Scott Pilgrim Contra o Mundo

0

LEIA TAMBÉM:

Scott Pilgrim, o game: o jogo pelo qual o Corrales esperava desde que terminou Streets of Rage.
Scott Pilgrim, o gibi: o gibi pelo qual o Homero esperava desde que terminou Reino do Amanhã.

Quando eu fui assistir a Tropa de Elite 2 no cinema, uma garota que saía da seção anterior comentou com seu acompanhante algo tipo “é a realidade”. Não vi nada de muito real no filme em questão, que para mim é tão real quanto O Último Grande Herói ou Cidade de Deus. Por outro lado, em Scott Pilgrim Contra o Mundo… ah, aí sim temos a mais pura realidade. Ou pelo menos a realidade como nós, nerds, a vemos.

A história de Scott é aquela que todos conhecemos por experiência própria. Ele é baixista de uma banda e começa a sair com uma garota de cabelos coloridos. Para ficar com ela, no entanto, ele precisa derrotar os sete ex-namorados malvados da guria, exatamente como na vida real. E estava mais do que na hora de algum filme revelar esse segredo masculino para as mulheres, que até hoje ainda não entendiam porque os homens preferem as virgens.

Bom, garotas, agora vocês sabem. Dá menos trabalho e arrisca menos nossa vida. E é exatamente pelo mesmo motivo que aquele sujeito legal que sumiu do nada parou de te ligar: ele perdeu na batalha com um dos seus ex-namorados malvados e agora é moedinha.

Mas falemos do filme. Não é apenas sua história que reflete a vida como ela é, mas também a sua estética. Sabe quando toda vez que você nocauteia alguém, vem uma voz do nada gritando “K.O.”? Ou quando você vai fazer algo especialmente dramático, tudo fica em câmera lenta e com fundos cheios de traços coloridos? Pois este filme é exatamente assim. A realidade segundo os nerds.

Mas você sabe disso, não? Foi exatamente por causa dessa estética que você ficou ansiosão para este longa. Aliás, os delfonautas se dividem em dois grupos não-excludentes: os que ficaram ansiosões para Mercenários e os que piraram o cabeção no trailer de Scott Pilgrim.

E de fato, a estética compensa tudo. É única e exclusivamente por causa dela que este é um filme a ser assistido, pois, sejamos francos, não sobra muito se tirarmos as referências a música e videogames.

O maior problema é a adaptação gibi/cinema que, ao tentar ser absurdamente fiel, acaba abrindo uns rombos imensos no roteiro. O principal deles é que, na Battle of the Bands logo no início, a Ramona vê a Knives beijando o Scott na boca. Pouco depois, o Wallace (que aqui não é oriental), ameaça o Scott dizendo que vai contar para a Ramona sobre a Knives. Ora, como ela não é uma garota burra, acredito que ela já saiba, não? Isso torna a chantagem do amigo completamente sem sentido.

Mas fica ainda pior mais próximo do final, quando a poligamia do Scott se torna um major plot point. Eu fiquei com a maior cara de WTF pensando como a Ramona não deduziu que aquela garota que beijou seu homem na boca tinha algum tipo de relação romântica com o sujeito. E, mesmo que não tivesse, ela beijou o cara na boca, caramba! Isso não é algo que você deixa passar sem comentar.

Para os que não leram o gibi, na cena em questão a Ramona entra na casa de show, mas não chega a falar com a turma do Scott. Eles veem ela, mas ela não vê eles. Assim, quando a Knives beija o Scott, a Ramona não vê. Parece que eles mudaram a cena para cortar o tempo que levaria para a Ramona conhecer os amigos do Scott depois, mas esqueceram de adaptar o resto do roteiro. E ficou muito feio! Feio o suficiente para diminuir a nota.

Ainda tem outro problema nessa cena: pouco antes dela, a Knives comenta que nunca beijou um cara. Dois minutos depois, já chega beijando daquele jeito? Para um primeiro beijo, foi bem assanhadinha, né?

