Oliver Stone é um diretor que já fez muita coisa legal. Assassinos Por Natureza ou o mais recente Alexandre, por exemplo. Mas ele também já fez um monte de coisa “god bless America”, daquelas que só quem nasceu nos EUA consegue engolir, tipo W. e World Trade Center. Aliás, eu podia jurar que eu resenhei este filme, mas aparentemente a resenha foi roubada por duendes.
Seu mais novo filme até tem traços disso, especialmente no fato de que todo mexicano é vilão e todo estadunidense é bonzinho, mas vamos dar ao cara o benefício da dúvida. Até porque, se você não se importar com essa xenofobia, Selvagens é um filmão!
MÉNAGE DO CAPETA
Aqui conhecemos um trio de personagens bem interessante. A narradora é uma típica californiana dourada, e ela vive com dois caras em um ménage do capeta. Os dois caboclos são produtores de uma maconha de altíssima qualidade, mas não poderiam ser mais diferentes. Enquanto um deles é um riponga mariquinha que cuida da produção e dos negócios, o outro é um machão psicopata que cuida da parte violenta da coisa.
O paraíso no qual eles vivem será abalado quando um cartel mexicano decidir fazer uma hostile takeover no negócio dos caras. E vai ficar ainda mais complicado quando eles mandaram os mexicanos pastarem e a mocinha crocante for raptada.
O que torna este filme especial são seus personagens. A dupla principal, com suas personalidades distintas, funciona muito bem e os atores têm uma excelente química na tela. E fica ainda mais divertido quando a chefona do Cartel (Salma Hayek) apelida os dois de “Senhor Nada Pessoal” e “Senhor Caviar”.
O filme é longo, mas o seu timing é excelente, desenvolvendo muito bem o que precisa ser desenvolvido e sem gastar tempo com besteiras. A direção é estilosa e a fotografia optou por usar cores bem vibrantes, o que deixa o filme visualmente muito bonito e bastante diferente do que costumamos ver em longas com essa temática.
Tudo caminhava para um inevitável Selo Delfiano Supremo até o final. É que Selvagens tem dois finais, delfonauta. Um é bem tradicional e o outro é totalmente Romeu & Julieta. Ambos são bons e funcionam, embora o filme claramente tenha toda sua construção e desenvolvimento caminhando para este último. O problema é não ter escolhido um deles.
Caramba, um filme sério não pode ter vários finais. Uma coisa é o Quanto Mais Idiota Melhor ter o final feliz, o mega-feliz e o final Scooby-Doo. Outra totalmente diferente é um filme sobre drogas, cheio de assassinatos e violência fazer isso. É perfeitamente natural o roteiro ter dois finais e ambos serem filmados, mas o diretor e sua equipe deveriam ter escolhido um deles, e o outro poderia aparecer como extra no DVD.
Fiquei com a impressão de que o livro no qual o longa se baseia termina da forma Romeu & Julieta, mas os executivos de Hollywood acharam necessário dar um final feliz e mais palatável para o povão. Posso estar errado, talvez o livro também tenha dois finais, mas seja como for, isso não se faz, e custou a Oliver Stone seu primeiro Selo Delfiano Supremo, e eu sei que isso é uma das ambições de vida do cara.
Porém, mesmo sem o Selo Delfiano Supremo, o auspicioso delfonauta não deve perder Selvagens. É um filme que é muito bom em tudo que se propõe a fazer e há de agradar até mesmo os delfonautas que achavam que Oliver Stone nunca mais faria algo do naipe de Assassinos Por Natureza.