Silent Hill – Shattered Memories

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Bairro do Itaim Bibi, São Paulo, 2010. O crítico que escreve nesse momento, caro delfonauta, estava em seu horário de almoço. Vestido como de costume para os estagiários de Direito, ou seja, de terno e gravata, entrou numa conhecida lojinha que comercializa games para vários consoles. A mesma loja em que, há mais de dez anos, havia comprado o jogo que mais o aterrorizou na vida. Que surpresa teve, então, quando viu que havia saído mais um game da franquia e, além de tudo, para o seu console predileto dos últimos três anos, o PSP! Digam o que disserem, não há coisa melhor do que um videogame portátil para os estagiários de Direito, que sempre são obrigados a esperar por horas nos fóruns e cartórios. E eu como um antigo admirador da Sega, jamais teria um Nintendo DS. Tenho um emulador para jogar Super Mario no PSP e é só!

No entanto, essa não foi a única surpresa do dia! Ao começar a jogar, este ex-crítico delfiano e atual estagiário deparou-se novamente com Harry Mason e sua pequena Cheryl correndo pela (praticamente a mesma) Silent Hill de anos atrás! Ah, não podia ser verdade! Finalmente entenderam a importância destes personagens e o quão bom seria revivê-los num remake, mas jogando numa plataforma que não fosse de 32 bits e demorasse 5 minutos para abrir cada porta da cidade! Ah, sim, era verdade! Mas não era tudo, portanto, vamos ao jogo.

Harry Mason está de volta, correndo pelas ruas à procura de Cheryl. Ele está sob o seu comando. Paralelamente a isto, você está se consultando com um psicólogo que vai lhe fazendo perguntas, provavelmente depois de toda a história de terror já ter se passado. Essa é a idéia inicial que o jogo parece mostrar. As conversas com o psicólogo são determinantes para que o game se adeque à personalidade do jogador e esse é o grande trunfo de Silent Hill – Shattered Memories.

Não entendeu? Vou dar um exemplo bem claro: em um determinado momento, o psicólogo pede para você colorir uma imagem em preto e branco de uma casa com um casal na frente. É a visão que você particularmente teria de uma família. Depois de tudo colorido, quando o jogo volta ao saudoso Harry Mason, eis que ele se depara com uma casa e ela está com as cores que você pintou! Aparecem então dois personagens com as roupas da cor que você mais gosta! Não é divertido? Pois bem, o game é inteiro assim.

Se você gosta mais de física e matemática do que de história da arte, provavelmente, na Midwich High School, a porta que estará destrancada para você será a do Planetário e não a Sala de Artes, ou seja, as perguntas do psicólogo vão pautando todo o jogo. Portanto tome muito cuidado com o que você vai dizer para ele, afinal, isso também interfere na dificuldade, como algo importante deixar de aparecer no seu mapa, levando-o a ficar correndo a esmo sem saber direito aonde ir… Agora, no parágrafo seguinte, vamos ao que todos gostam na franquia: o medo.

Prepare-se para sentir muito medo, caro delfonauta. Esse jogo me deu mais arrepios que o primeirão da série e isso é até admirável, pois causar esse pavor através de uma telinha de 4,3 polegadas, a meu ver, é mais difícil do que dentro de um aparato de home-theater com uma TV de LCD de 21 polegadas para mais. Realmente, em alguns momentos quase arremessei meu PSP contra a parede, tamanho o susto que levei. Primeiro, porque você, como Harry Mason, tem um celular que fotografa coisas do além-túmulo, o que, por si só, dá um calafrio na espinha a cada foto de dead people que você tirar. Segundo, outra inovação e para o desespero do Corrales, você não tem arma nenhuma. Em nenhum momento do jogo. Que eu me lembre, nenhum tiro é disparado, nem mesmo explosões. O que é muito bom porque isso aumenta a sensação de medo e deixa o game melhor ainda! Fugir de criaturas que gritam e saem correndo atrás de você é, de fato, desesperador e torna tudo mais difícil, mas não a ponto de você querer desistir de jogar, afinal, não é toda hora que rolam essas perseguições.

A história em si, depois de terminada, ou seja, depois de muitos enigmas e muitos sustos, muitas aparições, gritos de criança e criaturas do mal te perseguindo e do sangue escorrendo pela cabeça da enfermeira Lisa e das fotos do além, deixa uma sensação de dever cumprido e de que este é o melhor Silent Hill de todos, ainda que muitos delfonautas queiram sacrificar bodes para que eu queime para sempre na referida cidade depois de ter dito isso. Exatamente porque gostei muito é que concedi a esta obra prima dos games de terror o Selo Delfiano Supremo. Porque não há game de terror como Silent Hill e não há Silent Hill tão bom quanto Shattered Memories.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
silent-hill-shattered-memoriesAno: 2010<br> Gênero: Terror<br> Plataforma: Wii, PSP, PS2<br> Fabricante: Climax<br> Versao: PSP<br> Distribuidor: Konami<br>