ENCONTROS E DESPEDIDAS
O final dos anos 90 foi outro momento de debandada na história do Dio. Primeiro, Vinny Appice foi convidado para substituir Bill Ward no Black Sabbath. Financeiramente, a proposta era bastante interessante e ele deixou a banda no 2º semestre de 1998 para ajudar na turnê de reunião que o pioneiro do Heavy Metal organizava.
A escolha era clara, Vinny já estava familiarizado com o repertório do Black Sabbath, que tinha acabado de voltar com Ozzy Osbourne. Bill, por outro lado, teve complicações cardíacas sérias e ficou um tempo afastado das baquetas, por isso a substituição emergencial.
Para o lugar de Vinny, Ronnie contou novamente com a ajuda do veterano de AC/DC e grande amigo, Simon Wright.
Dio também atendeu aos pedidos dos fãs, deixou as mágoas de lado e pediu para Craig Goldy retornar ao grupo após mais de uma década sem qualquer comunicação com o ex-colega. A idéia era que a banda contasse agora com dois guitarristas, fazendo um som mais complexo e carregado. O problema é que Tracy G. foi pego de surpresa e não aceitou o posto de “segundo guitarrista”, já que seu “rival” sempre foi reconhecidamente um melhor músico e não se atrapalhava com os antigos solos. Após diversas discussões, Tracy saiu do Dio em junho de 1999.
Depois foi a vez do baixista Jimmy Bain ganhar uma nova chance após os diversos problemas já relatados com o alcoolismo. O músico voltou para a banda no final de 1999, mas não pôde participar de alguns shows naquele período por conta de seu tratamento e só regressou efetivamente no primeiro semestre do ano seguinte.
A banda fez algumas séries curtas de shows em junho e novembro de 1999 na Europa, mas sem novidades sobre um novo álbum de estúdio.
Enquanto rolavam as incertezas, Ronnie foi convidado por Roger Glover para participar da turnê do Deep Purple com uma orquestra. A princípio seriam apenas dois shows no Royal Albert Hall em Londres. O setlist era composto por alguns clássicos e mais alguns números da carreira solo de cada integrante. Neste ponto, Ronnie seria convidado para cantar duas músicas do projeto solo de Glover do qual participou nos anos 70 e ainda participava do bis em Smoke On The Water.
Os shows fizeram tanto sucesso que acabaram virando uma turnê mundial entre 2000 e 2001, passando por Europa, Japão e América do Sul, com três shows no Brasil, todos em São Paulo.
Para a turnê, Ronnie cantava as mesmas músicas das apresentações inglesas, mas também ganhou seu momento “solo” com uma versão matadora de Rainbow In The Dark e da mais recente Fever Dreams (que estaria no Magica, lançado durante a turnê), contando simplesmente com o Deep Purple como banda de apoio. É uma pena apenas que a orquestra não participasse da música.
Curiosamente, ainda enquanto rolavam as apresentações com o Deep Purple, o Dio soltou, sem grande alarde, um novo álbum no mercado e, para a alegria dos fãs, ele era bem legal.
MAGICA
Algum tempo atrás, em uma entrevista sobre o Metallica (na Roadie Crew de janeiro de 2009), o primeiro empresário dos caras e fundador da Metal Blade Records, Jon Zazula, disse que para uma banda com décadas na estrada, o segredo não é lançar novos álbuns matadores, porque isso será impossível frente ao que o grupo já deve ter produzido para torná-los famosos. O importante é que a banda em questão continue em ação soltando trabalhos relevantes, que honrem as raízes e tragam um ou outro elemento novo.
Ainda em 1999, Ronnie queria continuar lançando trabalhos de estúdio, mas também pensava em algum diferencial para atrair os fãs perdidos na última década. Primeiro, a idéia seria contar com dois guitarristas, como o Judas Priest e o Iron Maiden já faziam, mas isso acabou não dando certo pela saída de Tracy G.. Depois, a novidade seria compor uma trilogia de álbuns conceituais abordando a boa e velha fantasia medieval. Se isso estava funcionando para o Rhapsody, por que não funcionaria com o Dio que já tinha um largo know how no assunto?
