É fácil quebrar a cidade do Rio de Janeiro. Junte uma sexta-feira chuvosa ao trânsito caótico e nem o mais otimista dos cariocas tentará a sorte na lama ou em horas parado no trânsito. Fui nadar contra a corrente e enfrentei a verdadeira saga das 12 casas para chegar ao Circo Voador e comemorar os 30 anos de uma das maiores bandas do metal nacional: o Sepultura.
O Sepultura é uma das minhas bandas favoritas desde 2002 (se não me falha a memória). Infelizmente, só fui conferir um show deles em 2009 no extinto Canecão (em turnê com o Angra). De lá para cá, estive em todas as participações recentes no Rock in Rio e em uma abertura para o Metallica em São Paulo.
PRÉ-SHOW E MEET AND GREET
Apesar do toró, consegui chegar a tempo para o Meet and Greet. Para quem não sabe, Meet and Greet é quando os artistas atendem alguns fãs para autógrafos e fotos. A prática gera polêmica porque algumas bandas comercializam pacotes para tal. No caso deste show, os pacotes foram sorteados em algumas promoções realizadas pela produtora do evento. E como a sorte estava do meu lado…
I’ll PROVE YOU WRONG ALL THE WAY
A banda abriu com The Vatican, faixa do recente The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart, com destaque para Eloy Casagrande. Chega a ser um pouco irônico o Sepultura comemorar 30 anos com um baterista de 24, mas o Eloy dá conta do recado e mostra toda a competência, feeling e técnica necessária para suceder Igor Cavalera e Jean Dolabella.
O setlist atendeu a proposta de passar pelos 30 anos de carreira. Contemplando tanto o núcleo duro do Sepultura como Propaganda, Inner Self, Breed Apart, Dead Embryonic Cells, Attitude, Territory, Arise, Refuse/Resist, Ratamahatta e Roots Bloody Roots quanto marcos na história da banda: a primeira música composta com Derrick Green (Choke), a música que resgata a entrada de Andreas Kisser na banda (From the Past Comes the Storms) e outra para relembrar a época em que só o Paulo Jr. Da formação atual fazia parte do Sepultura (Troops of Doom).
Até mesmo os covers executados são representativos na trajetória da banda. Polícia (dos Titãs) é um clássico desde a sua inclusão na versão brasileira do Chaos A.D. e Orgasmatron (do Motörhead) ajudou a banda a ganhar notoriedade na cena internacional. Lembrando que o nome Sepultura teve inspiração em Dancing On Your Grave do próprio Motörhead. Outras músicas da fase Derrick também foram lembradas: Kairos, Convicted in Life e Sepulnation.
O Sepultura pode até sofrer com os detratores e saudosistas da fase Max Cavalera, mas o alto nível de entrega e a qualidade dos shows são inquestionáveis. Derrick, Paulo, Andreas e Eloy tocam as músicas com perfeição e carisma. O vocalista estadunidense/brasileiro por aclamação é campeão neste último quesito.
SEPULTURA UNDER MY SKIN
Durante o bis, Andreas anunciou que a banda ia tocar as três músicas escolhidas em enquete na internet: Apes of God, Necromancer e Cut-Throat. Seguida de Sepultura Under My Skin, em homenagem aos fãs que possuem tatuagens da banda. O ponto alto do show ficou por conta de Biotech is Godzilla – tocada a pedido do público – com direito a lembrança da jam com Jello Biafra, o Ratos de Porão e membros do Sepultura em 1992 no mesmo Circo Voador.
Sem sombra de dúvidas, este foi o melhor show que eu vi do Sepultura. O sentimento era de que faltava um show desses aqui no Rio. Sem desmerecer as participações no Rock in Rio em empreitadas com os franceses do Les Tambours Du Bronx e o grande Zé Ramalho (Zépultura), o Sepultura precisava voltar a caminhar sozinho pela capital fluminense.
Setlist:
1. The Vatican
2. Kairos
3. Propaganda
4. Inner Self
5. Breed Apart
6. Dead Embryonic Cells
7. Choke
8. Convicted in Life
9. Attitude
10. Troops of Doom
11. Sepulnation
12. From the Past Comes the Storms
13. Territory
14. Polícia (Titãs)
15. Orgasmatron (Motörhead)
16. Arise
17. Refuse/Resist
BIS:
18. Bestial Devastation
19. Apes of God
20. Necromancer
21. Cut-Throat
22. Sepultura Under My Skin
23. Biotech Is Godzilla
24. Ratamahatta
25. Roots Bloody Roots