisa que você já deve ter percebido neste texto é que nada dá certo para o pobre James. Após a queda da União Soviética, o hibernante Soldado Invernal foi colocado em um simples armazém isolado do mundo, junto com vários outros brinquedinhos russos, esquecido para todo o sempre.
Bem, na verdade até o Caveira Vermelha se mancomunar com o empresário e ex-general soviético Aleksander Lukin e reativar o Soldado Invernal, ordenando o coitado a cometer assassinatos e ataques terroristas por aí. Não preciso nem dizer que, durante um desses ataques, o Capitão América aparece para salvar o dia e enfrenta o Soldado Invernal, reconhecendo sua verdadeira identidade e gerando uma nova crise de culpa, né?
Ao descobrir a verdade sobre seu amigo, Steve usa um Cubo Cósmico para ajudá-lo a recuperar sua personalidade. Mas não antes de travar uma batalha épica com ele, claro. Ao se lembrar de sua vida passada e perceber todas as coisas horríveis que fez, Bucky usa o cubo para se teleportar, mas é óbvio que nós o veríamos de novo. E é aí que a coisa começa a ficar interessante.
NASCE UM HERÓI
Após colocar a sua cabeça no lugar e entender todos os crimes que cometeu, Bucky se sentiu envergonhado de procurar Steve. Ele então procura seu velho conhecido da Segunda Guerra, Nick Fury (o grisalho, não o Samuel L. Jackson), que na época havia saído da S.H.I.E.L.D. e estava agindo por conta própria. Os dois então formam uma parceria e começam a brincar de espiões juntos. Paralelamente, todos os super-heróis dos Estados Unidos começam a se espancar por causa de uma divergência política, o que ficou conhecido como Guerra Civil.
Ao final da guerra, o Capitão América é morto com um tiro na cabeça, o que causa grande comoção em todo o mundo. E a forma como esta foi apresentada nos quadrinhos foi sensacional. Por cerca de sete meses, a revista do Capitão América não tinha sequer um Capitão América, mas todos os personagens secundários estavam tão tristes e revoltados com a morte do protagonista que parecia que alguém de verdade realmente havia morrido.
Após meses investigando a morte de Steve, Bucky acaba cruzando com Tony Stark, o diretor da S.H.I.E.L.D. à época. Stark revela a Bucky que, antes da Guerra Civil estourar, Steve havia entregado um testamento a ele, dizendo que se o pior acontecesse, Bucky deveria se tornar o próximo Capitão América. Embora relutante, o antigo Soldado Invernal resolve aceitar o fardo, contanto que pudesse fazer as coisas “do seu jeito”.
UM NOVO CAPITÃO AMÉRICA
Assim, nasceu o novo Capitão América, com um uniforme totalmente diferente, criado pelo mestre Alex Ross. Para mim, esta nova roupa é muito mais tremendona que a original. A história saiu aqui no Brasil na revista Os Novos Vingadores #61, da editora Panini.
Mas não foi só a roupa que mudou, não. Os métodos de combate de Bucky eram muito mais cautelosos e estratégicos, totalmente diferentes dos de Steve. Além disso, ele carregava uma pistola e uma faca militar em seu cinto. Ele raramente as usava para matar alguém, mas não via problemas em furar alguns membros e articulações com estas armas. E tem o carisma. De repente, um monte de gente que não curtia o Steve Rogers por ele ser sempre certinho começou a adorar o novo Capitão América.
Como Capitão América, Bucky fez imensos feitos heroicos, como recuperar o corpo do Tocha Humana (o androide) e derrotar uma aliança de vilões composta pelo Doutor Fausto, Pecado (a filha do Caveira Vermelha), e o Grande Diretor. Ele também entrou para os Novos Vingadores e os ajudou a combater o Reinado Sombrio de Norman Osborn. Ele até mesmo trouxe Steve Rogers de volta ao mundo dos vivos.
O próprio Rogers ficou tão contente com a performance de seu velho parceiro em sua ausência que disse que ele deveria continuar com o manto de Capitão América, enquanto ele agia como o novo diretor da S.H.I.E.L.D., usando a roupa que inspirou o visual no filme Capitão América 2: O Soldado Invernal
A carreira de Bucky como Capitão América acabou durante a mega (e péssima) saga A Essência do Medo, quando Pecado, a filha do Caveira Vermelha, esmagou seu peito com um martelo asgardiano do mal. Revoltado, Steve volta a usar o manto do bandeiroso.
Ao fim da série, a Viúva Negra ressuscita Bucky injetando a Fórmula do Infinito (a substância que dá a ela juventude e vigor estendidos) em seu corpo. Ao despertar, o rapaz conversa com Steve e decide que era melhor que o mundo acreditasse que ele tivesse morrido, para assim poder redimir seus pecados sem ninguém em seu encalço.
Bucky volta a assumir a identidade de Soldado Invernal e, desde então, está por aí caçando ex-agentes superpoderosos e criminosos da KGB que ainda querem dominar o mundo.
E agora você conhece um pouco mais o Soldado Invernal, o ex-assistente de herói que virou vilão e depois se tornou um dos mais aclamados heróis do universo Marvel. Não é à toa que, em meio às centenas de histórias clássicas de Steve Rogers, esta trama, com apenas 10 anos de idade, foi a escolhida para ser adaptada para as telonas.
E por falar em filme, será que o Soldado Invenal estará tão pintudo nas telonas quanto nos quadrinhos? Volte amanhã aqui no DELFOS para descobrir.
MOMENTO MAIS TREMENDÃO:
Apesar de toda a sua história ser memorável, há dois momentos particularmente tremendões na trajetória do Soldado Invernal que merecem ser destacados.
O primeiro deles ocorreu durante a Guerra Civil, em uma história intitulada Inverno de Morte. Nela, acompanhamos Bucky em sua primeira noite de Natal após recuperar a memória, relembrando de todos os momentos de sua vida passada, em especial sua amizade com Centelha. Ao mesmo tempo, ele tromba com os Jovens Vingadores e os ajuda a destruir uma base de super-terroristas. Esta é uma das histórias mais tocantes que eu já li em um gibi da Marvel e eu recomendo que você leia também. Ela foi republicada recentemente no encadernado Marvel Deluxe: Capitão América vol. 3 – A Morte do Sonho.
O outro momento aconteceu quando ele já era o Capitão América. Em uma reunião dos Novos Vingadores para discutir o que fazer com Norman Osborn, que havia subido ao poder, o Gavião Arqueiro sugere matá-lo. Todos são contra esta ideia e Clint tenta se justificar usando aquele velho argumento de “o que você faria se pudesse voltar no tempo e matar Hilter”. Bucky simplesmente responde “bem, eu matei Hitler”.
MOMENTO MENOS TREMENDÃO:
Sua morte em A Essência do Medo nº 3 foi uma coisa tão rápida e sem graça que mesmo sendo um dos meus personagens favoritos, eu sequer cheguei a sentir um mínimo de tristeza.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:
Algumas publicações tremendonaspara você conhecer mais sobre a trajetória de Bucky:
– Coleção Histórica Marvel vol. I – Capitão América
– Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel vol. 44 – Capitão América: Tempo Esgotado
– Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel vol. 45 – Capitão América: O Soldado Invernal
– Marvel Deluxe: Capitão América vol. 2 – A Ameaça Vermelha
– Marvel Deluxe: Capitão América vol. 3 – A Morte do Sonho
– Os Novos Vingadores nº 56 – 89
– Capitão América & os Vingadores Secretos nº1 – 15
– A Essência do Medo nº1-8
– Avante, Vingadores! (vol. I) nº 58 e 59