Pensando na volta às raízes, Ronnie compôs em tempo recorde um novo álbum e o chamou de Magica, tradução italiana para o termo “Magic”, que tanto fez parte da história do vocalista. Curiosamente, o baixinho não sabia que a palavra também tinha o mesmo significado em português ou espanhol e ficou impressionado quando descobriu em entrevista para a Roadie Crew, em 2003.
Todo o trabalho de gravação e produção ocorreu entre o fim de 1999 e fevereiro de 2000. O Magica chegou às lojas em 21 de março de 2000 e foi bem recebido pelos fãs, especialmente por ser uma volta ao que o Dio sabia fazer melhor: músicas com temas fantasiosos, deixando a tecnologia dos trabalhos anteriores de lado.
Curiosamente, as letras estavam mais “dark” do que nunca. Ronnie falava sobre bruxas e magias, mas também cantava sobre desesperança e insanidade. A história acontecia no planeta Blessing que, de um mundo devastado, passa e reencontrar a esperança através do livro de Magica, trazido por alienígenas. O problema é quando estes ensinamentos caem em mãos erradas e a luta entre o bem e o mal tem início.
Sim, o livro de Magica é uma bela referência à Bíblia e ao seu poder de conceber o bem e o mal, dependendo de como você a interpreta. Ronnie seguia fascinado sobre a influência que a religião poderia exercer sobre as pessoas.
A idéia seria lançar o Magica II e III logo na seqüência, dependendo das críticas e aceitação dos fãs, mas antes, a banda sairia para shows contando com a volta de Craig como atrativo.
A turnê foi agendada entre março de 2000 e maio de 2001, intercalando com os shows com o Deep Purple e foi um sucesso. Com a entrada no novo milênio, o Heavy Metal voltou a chamar a atenção da mídia e nomes como o de Dio voltaram a ganhar destaque, assim como a volta do Iron Maiden com Bruce Dickinson, o retorno de Rob Halford ao Judas Priest e o Metallica com seu… bom, este último gigante ainda demorou alguns anos para se reerguer.
Antes de iniciar a seqüência de sua história em Magica II, Ronnie tentou organizar outra continuação, um segundo capítulo do projeto Hear ‘N’ Aid, envolvendo diversos artistas e bandas de Heavy Metal. Desta vez, o material gravado seria para ajudar uma instituição de menores de rua nos EUA chamada Children Of The Night.
Uma única música foi composta em junho de 2001: Throw Away The Children, mas devido a vários problemas burocráticos envolvendo as bandas que Ronnie gostaria de chamar, a nova versão do projeto nunca chegou a ver a luz do dia e a composição acabou indo parar no próximo trabalho de estúdio.
KILLING THE DRAGON
Para o próximo trabalho, a idéia seria um retorno às histórias do planeta Blessing, mas logo que começou a escrever o novo material, Dio percebeu que suas músicas estavam mais voltadas para o combate à tecnologia e como isso estava afetando o relacionamento entre as pessoas, do que a elementos mágicos.
A sequência de Magica ficaria para depois e o novo trabalho foi batizado de Killing The Dragon. Segundo o próprio Ronnie, o “dragão” do termo significaria os computadores dominando a vida dos seres humanos, como uma espécie de “Deus” nos ditando o que fazer e era a hora de alguém se rebelar contra este regime de escravidão. O novo álbum não seria conceitual, mas traria diversas faixas nesse contexto da luta contra a tecnologia.
Durante o processo de gravação, mais uma surpresa desagradável: alegando diferenças musicais, Craig Goldy sai da banda de novo! O escolhido para o posto foi Doug Aldrich, veterano guitarrista que já tinha passagem pelo Bad Moon Rising, Burning Rain e Lion, mas não tinha fama de ser lá muito simpático.
O álbum foi lançado em 21 de maio de 2002 e não teve uma boa recepção por parte dos fãs e crítica. Na verdade, todos esperavam pela continuação de Magica e não temas tecnológicos, que já tinham se mostrado problemáticos nos CDs dos anos 90.
Apesar dos pesares, o trabalho trouxe uma única música que acabaria se tornando um clássico instantâneo, a faixa Push. Um videoclipe para a música foi feito contando com a participação do Tenacious D, a banda do ator Jack Black. Era o início de uma amizade que duraria até o fim da vida de Ronnie.
A turnê começou em maio de 2002 e foi dividida em duas etapas: a primeira seguiu até dezembro e contou com o Deep Purple e o Scorpions como colegas de palco em shows pelos EUA e Europa.
