Os dois estão no auge da meia-idade, onde a estrada é curva e com muitas bifurcações. Não se sabe se é tarde para começar um novo caminho, ou se é cedo para pensar em terminar o velho. Miles Raymond (Paul Giamatti) e Jack (Thomas Haden Church, da sitcom Ned & Stacey) viajam por uma semana para a região vinícola da Califórnia. Jack quer uma despedida de solteiro. Miles quer se encontrar na vida. Juntos, partem em busca de suas vontades e de sete dias de pura diversão.
A insignificância de Miles, aspirante a escritor e enólogo, é transmitida de forma genial, ora nos fazendo sentir pena ora nos fazendo sentir admirado. Compreensão e perdão. Duas coisas que o personagem almeja de nós, espectadores. Com sucesso. Giamatti interpreta o infeliz e desiludido cinquentão de forma espetacular. Em algumas cenas, seus olhos dizem mais do que qualquer palavra do roteiro poderia nos dizer.
À medida que Miles prova, aprende e ensina sobre os diversos tipos de vinhos da região, seu alcoolismo vem, sutilmente, à tona. O personagem é simpático, romântico e apaixonado ao mesmo tempo em que é frustrado, melancólico e miserável. Com seus êxitos e decepções, Miles (ou, talvez, o próprio Giamatti) nos faz repensar as qualidades da vida. As boas e as ruins.
O egocentrismo de Jack pode causar raiva em uns, admiração em outros. Também em atuação brilhante, Church nos mostra um personagem vulnerável, inconseqüente, engraçado, criança, e incapaz de imaginar que seus atos possam ferir alguém. A certa altura do filme, quando chora e mostra toda sua vulnerabilidade, não é porque imagina ter ferido sua futura mulher, mas porque percebe que ele pode ficar infeliz se perdê-la.
Câmera bem posicionada, na espetacular visão do diretor Alexander Payne. Perto ou longe, com enfoque ou sem, era a própria câmera quem nos fazia sentir felicidade, tristeza, compaixão ou até raiva. Roteiro (Payne e Jim Taylor) muito bem desenvolvido, com falas inteligentes e engraçadas, e uma seqüência que, sem dúvida, prendeu a atenção da maioria dos cinéfilos.
Entre brigas e sorrisos, entre paqueras e acanhamentos, “entre umas e outras”, o diretor conseguiu passar em um filme, inúmeros sentimentos reais do ser humano. A realidade na fantasia. Payne deixou um desejo irreal de vontade de mudança, de conquista, de se ter sonhos, mas não apenas sonhar. Acima de tudo, um anseio inexplicável por um simples gole de vinho. Principalmente se for um Pinot Noir.