Uma coisa que me incomodou muito no gibi foram os personagens, mais especificamente o Scott e a Ramona. Um é um babaca, a outra é tão indiferente e “tô nem aí” que se torna chata. O filme melhora um pouco isso, mas não o suficiente para fazer a gente se importar com eles.

Mas de novo voltamos à estética. As cenas de luta são fantásticas, especialmente os efeitos dos inimigos virando moedinhas ou os fundos à Dragon Ball. A edição é frenética e estilosa, bem como os detalhes, como efeitos sonoros que aparecem escritos na tela. Infelizmente, a edição é frenética demais e muitas vezes não dá tempo suficiente para você ler o que está escrito em algumas dessas cenas.

A maioria das lutas é bem legal também, mas devo registrar a decepção com a luta contra os gêmeos. Quando aqueles monstros de laser ou o que seja aparecem, eu pensei “KCT, isso vai ser animal”. Cinco segundos depois, estava extremamente decepcionado com a luta curta e sem graça.

Lembra da luta contra o Grievous no Episódio III de Star Wars, quando ele tira os quatro sabres de luz e, dois movimentos depois, o Obi-Wan já cortou os braços dele fora? É uma sensação semelhante. Raras vezes o cinema nos leva de um hell, yeah extremo para um “ah, que decepção” tão rápido. Ainda bem, pois a única coisa mais brochante que isso é descobrir que aquela gostosona que você finalmente conseguiu pegar tem um bilau.

Outra qualidade que deve ser considerada neste filme é a beleza das mulheres. Holy fuck, é muita mulher bonita junta, delfonauta. Especialmente a Knives, a Kim e a irmã do Scott, por serem de tipos físicos completamente diferentes, iriam muito bem com batata, sanduíche e refrigerante da sua lanchonete preferida.

No final das contas, Scott Pilgrim Contra o Mundo é um filme legal, com alguns sérios problemas na parte da adaptação e que não realiza completamente seu potencial. Ainda assim, diverte e empolga em várias cenas e, como tal, merece ser visto.

CURIOSIDADES:

– O Scott Pilgrim do game aparece após os créditos.

– Embora a resenha esteja saindo hoje, dia 29, o filme só chega aos cinemas de São Paulo semana que vem. A estreia foi adiada em cima da hora e semana que vem teremos resenhas de filmes demais, então decidimos manter a resenha delfiana na data original.

– Percebeu que no tópico acima eu disse “cinemas de São Paulo”? Pois é, segundo a Paramount, a estreia será apenas em São Paulo e sairá em outras grandes cidades de acordo com o faturamento nas bilheterias paulistanas.

– Caso você não tenha deduzido pelos constantes adiamentos, este filme NÃO ia estrear nos cinemas brasileiros – e é compreensível, pois é um filme de nicho, que agrada apenas e especificamente ao NOSSO nicho. Porém, os nerds fizeram tanto barulho que a Paramount resolveu ser legal e bancar o prejuízo, só para nos agradar. Não me lembro de um estúdio de cinema fazer algo tão legal antes, então não seja um babaca! Eu sei que você era um dos que torcia para esse filme não ir direto para vídeo. Conseguimos evitar isso, então agora faça a sua parte e vá assisti-lo no cinema. Até para possibilitar que nossos colegas de outras partes do Brasil possam ter a mesma experiência que a gente. Olha lá, hein? Odin está olhando!

REVER GERAL
Nota
Artigo anteriorSaiba tudo sobre o novo CD do Motörhead
Próximo artigoVeja a primeira foto de Chris Evans como Capitão América
Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
scott-pilgrim-contra-o-mundoPaís: EUA / Reino Unido / Canadá<br> Ano: 2010<br> Gênero: Comédia<br> Roteiro: Michael Bacall e Edgar Wright<br> Elenco: Michael Cera, Alison Pill, Mark Webber, Ellen Wong, Anna Kendrick, Chris Evans, Brandon Routh e Mary Elizabeth Winstead.<br> Diretor: Edgar Wright<br> Distribuidor: Paramount<br>