A segunda perna da turnê começou em junho do ano seguinte em festivais de verão europeus e passou, além da Europa, por EUA e Canadá ao lado do Iron Maiden e Motörhead. Essa foi até agosto. O show em dezembro de 2002 em Nova Iorque se transformou no bom registro ao vivo em CD e DVD, Evil Or Divine, lançado dois anos depois e uma das primeiras resenhas do DELFOS. Mais uma boa amostra do poder da banda.
Em outubro de 2003, um acidente inusitado: Ronnie aparava o jardim do quintal de sua casa, quando se abaixou para pegar algo e acabou com o dedão de sua mão direita arrancado pelo cortador de gramas. Por sorte, o músico foi socorrido a tempo, teve o dedo reimplantado e nada mais grave aconteceu.
MASTER OF THE MOON
Ainda no final de 2003, Doug Aldrich foi convidado a ingressar no Whitesnake, onde continua até hoje. Boatos sobre sua saída já tinham começado no começo do ano, mas Doug foi profissional e completou a turnê com o Dio antes de trocar de ares.
Para seu lugar, Ronnie chegou a anunciar oficialmente a contratação do guitarrista Warren DeMartini do Ratt, mas logo percebeu que esta não seria uma boa opção, até mesmo pela possível reação que os fãs teriam com a novidade. Daí adivinhe quem voltou? Pois é, Craig Goldy estava de volta ao Dio pela terceira vez.
Outro que deu adeus à banda no começo de 2004 para se dedicar a outros projetos foi Jimmy Bain. Para seu posto, Ronnie queria o clássico baixista Rudy Sarzo, que já tinha tocado com Ozzy, Whitesnake e Quiet Riot. Devido a compromissos profissionais, Rudy não estava disponível para a gravação do álbum vindouro, então Dio chamou seu amigo Jeff Pilson apenas para esta tarefa e Mr. Sarzo assumiria a posição para a turnê.
O novo álbum, de novo, estava programado para ser a aguardada continuação do Magica, mas Ronnie insistia em buscar inspirações de outras fontes trazendo novamente um álbum que estava abaixo das expectativas. Master Of The Moon também não é um CD ruim, mas também não era o que se esperava de um dos maiores vocalistas da história do Rock.
Ok, uma ou outra música são inspiradas e o estilo da temática, com mais reflexões e menos fantasia, lembra a fase Sacred Heart da banda, mas se o Magica tinha funcionado e vendido bem, por que não tentar voltar para aquele caminho ao invés de insistir em coisas mais melancólicas na linha do Killing The Dragon?
A turnê do Master Of The Moon começou em 16 de julho de 2004. No começo, o setlist era composto de maneira tradicional: músicas novas mais um montão de clássicos (inclusive recebendo uma resenha extremamente positiva do DELFOS), mas conforme o tempo foi passando, exatamente um ano depois, Ronnie percebeu que talvez não fosse uma boa idéia voltar ao estúdio para gravar um álbum que não venderia bem, como aconteceu com os dois últimos lançamentos.
Contrariando as previsões, a banda Dio seguiu na estrada para comemorar os vinte e poucos anos do álbum Holy Diver (foi lançado em 1983, portanto estava com 22 anos. Achei que só o Angra gostava de comemorar datas esdrúxulas) e resolveu tocar seu maior trabalho na íntegra, juntamente com algumas músicas novas e clássicos de outras eras.
O show do dia 22 de outubro de 2005 em Londres foi registrado e acabou virando o CD e DVD Holy Diver Live, também resenhado pelo DELFOS. É um bom álbum ao vivo, com 17 grandes músicas cobrindo a carreira de Ronnie, incluindo material do Sabbath, Rainbow e, claro, muita coisa do Dio, inclusive a versão na íntegra do Holy Diver, mas infelizmente a qualidade do som é péssima e, puxa, chega a ser triste dizer, mas parece que o vocalista não estava tão inspirado no dia. Esse eu não recomendo.
Mas o que importa é que, no fim das contas, o que era para ser uma simples turnê para promover um CD novo, acabou se tornando uma bela celebração da carreira da banda Dio.
Para surpresa de todos e mostrando que o clima na banda estava bastante tranquilo após anos agitados, Doug Aldrich pediu uma pequena licença do Whitesnake e tocou em algumas datas de 2005 enquanto Craig se recuperava de uma lesão no punho.
Os shows de comemoração se estenderam por mais de dois anos, até dezembro de 2006, e esta seria a última turnê oficial do Dio. Felizmente, o show passou pelo Brasil e adivinha só, o DELFOS estava lá e o sortudo do Corrales tirou um monte de fotos.
Isso significa que nunca veremos um Magica II e III, mas calma que a história do baixinho ainda não acabou.
BLACK SABBATH: UMA NOVA ESPERANÇA
Em 2006, após bons anos, diversos shows (especialmente nos Ozzfest pelos EUA) e nenhum álbum novo, o Black Sabbath com a formação original, mais Vinny na bateria, chegava novamente a um hiato: Tony e Geezer queriam gravar um novo álbum com a banda e trabalhavam em riffs e ideias. Já Ozzy estava satisfeito com os shows cantando apenas os clássicos dos anos 70 e discos novos só saíam com sua própria banda.
Após um “tempo” no final de 2005, Geezer e Tony acharam que seria uma boa oportunidade resgatar o outro passado da banda em uma coletânea, aquele que não vinha sendo tocados nos shows (Ozzy se recusava), mas também fazia jus ao passado com excelentes trabalhos, o Black Sabbath com Ronnie James Dio.
O fato era que Tony e Geezer estavam cansados de tocar Iron Man e Paranoid todas as noites. Ozzy tinha um sério problema em se lembrar das letras das músicas, então o setlist deste retorno do Sabbath era sempre limitado aos mesmos números, show após show, e os músicos achavam que a banda representava mais do que isso.
Para o lançamento de uma coletânea, Tony e Geezer precisavam também do aval de Ronnie, que tocava sua própria banda sem maiores ambições, como já contado por aqui. A tarefa da reaproximação entre todos coube a Geezer, que nunca perdeu o contato com o baixinho desde a separação em 1992. As esposas dos dois, Gloria e Wendy, inclusive se tornaram muito amigas, então a troca de notícias e novidades era inevitável.
Em um destes telefonemas, Geezer comentou que eles pensavam em colocar no mercado uma nova coletânea do Black Sabbath, mas apenas com as músicas da fase Dio. Ronnie adorou a idéia, mas só aprovaria o projeto se todos se sentassem para conversar sobre o passado, encarar os erros que aconteceram e ainda pensassem sobre a possibilidade da gravação de uma única música inédita, para que pudesse atrair uma atenção maior dos fãs. Este último ponto é importante, pois o próprio Tony Iommi assume que existe muito pouco material não lançado da fase de Ronnie com a banda.
Todos concordaram e a reunião para lavar roupa suja aconteceu na casa de Ronnie em julho de 2006. Após os pedidos de desculpas de todas as partes, Ronnie, Tony e Geezer queriam chamar Bill Ward para a gravação da tal faixa inédita e tudo parecia caminhar para isso. Infelizmente, o baterista, após meses fazendo um baita doce, desistiu da participação por problemas de saúde e as velhas alegações de que só existia um Black Sabbath e este era com Ozzy.
No final, ainda em dezembro de 2006, Vinny Appice estava de volta ao time e o que era apenas a gravação de uma única faixa, se transformou em duas e depois três músicas inéditas. O clima entre todos estava tão bom que era a hora do anúncio da tão sonhada reunião oficial e com planos para uma turnê em 2007, o que surpreendeu muita gente, pois Ronnie deixava claro que o “retorno” à banda seria apenas para o registro das novas composições.
A coletânea se chamaria Black Sabbath: The Dio Years e saiu em abril de 2007, vendendo muito bem para esse tipo de lançamento. As três novas músicas não eram nada de excepcional, mas cumpriam sua parte em mostrar ao mundo que a banda ainda tinha, sim, lenha para queimar, para desespero e ciúmes de Ozzy, que se limitou apenas a desejar sorte a Ronnie e Tony em algumas entrevistas.
Para a turnê, no entanto, a banda não poderia se chamar “Black Sabbath”. Por algum motivo obscuro, Tony Iommi vendeu parte dos direitos sobre o nome para a família Osbourne na segunda metade dos anos 90, pouco antes da primeira reunião com Ozzy em 1997, e agora eles teriam que escolher outro nome para excursionar.
HEAVEN & HELL
A opção mais óbvia foi chamar a reunião de Heaven & Hell, uma boa alusão ao primeiro disco com essa formação, lançado em 1980, e mais uma maneira de chamar a atenção dos fãs desavisados. Aliás, essa era uma preocupação recorrente de Tony Iommi nas entrevistas. Ele temia que o público não os reconhecesse por conta da mudança súbita de nome, mas pô, Tony, com todas as fotos divulgadas e reportagens nas principais revistas, não tinha como o público se enganar, certo?
A banda esteve em turnê entre março e novembro de 2007. Em 30 de março, o show no famoso Radio City Music Hall em Nova Iorque foi gravado para um futuro lançamento em CD e DVD. Todo o setlist da turnê era formado apenas por músicas da fase Dio. A turnê foi um sucesso e passou por EUA, Canadá, vários países da Europa, Austrália, Cingapura e Japão.
O álbum ao vivo Live From Radio City Music Hall, já com o nome Heaven & Hell estampado, chegou às lojas em agosto de 2007 e mostrava uma banda entrosada e feliz com as possibilidades para o futuro. E, como não poderia deixar de ser, o DELFOS resenhou.
THE DEVIL YOU KNOW
Com o sucesso da primeira turnê de reunião, Ronnie, Geezer, Tony e Vinny não tinham dúvidas de que o próximo grande passo seria a gravação de um álbum novo de músicas inéditas. Algo que seguisse o legado da banda, sem perder a tradição sabbathiana dos riffs e temas polêmicos. Ou seja, tudo o que eles queriam era lançar um álbum relevante, não revolucionário. Exatamente como sugeria o sábio Jon Zazula para qualquer um com anos de estrada.
O novo álbum foi preparado com bastante cuidado durante todo o ano de 2008, nas casas de Tony e Ronnie. As composições teriam a tradicional atmosfera do Black Sabbath, com letras explorando o lado mais cruel do ser humano. Não é à toa que o CD se chamaria The Devil You Know (O Diabo Que Você Conhece, em uma tradução livre), sugerindo que a banda que você conhece estava de volta e, ao mesmo tempo, dando a ideia de que as letras não estavam suavizadas apesar da idade dos integrantes, na época com média de 60 anos.
Segundo Geezer, as letras levaram quatro longos meses para ficarem prontas e todos participaram ativamente do processo de composição, ao contrário dos discos anteriores, que dependiam muito de Ronnie ou do próprio baixista para esta parte. O fato é que a expectativa pelo álbum era grande, não apenas por parte dos fãs e da imprensa, mas também por parte dos próprios integrantes do Heaven & Hell, que precisavam provar para eles mesmos que ainda eram capazes de compor boas coisas.
Em maio e junho de 2008, durante um breve intervalo no trabalho de composição do The Devil You Know, Dio ressuscitou sua própria banda para 10 shows na Europa. Provando que as coisas estavam bem, o próprio Tony Iommi foi assistir à apresentação do amigo em Birmingham. Ainda nesse ínterim, o Heaven & Hell também participou de uma série de shows em agosto chamada The Metal Masters, ao lado do Judas Priest, Motörhead e Testament.
Após esta primeira etapa, já no segundo semestre, eles se trancaram em estúdio para ensaiar as novas músicas até a exaustão e finalmente gravaram as suas partes perto do final do ano. A produção ficou a cargo de Ronnie e Tony Iommi, uma parceria para que se esquecessem definitivamente dos problemas do passado.
Todo o processo, como se viu, foi bastante demorado e o álbum saiu apenas em abril de 2009, chegando ao surpreendente 8º lugar nas paradas dos EUA e atingindo boas vendas em todos os cantos do mundo.
Todas as faixas são bastante consistentes, mas o destaque vai para a controversa Bible Black, sobre um homem fanático por uma Bíblia, o que traz apenas miséria e tristeza para sua vida. Mais uma cutucada de Ronnie no catolicismo, com certeza.
Para a divulgação, a banda agendou uma nova turnê que começaria, olha só que legal, pela América do Sul, em abril, com dois shows inesquecíveis em São Paulo em maio. Esses o DELFOS não resenhou, mas nós todos estávamos lá. A turnê ainda passou pela Europa e EUA até agosto. Tudo correu muito bem a não ser por algumas pequenas dores de estômago que Ronnie sentia entre os shows.
SURGE O MAIOR INIMIGO DE RONNIE
A turnê ao lado do Heaven & Hell se encerrou em 29 de agosto, com um show em Atlantic City nos EUA. Esta seria a última apresentação ao vivo da carreira de Ronnie James Dio, mas até então ninguém sabia o que o futuro reservava.
Ainda em agosto, Wendy enviou um e-mail à imprensa desmentindo que o Black Sabbath V.2 estaria se separando novamente. Segundo o comunicado, eles apenas dariam um tempo no 2º semestre para que Tony Iommi pudesse finalmente operar a sua mão, após passar um ano inteiro tomando antiinflamatórios. Era uma operação simples, e os fãs não tinham com o que se preocupar. Neste meio tempo, Ronnie reuniria sua própria banda para uma pequena turnê em novembro e dezembro nos EUA e Inglaterra e, para o começo de 2010, o Heaven & Hell estaria junto novamente para mais shows e, quem sabe, um álbum novo.
Na sequência, Tony deu uma entrevista para o Boston Herald (traduzida no Whiplash), esclarecendo que o Heaven & Hell até pensava em incluir algumas músicas da fase Ozzy em suas apresentações futuras, mas que tudo seria decidido após as “férias”, apenas no ano seguinte. Segundo ele, todos terminaram a turnê motivados.
Os meses seguintes foram de bastante calmaria na vida de Ronnie. O vocalista tirou merecidos dias de descanso ao lado de sua esposa e aproveitou para agendar uma consulta para investigar mais a fundo as dores de estômago que, aos poucos, foram se tornando mais fortes e constantes. Enquanto isso, ele se dedicava a escrever páginas de sua biografia e fazer os preparativos para os shows do Dio que ocorreriam em novembro.
Já em novembro, no entanto, veio o prenúncio de que alguma coisa não estava bem: todos os shows da turnê do Dio foram cancelados sem reagendamento de datas (coisa rara quando nos lembramos do profissionalismo do baixinho) e Ronnie teve de ser hospitalizado às pressas no dia 18. Durante uma semana, os fãs ficaram apreensivos e sem maiores informações sobre o estado de saúde do vocalista. Claro que boatos logo começaram a aparecer com as teorias mais pessimistas possíveis.
Em 26 de novembro, Wendy confirmou: Ronnie fora diagnosticado com um princípio de câncer no estômago e começaria imediatamente o tratamento de quimioterapia, o que o deixaria afastado dos palcos por algum tempo. O tom da notícia era otimista e indicava que, com a doença descoberta ainda em seu início, as chances de cura seriam maiores.
A BATALHA FINAL
O otimismo era aceitável, mas a situação em si bastante preocupante. Para você, que não é médico e nem tem grandes conhecimentos sobre o assunto, a quimioterapia é uma forma de tratamento na qual se injeta um coquetel de compostos químicos bastante fortes no corpo do paciente por via oral, veias, músculos, espinha dorsal ou pele; em que as células cancerígenas são bombardeadas e destruídas para que não se multipliquem em nossos corpos.
O tratamento em si é simples e, na maioria das vezes, eficiente. O problema são os efeitos colaterais que causam, especialmente em pessoas que já entraram na 3ª idade e têm um organismo mais sensível. Tais reações podem variar desde as mais comuns, como a perda de cabelo, passando por dores pelo corpo, indigestão e falta completa de apetite. A pessoa simplesmente não consegue mais se alimentar, dado o enjôo sentido após as sessões.
Claro que uma boa alimentação é fundamental para que o paciente consiga suportar todo o tratamento e não enfraqueça. Esse era exatamente o problema de Ronnie: ele não era mais um jovem, já estava – oficialmente – com 67 anos quando começou a administrar os medicamentos.
No começo, todas as notícias divulgadas eram animadoras e na base do “câncer, vou te cobrir de porrada” e “vou matar este dragão”. Ronnie esperava estar 100% para shows a partir de junho de 2010 e o Heaven and Hell agendou apresentações para diversos festivais de verão europeus, entre eles o Sonisphere em Praga, que contaria também com a histórica reunião do “Big Four” do Thrash Metal.
Até abril, as previsões davam conta que o Heaven and Hell realmente voltaria logo para a estrada e o próprio Ronnie aparecia em alguns vídeos para animar os fãs. A partir de maio, infelizmente, o rumo das notícias se inverteu. No dia quatro, a banda emitiu um comunicado informando o cancelamento dos shows nos meses seguintes, porque “Ronnie não estava bem o suficiente”. Nada se falava sobre um adiamento dessas datas ou algum sinal de que as coisas ficariam melhores e, novamente, os fãs ficaram apreensivos.
No dia 16 de maio, um domingo, após vários boatos no dia anterior, vem a notícia que ninguém gostaria de saber: às 7:45 hs da manhã, Ronnie James Dio faleceu ao lado de sua esposa e de seus melhores amigos.
Nada até hoje na história da música pesada pôde se comparar às manifestações de solidariedade que se seguiram após a notícia mais triste que o Heavy Metal já teve. Músicos de bandas tão díspares deixaram suas mensagens de solidariedade, relembraram momentos com o vocalista e a importância que ele teve como influência em suas carreiras.
Em poucos dias, integrantes e ex-integrantes de bandas como Metallica, Iron Maiden, Judas Priest, Anthrax, Exodus, Deep Purple, Ozzy Osbourne (o próprio), Lizzy Borden, Accept, UDO, King Diamond, Queen, Van Halen, Girlschool, Motörhead, Rage Against The Machine, Kiss, Blaze, Ritchie Blackmore, Savatage, Circle II Circle, Yngwie Malmsteen, Primal Fear, Tenacius D, Helloween, Gamma Ray, Arch Enemy, Slayer, Megadeth, Pantera, Smashing Pumpkins, Guns ´n´ Roses, Obituary, Mötley Crüe, Impellitteri, Iced Earth, Kilswitch Engage, Redemption, Korn, Triumph, Slipknot, Annihilator, Saxon, Trivium, Manowar, Doro, Alice In Chains, AC/DC, Fozzy, Loudness, os brasileiros do Sepultura, Angra e Shaman, entre tantos outros, deram depoimentos emocionados sobre como Ronnie mudou a história da música pesada para sempre e fizeram diversas homenagens em seus shows.
Estes são apenas alguns exemplos da importância que esse artista teve dentro do Rock, em geral, e de como sua morte mexeu com a vida de todos os envolvidos com o Heavy Metal.
Mais do que isso, Ronnie foi um dos primeiros artistas do meio a adotar de fato o termo Heavy Metal como seu estilo. Muitas das bandas dos anos 70, incluindo aí o próprio Black Sabbath na fase Ozzy, não gostavam da expressão, pois achavam que não tinha nada de musical aí.
O maior medo de qualquer ser humano quando sua hora se aproxima é o esquecimento de sua obra após a passagem para o outro lado. Será que as futuras gerações se lembrarão de quem eu fui? Do que eu fiz? Antigos reis deixavam obras faraônicas para a posteridade para que, assim, seus nomes sempre fossem mencionados. No caso de Ronnie, após uma vida com mais de 50 anos dedicados exclusivamente ao Rock ‘n’ Roll e não apenas acompanhando as tendências, mas ajudando a forjar o estilo, incorporando elementos de fantasia na música e levando os fãs a refletirem um pouco, seja sobre a vida, seja sobre o que queremos para nosso futuro, tenho certeza absoluta de que Ronald James Padavona, o garoto baixinho de Cortland, atingiu a sua imortalidade.
Muito obrigado, Dio!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Tapio´s Ronnie James Dio Pages – http://www.dio.net
Ronnie James Dio Site – http://www.ronniejamesdiosite.com/
The History Of Ronnie James Dio – http://hem.passagen.se/diomagic/Dioarticle.htm
Whiplash.net – http://www.whiplash.com.br
Wikipedia – http://www.wikipedia.com
Black Sabbath: Doom Let It Loose: An Illustrated History – Martin Popoff – ECW Press (2006)
Sabbath Bloody Sabbath: The Battle For Black Sabbath – Garry Sharpe-Young – Zonda Books (2006)
Dio: Light Beyond The Black – Martin Popoff – Metal Blade (2006)
I am Ozzy – Ozzy Osbourne e Chris Ayres – Grand Central Publishing (2010)
PS: Para quem ainda não se tocou e perdeu algumas das matérias desse especial, leia todas elas clicando aí embaixo em “Especial Dio”. Agradecemos a todos pela leitura e esperamos que tenham gostado desta série de matérias.